domingo, 12 de junho de 2016
O PENSAMENTO NA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA - Elio Mollo
http://www.aeradoespirito.net/EstudosEM/O_PENSAM_CODIF_ESPIR.html
O PENSAMENTO
NA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA
IN O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Item V da Introdução: “Em certos casos, as respostas revelam tal cunho de sabedoria, de profundeza e de oportunidade; exprimem pensamentos tão elevados, tão sublimes, que não podem emanar senão de uma Inteligência superior, impregnada da mais pura moralidade.”
Item XIII da Introdução: “Os Espíritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo.”
Item XIV da Introdução: “Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento, porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.”
11 Um dia será permitido ao homem compreender o mistério da Divindade?
-- Quando seu Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e, pela sua perfeição, estiver mais próximo de Deus, então o verá e o compreenderá.
Nota de A. Kardec: A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o homem O confunde muitas vezes com a criatura, da qual lhe atribui as imperfeições; mas, à medida que o senso moral nele se desenvolve, seu pensamento compreende melhor o fundo das coisas e ele faz uma idéia de Deus mais justa e mais conforme ao seu entendimento, embora sempre incompleta.
26 Pode-se conceber o Espírito sem a matéria e a matéria sem o Espírito?
-- Pode-se, sem dúvida, pelo pensamento.
Nota de A. Kardec à resposta da questão 71: A inteligência é uma faculdade especial, própria de certas classes de seres orgânicos, aos quais dá, com o pensamento, a vontade de agir, a consciência de sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecer relações com o mundo exterior e de prover as suas necessidades.
89 Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço?
-- Sim; porém, rápido como o pensamento.
89 a O pensamento não é a própria alma que se transporta?
-- Quando o pensamento está em algum lugar, a alma está também, uma vez que é a alma que pensa. O PENSAMENTO É UM ATRIBUTO DA ALMA.
VI ESCALA ESPÍRITA
100. OBSERVAÇÕES PRELIMINARES. A classificação dos Espíritos funda-se no seu grau de desenvolvimento, nas qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram. Esta classificação nada tem de absoluta: nenhuma categoria apresenta caráter bem definido, a não ser no conjunto: de um grau a outro a transição é insensível, pois, nos limites, as diferenças se apagam, como nos reinos da Natureza, nas cores do arco-íris ou ainda nos diferentes períodos da vida humana. Pode-se, portanto, formar um número maior ou menor de classes, de acordo com a maneira por que se considerar o assunto. Acontece o mesmo que em todos os sistemas de classificação científica: os sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a inteligência; mas, sejam como forem, nada alteram quanto à substância da Ciência. Os Espíritos, interpelados sobre isto, puderam, pois, variar quanto ao número das categorias, sem maiores conseqüências. Houve quem se apegasse a esta contradição aparente, sem refletir que eles não dão nenhuma importância ao que é puramente convencional. Para eles O PENSAMENTO É TUDO: deixam-nos os problemas da forma, da escolha dos termos, das classificações, em uma palavra, dos sistemas.
282. Como os Espíritos se comunicam entre si?
-- Eles se vêem e se compreendem; a palavra é material: é o reflexo da faculdade espiritual. O fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante; é o veículo de transmissão do pensamento, como o ar é para vós o veículo do som. Uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos, permitindo aos Espíritos corresponderem-se de um mundo a outro.
388. Os encontros que se dão algumas vezes entre certas pessoas, e que se atribuem ao acaso, não seriam o efeito de uma espécie de relações simpáticas?
-- Há, entre os seres pensantes, ligações que ainda não conheceis. O magnetismo é a bússola dessa ciência, que mais tarde compreendereis melhor.
TRANSMISSÃO OCULTA DO PENSAMENTO
419. Qual a razão por que a idéia de uma descoberta, por exemplo, surge ao mesmo tempo em muitos pontos?
-- Já dissemos que, durante o sono, os Espíritos se comunicam entre si. Pois bem, quando o corpo desperta, o Espírito se recorda do que aprendeu, e o homem julga ter inventado. Assim, muitos podem encontrar a mesma coisa ao mesmo tempo. Quando dizeis que uma idéia está no ar, fazeis uma figura mais exata do que pensais; cada um contribui, sem o suspeitar, para propagá-la.
Nota de A. Kardec: Nosso Espírito revela assim, muitas vezes, a outros Espíritos, e à nossa revelia, aquilo que constitui o objeto das nossas preocupações de vigília.
420. Os Espíritos podem comunicar-se, se o corpo estiver completamente acordado?
-- O Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa: ele irradia em todo o seu redor; eis porque poderá comunicar-se com outros Espíritos, mesmo no estado de vigília, embora o faça mais dificilmente.
421. Por que duas pessoas, perfeitamente despertas, têm muitas vezes, instantaneamente, o mesmo pensamento?
-- São dois Espíritos simpáticos que se comunicam e vêem reciprocamente os seus pensamentos, mesmo quando não dormem.
Nota de A. Kardec: Há entre os Espíritos afins uma comunicação de pensamentos permitindo que duas pessoas se vejam e se compreendam sem a necessidade dos signos exteriores da linguagem. Poderia dizer-se que elas falam a linguagem dos Espíritos.
437. Sendo a alma que se transporta, como pode o sonâmbulo experimentar no corpo as sensações de calor ou de frio do lugar em que se encontra a sua alma, às vezes bem longe do corpo?
-- A alma não deixou inteiramente o corpo; permanece sempre ligada a ele pelo laço que os une, e é esse laço o condutor das sensações. Quando duas pessoas se correspondem entre uma cidade e outra, por meio da eletricidade, é esta o laço entre os seus pensamentos; é graças a esta que elas se comunicam, como se estivessem uma ao lado da outra.
Nono parágrafo da questão 455 sobre o resumo teórico do sonambulismo, do êxtase a da dupla vista: No estado de desprendimento em que se encontra o Espírito do sonâmbulo, entra ele em comunicação mais fácil com os outros Espíritos, encarnados ou não. Essa comunicação se estabelece pelo contato dos fluidos que compõem o perispírito e servem de transmissão ao pensamento, como o fio à eletricidade. O sonâmbulo não tem, pois, necessidade de que o pensamento seja articulado através da palavra: ele o sente e adivinha; é isso que o torna eminentemente impressionável e acessível às influências da atmosfera moral em que se encontra. É também por isso que uma influência numerosa de espectadores, e sobretudo de curiosos mais ou menos malévolos, prejudica essencialmente o desenvolvimento de suas faculdades, que, por assim dizer, se fecham sobre si mesmas e não se desdobram com toda a liberdade, como na intimidade e num meio simpático. A presença de pessoas malévolas ou antipáticas produz sobre ele o efeito do contato da mão sobre a sensitiva.
PENETRAÇÃO DO NOSSO PENSAMENTO PELOS ESPÍRITOS
456. Os Espíritos vêem tudo o que fazemos?
-- Podem vê-lo, pois estais incessantemente rodeados por eles. Mas cada um só vê aquelas coisas a que dirige a sua atenção, porque eles não se ocupam das que não lhes interessam.
457. Os Espíritos podem conhecer os nossos pensamentos mais secretos?
-- Conhecem, muitas vezes, aquilo que desejaríeis ocultar a vós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem ser dissimulados para eles.
457- a. Assim sendo, pareceria mais fácil ocultar-se uma coisa a uma pessoa viva, pois não o podemos fazer a essa mesma pessoa depois de morta?
