domingo, 12 de junho de 2016

BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO


BEM-AVENTURADOS OS PUROS
DE CORAÇÃO
Quando Jesus pregava as beatitudes, usava uma linguagem expressiva, cheia de exemplos e comparações, para tornar os ensinamentos acessíveis a todos, mesmo aos mais simples e incultos. Para mostrar o caminho da pureza, indispensável para que o homem se liberte gradualmente dos instintos e apegos próprios dos estágios menos evoluídos, comparava os puros às crianças, e aos pequeninos, pois os que a eles se assemelham são os que entrarão no Reino de Deus, ou seja, na Espiritualidade superior.

Como definir a pureza de coração? Entende-se que ela se confunde com a simplicidade e a humildade, excluindo todo pensamento de egoísmo e orgulho, sendo a infância símbolo dessa pureza. Mas aí surge a questão para os espíritas, que a partir do princípio da reencarnação sabem que a criança é um Espírito que pode trazer ao renascer na vida corpórea as imperfeições de que não se livrou nas existências anteriores. Entenda-se que a alusão refere-se ao fato de que a criança, ao iniciar a sua jornada existencial, não manifesta ainda tendências perversas, assim considerando-se a comparação de pureza à infância como simples semelhança.

A sabedoria da Criação revela-se nos mecanismos de renovação que assinalam a vinda de uma criança ao cenário planetário, onde tem mais uma oportunidade de evoluir e purificar-se. Aproximando-se o momento da reencarnação, o Espírito perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, permanecendo durante um certo período numa espécie de sono, com suas faculdades em estado latente. Esse estado transitório, segundo Kardec, é necessário para que o Espírito tenha um novo ponto de partida, esquecendo-se em sua nova existencia terrena de tudo que lhe pudesse servir de estorvo ao recomeçar a jornada, embora retenha de forma intuitiva as experiências anteriormente adquiridas. Daí, poder-se afirmar que, nos primeiros anos, o Espírito é realmente criança, revestindo-se da roupagem da inocência, símbolo da pureza e da simplicidade.

Para acentuar o caráter de evolução moral intrínseco ao processo de purificação, estende-se o conceito além da mera realização de atos maus. Mesmo os pensamentos impuros, produto da mente inquieta e sem rumo, revelam o estágio espiritual involuído. Daí a afirmação evangélica de que todo aquele que olhar para uma mulher cobiçando-a, já adulterou com ela no seu coração. Entenda-se aí adultério num sentido mais extenso, para designar o mal. A medida que a alma avança na via espiritual valendo-se do seu livre arbítrio para escolher o bem, purifica-se não só eliminando os maus atos mas também os maus pensamentos.

A verdadeira pureza não é, assim, apenas uma questão ritual, conforme as antigas leis e tradições religiosas, que preceituavam inúmeros atos simbólicos, como a lavagem das mãos antes de uma refeição. Sem condenar a prática dos rituais, que no seu devido contexto histórico podiam expressar um conteúdo positivo de obediência incondicional aos mandamentos divinos, bem como da manipulação positiva de energias desde que direcionadas para o bem, critica o Evangelho o desprezo da verdadeira essência dos preceitos religiosos.

Assim deve ser entendida a apóstrofe do Cristo: "não é o que entra pela boca que faz imundo o homem, mas o que sai da boca é que o torna imundo". A lavagem das mãos em si não podia representar a purificação, embora muitos judeus, negligenciando os verdadeiros mandamentos de Deus, apegavam-se apenas às regras exteriores. Com isso, esqueciam-se do Salmo 24 que diz: "Quem subirá ao monte do Senhor" Aquele que tem as mãos inocentes e o coração puro".

Ao longo dos séculos, os ensinamentos e diretrizes emanados dos circulos superiores da espiritualidade, através dos avatares, profetas e missionários da luz, foram muitas vezes substituídos por máximas e ordenações humanas, o que aconteceu com muitos judeus e, depois, com inúmeros que se diziam cristãos. A finalidade da religião é conduzir o homem a Deus, o que ele só consegue trilhando o caminho da perfeição. Não é suficiente, pois, ter as aparências da pureza: necessário, antes de tudo, é ter a pureza do coração.

Nessa mesma linha, condena-se o escândalo não só como ação que choca a moral ou as conveniências de modo ostensivo. Muitos temem o ruído do escândalo, pensando que se as suas torpezas fossem ignoradas isto bastaria para tranqüilizar suas consciências. Esses são "sepulcros caiados de branco por fora, mas cheios de podridão por dentro".

A expressão evangélica "se vossa mão vos serve de causa de escândalo, cortai-a" obviamente não pode ser tomada em sentido literal mas significa que é necessário destruir em nós as causas do escândalo, ou seja, o mal. É necessário arrancar do coração todo sentimento impuro, toda tendência viciosa. A força desse conceito, de que a prática do bem está acima até da integridade física, expressa-se na mensagem mediúnica do Cura d'Ars que, invocado para assistir uma pessoa cega, aconselha esta a pedir primeiro a cura da alma doente antes das enfermidades do corpo, dizendo ser preferível a cegueira a enxergar imagens menos puras e menos suaves. Quem sabe se ela mesma, antes de reencarnar, pedira como expiação a cegueira pois a vista poderia ter sido a causa da sua queda:

Um Espírito Protetor ditava: "Se tiverdes amor, tereis colocado vossos tesouros onde nem a traça nem a ferrugem poderão atingi-los e vereis desaparecer insensivelmente de vossa alma tudo o que lhe possa manchar a pureza".

Baruch Ben Ari

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