Bem-Aventurados os Puros de Coração
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Pecado: 4.1. Visão de Conjunto; 4.2. Adultério; 4.3. Pensamento. 5. Escândalo: 5.1. Sentido Vulgar e Evangélico; 5.2. Cortar a Mão. 6. Crianças: 6.1. A Criança como Símbolo; 6.2. Esquecimento do Passado; 6.3. Pureza de Coração. 7. Conclusão. 8. Bibliografia.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é mostrar que o bem-estar após o sofrimento só é possível pela pureza de coração. Pretendemos, assim, analisar o pecado, o escândalo e o deixar vir a mim os pequeninos.
2. CONCEITO
Bem-Aventurança - Termo técnico para indicar uma forma literária que se encontra quer no Antigo quer no Novo Testamento. A Bem-Aventurança é uma declaração de bênção com base em uma virtude ou na boa sorte. A fórmula se inicia com "bem-aventurado aquele..." Com Jesus toma a forma de um paradoxo: a bem-aventurança não é proclamada em virtude de uma boa sorte, mas exatamente em virtude de uma má sorte: pobreza, fome, dor, perseguição. (Mackenzie, 1984)
Puro – Sem mistura nem alteração; genuíno. Límpido, claro, transparente, cristalino, sem manchas.
Coração – Órgão central do ser humano é tomado como símbolo – e não, certamente, como sede efetiva – das funções intelectuais. Na maioria das religiões é o local da atividade divina. Na Bíblia, a palavra coração é empregada uma dezena de vezes para designar o órgão corporal, mas há mais de mil exemplos nos quais é metafórico. (Chevalier, 1998)
3. HISTÓRICO
O momento histórico deste ensinamento está no Sermão do Monte, proferido por Jesus há dois mil anos. Para uma melhor compreensão, não só deste ensinamento como de tantos outros, convém nos lembrarmos de que o ambiente no qual Jesus esteve inserido fazia parte do grande império romano, que estendia as asas das suas águias do Atlântico ao Índico. O jugo romano, porém, pesava de modo especial sobre a Palestina ao contrário dos outros povos. Significa dizer que o discurso de Jesus era como que um grito de alerta contra esse poderio. Assim sendo, em cada um de seus ensinamentos não perdia a oportunidade de realçar esse tipo de autoridade externa, principalmente na indigência com que deixavam o povo palestino.
4. PECADO
4.1. VISÃO DE CONJUNTO
Pecado - do lat. peccatum significa transgressão de preceito religioso. Entende-se também como uma tomada de consciência do mal ou uma violação voluntária e livre da ordem estabelecida por Deus. Uma vez cometido o pecado, há necessidade de apagar essa mancha. Para tal mister, cada época tem a sua forma peculiar. Na antigüidade, por exemplo, o pecado era a violação de um tabu; para apagá-lo, havia a necessidade de uma confissão pública. Só que essa confissão não era expiação, reparação, mas libertação. No âmbito do cristianismo, Paulo falava da fé e da graça como sendo o cerne da doutrina cristã, o único remédio para o pecado. A grande inovação introduzida pelo cristianismo na história da idéia de pecado foi o conceito de pecado original. O termo "pecado original" foi criado por Santo Agostinho, provavelmente em 397, para designar o estado de pecado em que o homem vive, em conseqüência da sua origem, enquanto membro de uma raça pecadora; posteriormente, o termo alargou-se ao pecado de Adão, primeiro pai da Humanidade. (Enciclopédia Einaudi)
4.2. ADULTÉRIO
Jesus não se reporta à sua significação própria — infidelidade conjugal, prevaricação —, mas ao seu sentido mais amplo, ou seja, a todo o tipo de adulteração do ser humano. Nesse sentido, comete adultério aquele que maquia o seu automóvel para ter lucro, aquele que mente para obter vantagens, aquele que nega a própria consciência frente a verdade dos fatos.