-- Certamente, pois quando vos julgais bem escondidos, tendes muitas vezes ao vosso lado uma multidão de Espíritos que vos vêem.
458. Que pensam de nós os Espíritos que estão ao nosso redor e nos observam?
-- Isso depende. Os Espíritos levianos riem das pequenas traquinices que vos fazem, e zombam das vossas impaciências. Os Espíritos sérios lamentam as vossas trapalhadas e tratam de vos ajudar.
INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS
SOBRE OS NOSSOS PENSAMENTOS E AS NOSSAS AÇÕES.
459. Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?
-- Nesse sentido a sua influência é maior do que supondes, porque muito freqüentemente são eles que vos dirigem.
460. Temos pensamentos próprios e outros que nos são sugeridos?
-- Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto e freqüentemente bastante contraditórios. Pois bem: nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas idéias que se combatem.
461. Como distinguir os nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos?
-- Quando um pensamento vos é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os que vos ocorrem no primeiro impulso. De resto, não há grande interesse para vós nessa distinção, e é freqüentemente útil não o saberdes: o homem age mais livremente; se decidir pelo bem, o fará de melhor vontade; se tomar o mau caminho, sua responsabilidade será maior.
462. Os homens de inteligência e de gênio tiram sempre suas idéias de si mesmos?
-- Algumas vezes as idéias surgem de seu próprio Espírito, mas freqüentemente lhes são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de as compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si mesmos, apelam para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem o suspeitar.
Nota de A. Kardec: Se fosse útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos, Deus nos teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e a noite. Quando uma coisa permanece vaga é que assim deve ser para o nosso bem.
463. Diz- se algumas vezes que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato?
-- Pode ser bom ou mau, segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom para aquele que ouve as boas inspirações.
464. Como distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito?
-- Examinai-o: os bons Espíritos não aconselham senão o bem: cabe a vós distinguir.
465. Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?
-- Para vos fazer sofrer como eles.
465- a. Isso lhes diminui os sofrimentos?
-- Não, mas eles o fazem por inveja dos seres mais felizes.
465- b. Que espécie de sofrimentos querem fazer-nos provar?
-- Os que decorrem de pertencer a uma ordem inferior e estar diante de Deus.
466. Por que permite Deus que os Espíritos nos incitem ao mal?
-- Os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. Tu, sendo Espírito, deves progredir na ciência do infinito, e é por isso que passas pelas provas do mal até chegar ao bem. Nossa missão é a de te pôr no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, és tu que as chamas, pelo desejo do mal, porque os Espíritos inferiores vêm em teu auxílio no mal, quando tens a vontade de o cometer: eles não podem ajudar- te no mal, senão quando tu desejas o mal. Se és inclinado ao assassínio, pois bem! terás uma nuvem de Espíritos que entreterão esse pensamento em ti; mas também terás outros, que tratarão de influenciar para o bem, o que faz que se reequilibre a balança e te deixe senhor de ti.
Nota de A. Kardec: É assim que Deus deixa à nossa consciência a escolha da rota que devemos seguir, e a liberdade de ceder a uma ou a outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.
467. Pode o homem se afastar da influência dos Espíritos que o incitam ao mal?
-- Sim, porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.
468. Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam às suas tentativas?
-- Que queres que eles façam? Quando nada têm a fazer, abandonam o campo. Não obstante, espreitam o momento favorável, como o gato espreita o rato.
469. Por que meio se pode neutralizar a influência dos maus Espíritos?
-- Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de escutar as sugestões dos Espíritos que suscitam em vós os maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em vós todas as más paixões. Desconfiai sobretudo dos que exaltam o vosso orgulho, porque eles atacam na vossa fraqueza. Eis porque Jesus voz faz dizer na oração dominical: "Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!”
470. Os Espíritos que procuram induzir- nos ao mal, e que assim põem à prova a nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer, e se é uma missão que eles cumprem, terão responsabilidade nisso?
-- Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando ele o faz, é pela sua própria vontade e conseqüentemente terá de sofrer as conseqüência. Deus pode deixá-lo fazer para vos provar, mas jamais o ordena, e cabe a vós repeli-lo.
471. Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível, ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso decorre unicamente de uma disposição física?
-- É quase sempre um efeito das comunicações que, sem o saber, tivestes com os Espíritos, ou das relações que tivestes com eles durante o sono.
472. Os Espíritos que desejam incitar-nos ao mal limitam-se a aproveitar as circunstâncias?
-- Eles aproveitam a circunstância, mas freqüentemente a provocam, empurrando- vos sem o perceberdes para o objeto da vossa ambição. Assim, por exemplo, um homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acrediteis que foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar- se dele, enquanto outros lhe sugerem devolver o dinheiro ao dono. Acontece o mesmo em todas as outras tentações.
554. Aquele que, com ou sem razão, confia naquilo a que chama virtude de um talismã, não pode, por essa mesma confiança, atrair um Espírito? Porque então é o pensamento que age: o talismã é um signo que ajuda a dirigir o pensamento.
-- Isso é verdade; mas a natureza do Espírito atraído depende da pureza da intenção e da elevação dos sentimentos. Ora, é difícil que aquele que é tão simplório para crer na virtude de um talismã não tenha um objetivo mais material do que moral. Qualquer que seja o caso, isso indica estreiteza e fraqueza de idéias, que dão azo aos Espíritos imperfeitos e zombadores.
649. Em que consiste a adoração?
-- É a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração o homem aproxima dEle a sua alma.
Nota de A. Kardec in nota à resposta da questão 662: Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea. A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar os bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a alma. Mas ainda nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.
LIBERDADE DE PENSAMENTO
833. Há no homem qualquer coisa que escape a todo constrangimento, e pela qual ele goze de uma liberdade absoluta?
-- É pelo pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves. Pode-se impedir a sua manifestação, mas não aniquilá-lo.
834. O homem é responsável pelo seu pensamento?
-- Ele é responsável perante Deus. Só Deus, podendo conhecê-lo, condena-o ou absolve-o, segundo a sua justiça.
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
835. A liberdade de consciência é uma conseqüência da liberdade de pensar?
-- A consciência é um pensamento íntimo, que pertence ao homem como todos os outros pensamentos.
IN O LIVRO DOS MÉDIUNS
PRIMEIRA PARTE
Cap. II
7. (...) O PENSAMENTO É UM DOS ATRIBUTOS DO ESPÍRITO; a possibilidade de agir sobre a matéria, de impressionar nossos sentidos e, por conseguinte, transmitir seu pensamento, resulta, se podemos nos exprimir assim, da sua constituição fisiológica: portanto, não há nesse fato nada de sobrenatural, nada de maravilhoso.
Cap. IV
43. Sistema do reflexo. A ação inteligente, uma vez reconhecida, restava saber qual era a fonte dessa inteligência. Pensou-se que poderia ser a do médium ou dos assistentes, que se refletiam como a luz ou os raios sonoros. Isso era possível: só a experiência poderia dizer a última palavra. Mas, primeiro, notemos que esse sistema já se afasta completamente da idéia puramente materialista; para que a inteligência dos assistentes pudesse se reproduzir por via indireta, era necessário admitir, no homem, um princípio fora do organismo.
Se o pensamento manifestado tivesse sido sempre o dos assistentes, a teoria da reflexão teria sido confirmada; ora, o fenômeno, mesmo reduzido a esta proporção, não era do mais alto interesse? O pensamento, repercutindo em um corpo inerte e se traduzindo pelo movimento e pelo ruído, não era uma coisa bem notável? Não havia aí o que excitar a curiosidade dos sábios? Por que, pois, o desdenharam, eles que se cansaram à procura de uma fibra nervosa?
Só a experiência, dissemos, podia negar ou dar razão a essa teoria, e a experiência a negou, porque demonstra a cada instante, e por fatos os mais positivos, que o pensamento manifestado pode ser não somente estranho ao dos assistentes, mas, freqüentemente, lhe é inteiramente contrário; que vem contraditar todas as idéias preconcebidas, frustrar todas as previsões; com efeito, quando penso branco e me responde preto, me é difícil crer que a resposta vem de mim. Apóie-se em alguns casos de identidade entre o pensamento manifestado e o dos assistentes; mas o que isso prova senão que os assistentes podem pensar como a inteligência que se comunica? Não se disse que devem ser sempre de opinião oposta. Quando, na conversação, o interlocutor emite um pensamento análogo ao vosso, direis, por isso, que ele veio de vós? Bastam alguns exemplos contrários bem constatados para provar que essa teoria não pode ser absoluta. De que forma, aliás, explicar, pela reflexão do pensamento, a escrita produzida por pessoas que não sabem escrever, as respostas da mais alta importância filosófica obtidas por pessoas iletradas, as que são dadas a perguntas mentais ou numa língua desconhecida do médium, e milhares de outros fatos que não deixam dúvida sobre a independência da inteligência que se manifesta? A opinião contrária não pode ser senão o resultado de um defeito de observação.
Se a presença de uma inteligência estranha está provada moralmente pela natureza das respostas, o está materialmente pelo fato da escrita direta, quer dizer, escrita obtida espontaneamente, sem caneta nem lápis, sem contato, e não obstante todas as precauções tomadas para se garantir de todo subterfúgio. O caráter inteligente do fenômeno não poderia ser posto em dúvida; portanto, há outra coisa além da ação fluídica. Demais disso, a espontaneidade do pensamento manifestado fora de toda a expectativa, de toda pergunta proposta, não permite ver nele um reflexo do pensamento dos assistentes.
O sistema do reflexo é bastante descortês em certos casos; quando, em uma reunião de pessoas honestas, sobrevém, inopinadamente, uma dessas comunicações revoltantes de grosseria, isso seria fazer um muito mau juízo dos assistentes, pretendendo que ela provém de um deles, e é provável que cada um se apressaria em repudiá-la (Ver O Livro dos Espíritos, Introdução, 16.)
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO VI
100.
11 - É racional se amedrontar com a aparição de um Espírito?
-- Aquele que reflete, deve compreender que um Espírito, qualquer que seja, é menos perigoso do que um vivo. Os Espíritos, aliás, vão por toda parte e não se tem necessidade de vê-los para saber que se pode tê-los ao vosso lado. O Espírito que quisesse causar dano, poderia causá-lo sem se fazer ver, e mesmo com mais segurança; não é perigoso porque é Espírito, mas pela influência que pode exercer sobre o pensamento, desviando do bem e compelindo ao mal.
CAPÍTULO VIII
131. Esta teoria nos dá a solução de um problema do magnetismo, bem conhecido mas até hoje inexplicado, que é o fato da modificação das propriedades da água pela vontade. O Espírito agente é o do magnetizador, na maioria das vezes assistido por um Espírito desencarnado. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como já dissemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica ou elemento universal. E se ele pode produzir uma modificação nas propriedades da água, pode igualmente fazê-lo no tocante aos fluidos orgânicos, do que resulta o efeito curativo da ação magnética convenientemente dirigida.
Sabe-se o papel capital da vontade em todos os fenômenos magnéticos. Mas como explicar a ação material de um agente tão sutil? A vontade não é uma entidade, uma substância e nem mesmo uma propriedade da matéria mais eterizada: é o atributo essencial do Espírito, ou seja, do ser pensante. Com a ajuda dessa alavanca ele age sobre a matéria elementar e em seguida reage sobre os seus componentes, com o que as propriedades íntimas podem ser transformadas.
A vontade é atributo do Espírito encarnado ou errante. Daí o poder do magnetizador, que sabemos estar na razão da força da vontade. O Espírito encarnado pode agir sobre a matéria elementar e portanto modificar as propriedades das coisas dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de curar pelo contacto e a imposição das mãos, que algumas pessoas possuem num elevado grau. (Ver no capítulo sobre os Médiuns o tópico referente a médiuns curadores. Ver ainda na Revista Espírita, n°. de julho de 1859, os artigos O zuavo de Magenta e Um Oficial do Exército da Itália.)
CAPÍTULO XIX
225. A dissertação seguinte, dada espontaneamente por um Espírito superior, que se revelou por comunicações de ordem a mais elevada, resume, da maneira mais clara e mais completa, a questão do papel dos médiuns:
"Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, sejam mecânicos, semi-mecânicos ou simplesmente intuitivos, nosso procedimento de comunicação com eles não varia essencialmente. Com efeito, nos comunicamos com os próprios Espíritos encarnados, como com os Espíritos, propriamente ditos, unicamente pela irradiação do nosso pensamento.
"Nossos pensamentos não têm necessidade das vestes da palavra para serem compreendidos pelos Espíritos, e todos os Espíritos percebem o pensamento que desejamos lhes comunicar, só pelo fato de que dirigimos nosso pensamento até eles, e isso em razão das suas faculdades intelectuais; quer dizer que tal pensamento pode ser compreendido por tais e tais, segundo seu adiantamento, ao passo que, entre tais outros, esse pensamento não revela nenhuma lembrança, nenhum conhecimento no fundo do seu coração ou do seu cérebro, não lhes é perceptível. Nesse caso, o Espírito encarnado que nos serve de médium está mais apropriado para transmitir o nosso pensamento para os outros encarnados, se bem que não compreenda que um Espírito desencarnado e pouco avançado não poderia fazê-lo, se estivéssemos forçados a recorrer à sua intermediação; porque o ser terrestre coloca seu corpo, como instrumento, à nossa disposição, o que o Espírito errante não pode fazer.
"Assim, quando encontramos, num médium, o cérebro enriquecido de conhecimentos adquiridos em sua vida atual, e seu Espírito rico de conhecimentos anteriores latentes, próprios para facilitar nossas comunicações, dele nos servimos de preferência, porque com ele o fenômeno da comunicação nos é muito mais fácil do que com um médium cuja inteligência fosse limitada e cujos conhecimentos anteriores fossem insuficientes. Vamos nos fazer compreender por algumas explicações claras e precisas.