4.3. PENSAMENTO
O adultério está ligado ao pecado por pensamento. E por quê? Porque tudo se inicia no pensamento. Nós não podemos fazer nada sem que antes tenhamos pensado para executá-lo. Assim sendo, melhorando o pensamento, melhora-se também a ação. "Em resumo, na pessoa que não concebe mesmo o pensamento do mal, o progresso está realizado; naquela a quem vem esse pensamento mas o repele, o progresso está em vias de se cumprir; naquela, enfim, que tem esse pensamento e nele se compraz, o mal está ainda com toda a sua força; numa, o trabalho está feito, na outra está por fazer. Deus, que é justo, considera todas essas diferenças na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem". (Kardec, 1984, p. 116)
5. ESCÂNDALO
5.1. SENTIDO VULGAR E EVANGÉLICO
No sentido vulgar, escândalo - do grego scandalon = tropeço, pedra em que se tropeça, se diz de toda a ação que choca com a moral ou decência de um modo ostensivo. O escândalo não está na ação em si mesma, mas no reflexo que ela pode ter. A palavra escândalo implica sempre a idéia de uma certa explosão de comentários. Tenta-se evitar o escândalo no sentido de diminuir os comentários desairosos que daí advém. A medida da gravidade do escândalo se acha na sua força indutora e não na gravidade da falta cometida.
No sentido evangélico, a acepção é mais geral. Não é mais somente o que ofende a consciência de outrem, é tudo o que resulta dos vícios e das imperfeições dos homens, toda reação má de indivíduo para indivíduo, com ou sem repercussão. É o resultado efetivo do mal moral.
5.2. CORTAR A MÃO
"Se vossa mão ou vosso pé vos é um motivo de escândalo, cortai-os e atirai-os longe de vós; é bem melhor para vós que entreis na vida não tendo senão um pé ou uma só mão, do que terdes dois e serdes lançados no fogo eterno. E se vosso olho vos é motivo de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de vós; é melhor para vós que entreis na vida não tendo senão uj olho, que terdes os dois e serdes precipitados no fogo do inferno". (Mateus, cap. XVIII, v. de 6 a 11. – Cap. V, v. 29 e 30)
Seria absurdo tomar essa frase ao pé da letra. O que Jesus queria dizer com isso é que devemos arrancar o mal pela raiz, pois se não o fizermos ele sempre reaparecerá em nossos atos. Além do mais, esse mal deve ser extirpado do coração, ponto central de todo o nosso sentimento. Ainda: valeria mais ao homem renascer sem uma das mãos ou ser privado da visão, caso esses órgãos fossem prejudicar o seu progresso espiritual.
6. CRIANÇAS
6.1. A CRIANÇA COMO SÍMBOLO
Criança - do lat. creantis - significa ser humano de pouca idade, menino ou menina; párvulo; pessoa ingênua, infantil. A criança é símbolo de inocência, de simplicidade natural, de espontaneidade. O Espírito é sempre Espírito. Ele passa pela fase infantil, mas continua sendo Espírito, ou seja: traz dentro de si as boas ou más qualidades de outras vidas.
6.2. ESQUECIMENTO DO PASSADO
O esquecimento do passado, dádiva divina que nos permite começar sempre do zero, auxilia-nos a compreender melhor a fase infantil. Observe que, pouco a pouco, esse Espírito vai recobrando o seu verdadeiro estado emocional e intelectual. Assim sendo, a infância é um tempo de repouso para o Espírito. Não podendo manifestar as suas tendências, principalmente as más, em virtude da debilidade do corpo físico, este período torna-o acessível aos conselhos daqueles que devem fazê-lo progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências.
6.3. PUREZA DE CORAÇÃO
A criança é um símbolo de pureza de coração. Significa dizer que a entrada no reino de Deus é decorrente da simplicidade e da humildade do Espírito. Nesse sentido, os estados de franqueza, as ações ingênuas e as atitudes de obediência auxiliar-nos-ão eficazmente na percepção das leis naturais. O reino de Deus não vem com aparências externas, ele é fruto de um árduo trabalho de reformulação interior.
7. CONCLUSÃO
A pureza de coração deve ser o principal alvo daquele que quer se elevar espiritualmente. Assemelhando-nos à criança, inocente e sem defesas, teremos maiores possibilidades de não só nos conhecer como também ao nosso próximo.
8. BIBLIOGRAFIA
CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998.
GIL, F. (Editor). Enciclopedia Einaudi. Lisboa, Imprensa Nacional, 1985-1991.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
MACKENZIE, J. L. (S. J.) Dicionário Bíblico. São Paulo, Edições Paulinas, 1984.
São Paulo, abril de 2002
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