"Com um médium cuja inteligência atual ou anterior se encontra desenvolvida, nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito para Espírito, por uma faculdade própria da essência do próprio Espírito. Neste caso, encontramos no cérebro do médium os elementos próprios para darem ao nosso pensamento a vestimenta da palavra correspondente a esse pensamento, e isso embora seja o médium intuitivo, semi-mecânico ou mecânico puro. Por isso, qualquer que seja a diversidade dos Espíritos que se comuniquem por um médium, os ditados obtidos por ele, inteiramente procedentes de Espíritos diversos, levam um selo de forma e de cor pessoal desse médium. Sim, se bem que o pensamento lhe seja inteiramente estranho, se bem que o assunto escape do quadro no qual se move habitualmente ele mesmo, se bem que aquilo que queremos dizer não provenha de nenhum modo de si, ele não influencia menos a forma, pelas qualidades e as propriedades que são adequadas à sua individualidade. É absolutamente como quando olhais diferentes pontos de vista com óculos coloridos, verdes, brancos ou azuis; se bem que os pontos de vista, ou objetos olhados, sejam inteiramente opostos e inteiramente independentes uns dos outros, não deixam de afetar uma tinta que provém da cor dos óculos. Ou melhor, comparemos os médiuns a esse frascos de líquidos coloridos e transparentes que se vêem na vitrine de laboratórios farmacêuticos; pois bem, nós somos como as luzes que clareiam certos pontos de vista morais, filosóficos e internos, através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de tal sorte que nossos raios luminosos, obrigados a passarem através de vidros mais ou menos bem talhados, mais ou menos transparentes, quer dizer, por médiuns mais ou menos inteligentes, não chegam sobre os objetos que desejamos iluminar, senão tomando a tinta, ou melhor, a forma própria e particular desses médiuns. Enfim, para terminar, por uma última comparação, nós, Espíritos, somos como compositores de música que compusemos ou queremos improvisar hoje, aos Espíritos zombeteiros e pouco avançados, o exercício das comunicações tangíveis, de pancadas e de transportes, igualmente os homens pouco sérios entre vós, preferem a visão dos fenômenos que atingem seus olhos e seus ouvidos, aos fenômenos puramente espirituais, puramente psicológicos.
"Quando queremos proceder por ditados espontâneos, agimos sobre o cérebro, sobre os arquivos do médium e juntamos nossos materiais com os elementos que ele nos fornece, e isso com seu inteiro desconhecimento; é como se tomássemos de seu bolso as somas que pode aí ter, e dispuséssemos as diferentes moedas segundo a ordem que nos parecesse a mais útil.
"Mas quando o próprio médium quer nos interrogar de tal ou tal modo, é bom que reflita seriamente a fim de nos perguntar de um modo metódico, facilitando, assim, nosso trabalho de resposta. Porque, como vos foi dito, em uma precedente instrução, vosso cérebro está, freqüentemente, em uma desordem inextricável, e nos é bastante penoso e difícil, nos movermos no labirinto dos vossos pensamentos. Quando as perguntas devem ser feitas por terceiros, é bom, e é útil que a série de perguntas seja comunicada, antecipadamente, ao médium, para que este se identifique com o Espírito do evocador, e dele se impregne por assim dizer; porque, então, nós mesmos temos bem mais facilidade para responder, pela afinidade que existe entre nosso perispírito e o do médium que nos serve de intérprete.
"Certamente, podemos falar de matemáticas por meio de um médium a quem estas lhe parecem inteiramente estranhas; mas, freqüentemente, o Espírito desse médium possui esse conhecimento em estado latente, quer dizer, peculiar ao ser fluídico e não ao ser encarnado, porque seu corpo atual é um instrumento rebelde ou contrário a esse conhecimento. Ocorre o mesmo com a astronomia, a poesia, a medicina e as línguas diversas, assim como com todos os outros conhecimentos próprios à espécie humana. Enfim, temos ainda o meio de elaboração penoso em uso com os médiuns completamente estranhos ao assunto tratado, reunindo as letras e as palavras como em tipografia.
"Como dissemos, os Espíritos não têm necessidade de revestir seu pensamento; percebem e comunicam os pensamentos só pelo fato de que existem neles. Os seres corporais, ao contrário, não podem perceber o pensamento senão revestido. Enquanto que a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase numa palavra, vos são necessárias para perceber mesmo mentalmente, nenhuma forma visível ou tangível nos é necessária. ERASTO E TIMÓTEO."
Nota. Esta análise do papel dos médiuns, e dos procedimentos com a ajuda dos quais os Espíritos se comunicam, é tão clara como lógica. Dela decorre, como princípio, que o Espírito toma, não suas idéias, mas os materiais necessários para exprimi-las, no cérebro do médium, e que quanto mais esse cérebro é rico em materiais, mais a comunicação é fácil.
CAPÍTULO XXII
236. (...) ...tomamos ao cérebro do médium os elementos necessários a dar ao nosso pensamento uma forma que vos seja sensível e apreensível; é com o auxilio dos materiais que possui, que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar.
CAPÍTULO XXV
282.
5. Como os Espíritos dispersos no espaço ou nos diferentes mundos podem ouvir, de todos os pontos do Universo, as evocações que lhes são feitas?
-- Freqüentemente, são prevenidos pelos Espíritos familiares que vos cercam e que vão procurá-los; mas se passa aqui um fenômeno que é difícil de vos explicar, porque não podeis ainda compreender o modo de transmissão do pensamento entre os Espíritos. O que vos posso dizer é que o Espírito que evocais, por distante que esteja, recebe, por assim dizer o impacto do pensamento como uma espécie de comoção elétrica que chama sua atenção para o lado de onde vem o pensamento que se dirige a ele. Pode-se dizer que ouve o pensamento, como na Terra ouvis a voz.
O fluido universal é o veículo do pensamento como o ar é do som?
-- Sim, com a diferença de que o som não pode se fazer ouvir senão em um raio muito limitado, ao passo que o pensamento atinge o infinito. O Espírito, no espaço, é como um viandante em meio de uma vasta planície, e que, de repente, ouvindo pronunciar seu nome, se dirige para o lado de onde vem o chamado.
(...)
29. O mesmo Espírito poderia comunicar-se ao mesmo tempo, na mesma sessão, por dois médiuns diferentes?
-- Tão facilmente como, entre vós, certos homens ditam muitas cartas de uma vez.
Nota de A. Kardec: Vimos um Espírito responder ao mesmo tempo, por dois médiuns, as perguntas que lhe faziam, por um em francês e por outro em inglês, sendo idênticas as respostas quanto ao sentido, e algumas mesmo verdadeiras traduções literais. Dois Espíritos evocados simultaneamente por dois médiuns podem travar uma conversação. Não necessitando dessa forma de comunicação, desde que lêem reciprocamente seus pensamentos, assim o fazem para nossa instrução. Se forem Espíritos inferiores, estando ainda imbuídos das paixões terrenas e das idéias que tiveram na vida corpórea, pode acontecer que briguem e troquem palavrões, que se acusem mutuamente e até mesmo que atirem os lápis, as cestas, as pranchetas, etc. um no outro.
30. O Espírito que é evocado ao mesmo tempo em muitos lugares ode responder simultaneamente às perguntas que lhe fazem?
-- Sim, se for um Espírito elevado.
30 a. Nesse caso o Espírito se divide ou possui o dom da ubiqüidade?
-- O Sol é um só e no entanto irradia a sua luz por todos os lados, projetando os seus raios à distância sem se subdividir. Dá-se o mesmo com os Espíritos. O pensamento do Espírito é como uma estrela que irradia a sua claridade no horizonte e pode ser vista de todos os pontos. Quanto mais puro é o Espírito mais o seu pensamento irradia e se difunde como a luz. Os Espíritos inferiores são mais materiais, não podem responder a mais de uma pessoa de cada vez e não podem tender à nossa evocação se já foram chamados em outro lugar.
-- Um Espírito superior, chamado ao mesmo tempo em dois lugares, tenderá às duas evocações se elas forem igualmente sérias e fervorosas. Em caso contrário, dará preferência à mais séria.
Nota de A. Kardec: Dá-se o mesmo com o homem que, de um mesmo lugar, pode transmitir seu pensamento por meio de sinais que são visíveis de várias direções. Numa sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em que a questão da ubiqüidade estava em discussão, um Espírito ditou espontaneamente a comunicação seguinte: "Discutíeis sobre a hierarquia dos Espíritos quanto a ubiqüidade. Comparai-nos a um aeróstato que se eleva pouco a pouco no ar. Enquanto ainda rasteja na terra, só um pequeno círculo de pessoas pode vê-lo; a medida que se eleva o círculo se alarga e quando atinge certa altura é visto por uma infinidade de pessoas. O mesmo acontece conosco. Um Espírito mau, ainda apegado a terra, fica num círculo restrito de pessoas que o vêem. Eleve-se na graça, melhore-se e poderá conversar com muitas pessoas. Quando se tomar Espírito superior poderá irradiar como a luz solar, mostrar-se a muitas pessoas e em muitos lugares ao mesmo tempo. - CHANNING".
CAPÍTULO XXIX
331. Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são as resultantes de todas as dos seus membros, e formam como um feixe; ora, esse feixe terá tanto mais força quanto for mais homogêneo. Se se compreende bem o que foi dito (nº. 282, pergunta 5) sobre a maneira pela qual os Espíritos são advertidos de nosso chamado, compreender-se-á, facilmente, a força da associação do pensamento dos assistentes. Se o Espírito, de alguma sorte, é atingido pelo pensamento como o somos pela voz, vinte pessoas, unindo-se em uma mesma intenção, terão necessariamente mais força do que uma sozinha; mas, para que todos esses pensamentos concorram para o mesmo objetivo, é preciso que vibrem em uníssono; que se confundam, por assim dizer, num só, o que não pode ocorrer sem o recolhimento. (...)
332. Sendo o recolhimento e a comunhão dos pensamentos as condições essenciais a toda reunião séria, fácil é de compreender-se que o número excessivo dos assistentes constitui uma das causas mais contrarias à homogeneidade. Não há, é certo, nenhum limite absoluto para esse número e bem se concebe que cem pessoas, suficientemente concentradas e atentas, estarão em melhores condições do que estariam dez, se distraídas e bulhentas. Mas, também é evidente que, quanto maior for o número, tanto mais difícil será o preenchimento dessas condições. Aliás, e fato provado pela experiência que os círculos íntimos, de poucas pessoas, são sempre mais favoráveis às belas comunicações, pelos motivos que vimos de expender.
IN O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Cap. VIII
PECADO POR PENSAMENTO. ADULTÉRIO
5. Aprendestes o que foi dito aos Antigos: Não cometereis adultério. Mas eu vos digo que todo aquele que tiver olhado uma mulher com um mau desejo por ela, já cometeu adultério com ela, em seu coração. (São Mateus, cap. V, v. 27 e 28).
6. A palavra adultério não deve ser entendida aqui no sentido exclusivo de sua acepção própria, mas em sentido mais geral; Jesus, freqüentemente, a empregou por extensão para designar o mal, o pecado e todo mau pensamento, como, por exemplo, nesta passagem: "Porque se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras entre esta raça adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará também dele, quando vier acompanhado dos santos anjos na glória de seu Pai." (São Marcos, cap. VIII, v. 38).
A verdadeira pureza não está somente nos atos, mas também no pensamento, porque aquele que tem o coração puro não pensa mesmo no mal; foi isso que Jesus quis dizer: ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é um sinal de impureza.
7. Esse princípio conduz naturalmente a esta questão: Sofrem-se as conseqüências de um pensamento mau não seguido de efeito?
Há aqui uma importante distinção a se fazer. À medida que a alma, empenhada no mau caminho, avança na vida espiritual, se esclarece e se despoja, pouco a pouco, de suas imperfeições, segundo a maior ou menor boa vontade que emprega em virtude do seu livre arbítrio. Todo mau pensamento, pois, resulta da imperfeição da alma; mas de acordo com o desejo que concebeu de se depurar, mesmo esse mau pensamento torna-se para ela uma ocasião de adiantamento, porque o repele com energia; é o indício de uma mancha que se esforça por apagar; e não cederá se se apresentar ocasião para satisfazer um mau desejo; e depois que tiver resistido, sentir-se-á mais forte e alegre com a sua vitória.
Aquela, ao contrário, que não tomou boas resoluções, procura a ocasião para o ato mau, e se não o realiza, não é por efeito da sua vontade, mas porque lhe falta oportunidade; ela é, pois, tão culpada como se o cometesse.
Em resumo, na pessoa que não concebe mesmo o pensamento do mal, o progresso está realizado; naquela a quem vem esse pensamento mas o repele, o progresso está em vias de se cumprir; naquela, enfim, que tem esse pensamento e nele se compraz, o mal está ainda com toda a sua força; numa, o trabalho está feito, na outra está por fazer. Deus, que é justo, considera todas essas diferenças na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.
CAPÍTULO XII
3. Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar os inimigos é sua aplicação sublime, porque esta virtude é uma das maiores vitórias alcançadas sobre o egoísmo e o orgulho.
Entretanto, equivoca-se geralmente sobre o sentido da palavra amor nessa circunstância; Jesus não quis dizer, por essas palavras, que se deve ter pelo inimigo a ternura que se tem para com um irmão ou amigo; a ternura supõe a confiança; ora, não se pode ter confiança naquele que sabemos nos querer mal; não se pode ter com ele os transportes de amizade, porque se sabe que é capaz de abusar disso; entre pessoas que desconfiam umas das outras, não poderá haver os laços de simpatia que existem entre aquelas que estão em comunhão de pensamentos; não se pode, enfim, ter o mesmo prazer ao se encontrar com um inimigo do que com um amigo.
Esse sentimento resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos; o pensamento malévolo dirige uma corrente fluídica cuja impressão é penosa; o pensamento benevolente vos envolve de um eflúvio agradável; daí a diferença de sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se deve fazer nenhuma diferença entre eles e os amigos; esse preceito não parece difícil, impossível mesmo de praticar, senão porque se crê falsamente que prescreve lhes dar o mesmo lugar no coração. Se a pobreza das línguas humanas obriga a se servir do mesmo termo para exprimir diversas nuanças de sentimentos, a razão deve diferenciá-los segundo o caso.
Cap. XXVII
AÇÃO DA PRECE. TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO
9. A prece é uma invocação; por ela um ser se coloca em comunicação mental com outro ser ao qual se dirige. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Pode-se orar por si mesmo ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução das suas vontades; aquelas que são dirigidas aos bons Espíritos são levadas a Deus. Quando se ora a outros seres, senão a Deus, é apenas na qualidade de intermediários, intercessores, porque nada se pode fazer sem a vontade de Deus.
10. O Espiritismo faz compreender a ação da prece explicando o modo de transmissão do pensamento, seja quando o ser chamado vem ao nosso apelo, seja quando nosso pensamento o alcança. Para se inteirar do que se passa nessa circunstância, é preciso mentalizar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que ocupa o espaço, como o somos, neste mundo, na atmosfera. Esse fluido recebe um impulso da vontade; é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluido universal se estendem ao infinito. Portanto, quando o pensamento é dirigido a um ser qualquer, sobre a Terra ou no espaço, de encarnado a desencarnado, ou de desencarnado a encarnado, estabelece-se uma corrente fluídica de um para o outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente está em razão do vigor do pensamento e da vontade. Por isso, a prece é ouvida pelos Espíritos, em qualquer lugar em que eles se encontrem; os Espíritos se comunicam entre si, nos transmitem suas inspirações, os intercâmbios se estabelecem à distância entre os encarnados.
Esta explicação é, sobretudo, para aqueles que não compreendem a utilidade da prece puramente mística, e não tem por objetivo materializar a prece, mas tornar seu efeito inteligível, mostrando que pode ter uma ação direta e efetiva. Ela, por isso, não fica menos subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único que pode tornar sua ação efetiva.
11. Pela prece, o homem chama para si o concurso dos bons Espíritos, que vêm sustentá-lo nas suas boas resoluções, e inspirar-lhe bons pensamentos; adquire, assim, a força moral necessária para vencer as dificuldades e reentrar no caminho reto se dele se afastou, assim como afastar de si os males que atrai por sua própria falta. Um homem, por exemplo, vê a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta, até o fim de seus dias, uma vida de sofrimentos; ele tem o direito de se lamentar, se não obtém a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações.
15. O poder da prece está no pensamento; ela não se prende nem às palavras, nem ao lugar, nem ao momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em toda parte, a qualquer hora, sozinho ou em comum. A influência do lugar ou do tempo prende-se às circunstâncias que podem favorecer o recolhimento. A prece em comum tem uma ação mais poderosa, quando todos aqueles que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e têm o mesmo objetivo, porque é como se todos gritassem em conjunto e em uníssono; mas o que importa estarem reunidos em grande número, se cada um age isoladamente, e por sua própria conta! Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto que duas, ou três, unidas em comum aspiração, orarão como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais força que a das outras cem. (Cap. XXVIII, nºs 4 e 5).
Cap. XXVIII
PARA PEDIR A FORÇA DE RESISTIR A UMA TENTAÇÃO
20. PREFÁCIO. Todo mau pensamento pode ter duas fontes: a própria imperfeição da nossa alma, ou uma funesta influência que age sobre ela; neste último caso, é sempre o indício de uma fraqueza que nos torna propensos a receber essa influência, e, por conseguinte, de uma alma imperfeita; de tal sorte que, aquele que faliu, não poderia invocar, para se desculpar, a influência de um Espírito estranho, uma vez que esse Espírito não o teria solicitado ao mal se o considerasse inacessível à sedução.
Quando um mau pensamento surge em nós, podemos, pois, supor um Espírito malévolo nos solicitando ao mal, e ao qual estamos inteiramente livres para ceder ou resistir, como se se tratasse das solicitações de uma pessoa viva. Devemos, ao mesmo tempo, imaginar o nosso anjo guardião, ou Espírito protetor, que, de sua parte, combate em nós a má influência, e espera com ansiedade a decisão que vamos tomar. Nossa hesitação em fazer o mal é a voz do bom Espírito que se faz ouvir pela consciência.
Reconhece-se que um pensamento é mau, quando ele se afasta da caridade, que é a base de toda a verdadeira moral; quando tem por princípio o orgulho, a vaidade ou o egoísmo; quando sua realização pode causar um prejuízo qualquer a outrem; quando, enfim, nos solicita a fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fosse feito. (Cap. XXVIII, nº. 15; cap. XV, nº. 10).
21. PRECE. Deus Todo-Poderoso, não me deixeis sucumbir à tentação em que deva falir. Espíritos benevolentes, que me protegeis, desviai de mim esse mau pensamento, e dai-me a força de resistir à sugestão do mal. Se eu sucumbir, terei merecido a expiação de minha falta nesta vida e em outra, porque sou livre para escolher.
59. PREFÁCIO. As preces pelos Espíritos que acabam de deixar a Terra não têm somente a finalidade de lhes dar um testemunho de simpatia, mas têm ainda por efeito ajudar o seu desligamento e, com isso, abreviar a perturbação que segue sempre a separação, e tornar o despertar mais calmo. Mas aí ainda, como em outra circunstância, a eficácia está na sinceridade do pensamento, e não na abundância de palavras ditas com mais ou menos pompa, e nas quais freqüentemente, o coração não toma parte.
IN A GÊNESE
Tradução Carlos de Brito Imbassahy
http://aeradoespirito2.sites.uol.com.br/AGENESE/GE_INDICE.html
Cap. II
40. – O estudo das propriedades do perispírito, dos fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma, abre novos horizontes à Ciência e dá a chave de um bando de fenômenos incompreendidos justamente pela falta de conhecimento da lei que os rege; fenômenos negados pelo materialismo, porque se referem à espiritualidade, qualificados por outros de milagres e sortilégios, conforme as crenças. Tais são, entre outros, o fenômeno da dupla visão, da visão à distância, do sonambulismo natural e artificial, dos efeitos psíquicos da catalepsia e da letargia, da presciência, dos pressentimentos, das aparições, das transfigurações, da transmissão do pensamento, da fascinação, das curas instantâneas, das obsessões e possessões, etc. Em demonstrando que estes fenômenos repousam também em leis naturais como os fenômenos elétricos e as condições normais nos quais podem se reproduzir, o Espiritismo destrói o império do maravilhoso e do sobrenatural, e, por conseguinte, a fonte da maior parte das superstições. Si faz crer na possibilidade de certas coisas olhadas por alguns como quiméricas, ele impede de crer em muitas outras em que demonstra a impossibilidade e a irracionalidade.
Cap. II
23. - Mas os Espíritos, por mais elevados que o sejam, são criaturas limitadas em suas faculdades, seu poder, e a extensão de suas percepções e não saberia, sob este aspecto, aproximar-se de Deus. Conforme possam nos servir de ponto de comparação. O que o Espírito não pode executar senão em um limite restrito, Deus, que é infinito, executa-o em proporções infinitas. Há ainda esta diferença que a ação do Espírito está momentaneamente e subordinada às circunstâncias: a de Deus é permanente; o pensamento do Espírito abarca durante um tempo um espaço circunscrito; o Deus abarca o Universo e a eternidade. Em uma palavra, entre os Espíritos e Deus existe a distância do finito ao infinito.
24. O fluido perispiritual não é o pensamento, mas o agente e o intermediário deste pensamento; como é ele que a transmite, ele o está, de alguma forma, impregnado e, na impossibilidade em que estamos de isolar, ele parece apenas se fazer com o fluido como o som parece se fazer apenas, como um sopro, de sorte que podemos, por assim dizer, materializá-lo. Da mesma forma que dizemos que o ar se transforma no som, podemos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido torna-se inteligência.
25. - Que o seja ou não, assim, o pensamento de Deus, isto é, que atua diretamente ou por intermédio de um fluido, para facilidade de nossa inteligência, representa-lo-emos sob a forma concreta de um fluido inteligente, enchendo o Universo infinito, penetrando em todas as partes da Criação: a natureza inteira está imersa no fluido divino; ora, em virtude do princípio que as partes de um todo são da mesma natureza, e têm a mesma propriedade que o todo, cada átomo deste fluido, si se puder exprimir assim, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da divindade e estando este fluido por toda parte, tudo está sujeito à sua ação inteligente, à sua previsão, à sua solicitude; nem um ser ínfimo que o seja, que não o esteja de alguma forma saturado. Estamos, assim, constantemente em presença da divindade; não há uma só de nossas ações que possamos subtrair de seu olhar; nosso pensamento está em contacto incessante com seu pensamento, e é com razão que se diz que Deus encontra-se nas mais profundas entranhas de nosso coração; estamos nele como ele está em nós, conforme a palavra do Cristo.
Por estender sua solicitude sobre todas as criaturas, Deus não tem, pois, necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidão; nossas preces, para serem ouvidas por Ele, não têm necessidade de transpor o espaço, nem de serem ditas com uma voz retumbante, porque sem cessar, a nosso lado, nossos pensamentos se repercutem nele. Nossos pensamentos são como os sons de um sino que faz vibrar todas as moléculas do ar ambiente.
27. - «O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Deus seria o Espírito. (Compreendei bem que aqui há uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do referido corpo. Se bem seja considerável o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é licito supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas, distingue, analisa, assina a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico.
«Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a criação. Deus está em toda parte, na Natureza, como o Espírito está em toda parte, no corpo. Todos os elementos da criação se acham em relação constante com ele, como todas as células do corpo humano se acham em contacto imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica, num e noutro caso.
«Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão a vibrar; o Espírito ressente todas as manifestações, as distingue e localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe diz respeito.
«Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.» (Quinemant, Sociedade de Paris, 1867.)
Cap. XI
17. – O Espiritismo nos ensina, de qual forma se opera a união do Espírito e do corpo na encarnação.
O ESPÍRITO, PELA SUA ESSÊNCIA ESPIRITUAL, É UM SER INDEFINIDO, ABSTRATO, QUE NÃO PODE TER UMA AÇÃO DIRETA SOBRE A MATÉRIA; TORNA-SE-LHE PRECISO UM INTERMEDIÁRIO; ESTE INTERMEDIÁRIO ESTÁ NUM ENVOLTÓRIO FLUÍDICO (b) QUE FAZ, DE ALGUMA SORTE, PARTE INTEGRANTE DO ESPÍRITO, ENVOLTÓRIO SEMI-MATERIAL, a dizer, tendo a matéria por sua origem e a Espiritualidade por sua natureza etérea; como toda matéria, É HAURIDO DO FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL, que sofre nesta circunstância uma modificação especial. Este envoltório designado sob o nome de perispírito, um ser abstrato, faz do Espírito um ser concreto, definido, penhorável pelo pensamento; encontra-se apto a agir sobre a matéria tangível, tal como todos os fluidos imponderáveis que sejam, como se sabe, os mais possantes motores.
O FLUIDO PERISPIRITUAL É, POIS, O TRAÇO DE UNIÃO ENTRE O ESPÍRITO E A MATÉRIA. Durante sua união com o corpo, é o veículo de seu pensamento para transmitir o movimento às diferentes partes do organismo que se movimentam sob o impulso da sua vontade, e para repercutir no Espírito as sensações produzidas pelos agentes exteriores. Tem por fios condutores os nervos, como no telégrafo, o fluido elétrico tem por condutor o fio metálico.
Cap. XIV
14. - Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam o gás, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade estão para o Espírito como a mão está para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem neste fluido tal ou qual direção; eles os aglomeram, combinam-nos ou dispersam-nos; eles,s formando conjunto tendo uma aparência, uma forma, um cor determinada; trocando as propriedades como um químico troca as de um gás ou de outros corpos combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual.
Por vezes, estas transformações são o resultado de uma intenção; freqüentemente são o produto de um pensamento inconsciente; é suficiente o Espírito pensar numa coisa para que esta coisa se reproduza.
É assim, por exemplo, que um Espírito se apresenta à vista de um encarnado, dotado da vista espiritual, sob as aparências que tinha em sua existência à época em que o tenha conhecido embora tenha tido várias encarnações após. Ele se apresenta com as vestes, os sinais externos, enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc., que tinha então; um decapitado apresentar-se-á sem a cabeça. Não é para dizer que tenha conservado tais aparências; não, certamente, porque, como Espírito, ele não é nem coxo, nem maneta, nem caolho, nem decapitado; mas seu pensamento se reportando à época em que era assim, seu perispírito toma instantaneamente as aparências que o deixa como tal, instantaneamente. Se, pois, ele tenha sido uma vez negro e outra vez branco, ele se apresentará como negro ou como branco, de acordo com a qual, das duas encarnações sob a que seja evocado e onde se reportará seu pensamento.
Por um efeito análogo, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos dos quais tenha o hábito de se servir; um avaro manejará ouro, um militar terá suas armas e seu uniforme, um fumante seu pito, um trabalhador sua charrua e seus bois, uma velha mulher sua roca.
Estes objetos fluídicos são também reais para o Espírito e que estariam no estado material para o homem encarnado; mas, pela mesma razão a qual são criados pelo pensamento, sua existência é também fugidia como o pensamento. (3)
(3) Revue Spirite, jul. 1859, p. 184. Livro dos Médiuns cap. VIII
15. – A ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem têm conseqüências de uma importância direta e capital para os encarnados. Desde o instante que estes fluidos são o veículo do pensamento, que o pensamento possa modificar as propriedades, é evidente que elas devam estar impregnadas das qualidades boas ou más dos pensamentos que os ponham em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável. Os fluidos que envolvem ou que emitem os maus Espíritos são, pois, viciados, ao passo que aqueles que recebem a influência dos bons Espíritos são também puros que comportam o grau da perfeição moral deles.
Seria impossível fazer nem uma enumeração nem uma classificação dos bons e dos maus fluidos, nem de especificar suas qualidades respectivas, atentando que sua diversidade é tão grande quanto a dos pensamentos.
16. - Se os fluidos ambientais são modificados pela projeção do pensamento do Espírito, seu envoltório perispiritual que é parte constituinte de seu ser, que recebe diretamente e de uma maneira permanente a impressão de seus pensamentos, deve mais ainda conduzir a impressão de suas qualidades boas ou más. Os fluidos viciados pelos eflúvios dos maus Espíritos podem se purificar pelo seu afastamento, mas seu perispírito será sempre o que é, tanto que o Espírito não se modificará por si mesmo.
19. – E isto ocorre igualmente nas reuniões dos encarnados. Uma assembléia é um ambiente onde irradiam pensamentos diversos. O pensamento atuando sobre os fluidos como o som atua sobre o ar, estes fluidos nos trazem os pensamentos como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer com toda verdade que existe nestes fluidos ondas e emissões de pensamento que se cruzam sem se confundir, como os há no ar ondas e radiações sonoras.
Uma assembléia é como uma orquestra, um coro de pensamentos onde cada qual produz sua nota. Disso resulta uma multiplicidade de correntes e de eflúvios fluídicos onde cada qual recebe a impressão pelo sentido espiritual como em um coro de música cada qual recebe a impressão dos sons pelo sensório auditivo.
Mas, tal como há emissões sonoras harmônicas ou dissonantes, há também pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto for harmônico, a impressão será agradável; se for dissonantes, a impressão é penosa. Ora, por isso, não é necessário que o pensamento seja formado em palavras: as irradiações fluídicas; as radiações fluídicas não o fazem por menos, quer sejam expressas ou não, mas se ela se mistura a algum pensamento mau, produzirá efeitos de uma corrente de ar gelado em um meio tépido.
Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta em uma reunião simpática, animada de bons e benevolentes pensamentos; reina aí, como uma atmosfera moral salubre onde se respira comodamente; sai-se daí reconfortado, porque se está impregnado de eflúvios fluídicos salutares. Assim explicam-se também a ansiedade, a inquietação indefinível que se sente em um meio antipático, onde pensamentos maledicentes provocam como se fossem correntes de ar nauseabundas.
20. – O pensamento produz, pois, por uma forma de efeito físico que reage sobre o moral; é este que só o Espiritismo poderia fazer compreender. O homem o sente instintivamente, já que procura as reuniões homogêneas e simpáticas onde ele sabe que pode haurir novas forças morais; poder-se-ia dizer que aí ele recupera as perdas fluídicas que sofre cada dia pelas radiações do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material. É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona uma perda real nos fluidos espirituais e, por conseguinte, nos fluidos materiais, de tal sorte que o homem tem necessidade de se reconfortar pelos eflúvios que recebe de fora.
Quando se diz que um médico cura seu enfermo com boas palavras, está-se dentro da verdade absoluta, porque o pensamento cordial traz consigo fluidos reparadores que atuam sobre o físico tanto quanto sobre o moral.
Cap. XV
9. – Estes fatos nada têm de surpreendente quando se conhece o poder da dupla visão e a causa muito natural desta faculdade. Jesus a possuía ao supremo grau e pode-se dizer que ela era seu estado normal, o que atestam um grande número de atos de sua vida e o que explicam atualmente os fenômenos magnéticos e o Espiritismo.
A pesca qualificada, de miraculosa explica-se igualmente pela dupla visão. Jesus nunca teria produzido espontaneamente peixes lá onde não o existissem; ele viu como poderia fazê-lo um lúcido vidente, pela visão da alma, o local onde eles se encontravam e pôde dizê-lo com segurança aos pescadores onde lançar suas redes.
A penetração do pensamento e, por conseguinte, certas previsões são a conseqüência da vida espiritual. Quando Jesus chamou a si Pedro, André, Jacó, João e Mateus, era preciso que conhecesse suas disposições íntimas para saber que eles o seguiriam e que seriam capazes de preencher a missão da qual os devia encarregar. Era necessário que eles próprios tivessem a intuição desta missão para se abandonarem a ele. É o mesmo quando, no dia da ceia, anuncia que um dos doze o trairia e que o designa em dizendo que é aquele que coloca a mão na baixela e quando diz que Pedro o renegará.
Em vários trechos do Evangelho é dito: “mas Jesus conhecendo seus pensamentos, lhe diz...” Ora, como podia ele conhecer seu pensamento, se isto não é, por sua vez, pela suas radiações fluídicas, senão que a ele aportara este pensamento e a visão espiritual que lhes permitia lesse no foro íntimo dos indivíduos?
Então, frequentemente, que se creia um pensamento profundamente escondido no recôndito da alma, não se duvida que se leva consigo um espelho que a reflete, um revelador em sua própria radiação fluídica que nela está impregnada. Caso se visse o mecanismo do mundo invisível que nos envolve, as ramificações destes fios condutores do pensamento que religam todos os seres inteligentes, corpóreos e incorpóreos, os eflúvios fluídicos carregados das impressões do mundo moral, e que, como correntes de ar atravessando o espaço, seriam menos surpreendentes sobre certos efeitos que a ignorância atribui ao acaso (Cap. XIV, n° 22 e seguintes)
IN REVISTA ESPÍRITA
setembro de 1858
Os talismãs
Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento e não por objetos materiais, que nenhum poder exerce sobre eles.
novembro de 1858
INDEPENDÊNCIA SONAMBÚLICA
Fenômenos tão delicados exigem uma observação longa, assídua e perseverante, a fim de apreender-lhes as nuanças freqüentemente fugitivas. É igualmente em conseqüência de uma observação incompleta dos fatos que certas pessoas, mesmo admitindo a clarividência dos sonâmbulos, contestam sua independência; segundo elas, sua visão não se estende além do pensamento daquele que os interroga; alguns pretendem mesmo que não há visão, mas simplesmente intuição e transmissão de pensamento, e citam exemplos em apoio. Ninguém duvida que o sonâmbulo, vendo o pensamento, algumas vezes pode traduzi-lo e ser dele o eco; não contestamos mesmo que não possa, em certos casos, influenciá-lo: não ocorresse senão isso no fenômeno, já não seria um fato bem curioso e bem digno de observação? A questão, portanto, não é saber se o sonâmbulo é ou pode ser influenciado por um pensamento estranho, isso não é duvidoso, mas bem saber se é sempre influenciado: isso é um resultado da experiência. Se o sonâmbulo não diz jamais senão o que sabeis, é incontestável que é o vosso pensamento que ele traduz; mas se, em certos casos, ele diz o que não sabeis, se contradiz vossa opinião, vossa maneira de ver, é evidente que é independente e não segue senão seu próprio impulso. Um único fato desse gênero, bem caracterizado, bastaria para provar que a sujeição do sonâmbulo ao pensamento de outrem não é uma coisa absoluta; ora, eles existem aos milhares;...
fevereiro de 1859
ESCOLHOS DOS MÉDIUNS
Nossa alma, que afinal de contas não é mais que um Espírito encarnado, não deixa por isso de ser um Espírito. Se se revestiu momentaneamente de um envoltório material, suas relações com o mundo incorpóreo, embora menos fáceis do que quando no estado de liberdade, nem por isto são interrompidas de modo absoluto; o pensamento é o laço que nos une aos Espíritos, e pelo pensamento atraímos os que simpatizam com as nossas idéias e inclinações.
julho de 1859
SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS
O concurso dos bons Espíritos, tal é, com efeito, a condição sem a qual ninguém pode esperar a verdade; ora, depende de nós obter esse concurso. A primeira de todas as condições para conciliar sua simpatia, é o recolhimento e a pureza de intenções. Os Espíritos sérios vão onde são chamados com seriedade, com fé, fervor e confiança; não gostam de servir para experiência, nem se darem em espetáculo; ao contrário, comprazem-se em instruir aqueles que os interrogam sem segunda intenção;
os Espíritos leviamos, que zombam de tudo, vão por toda parte e de preferência onde encontram ocasião para mistificarem; os maus são atraídos pelos maus pensamentos, e por maus pensamentos é preciso entender todos aqueles que não estejam conforme os princípios da caridade evangélica. Portanto, em toda reunião, quem carregue consigo sentimentos contrários a esses preceitos, conduz consigo Espíritos desejosos de semearem a perturbação, a discórdia e a desafeição.
A comunhão de pensamentos e de sentimentos para o bem é, assim, uma coisa de primeira necessidade, e essa comunhão não pode encontrar-se num meio heterogêneo, onde teriam acesso as baixas paixões do orgulho, da inveja e do ciúme, paixões que sempre se trairiam pela malevolência e pela acrimônia da linguagem, por espesso que seja, aliás, o véu com o qual se procure cobri-las; é o a, b, c, da ciência espírita.
Se quisermos fechar, aos maus Espíritos, as portas deste recinto fechado, cerremos-lhes primeiro a porta de nossos corações, e evitaremos tudo o que poderia dar-lhes presa sobre nós. Se alguma vez a Sociedade tornar-se o joguete de Espíritos enganadores, por quem seriam ali atraídos? Por aqueles em quem encontrassem eco, porque não vão senão aonde sabem ser escutados. Conhece-se o provérbio: Dize-me com quem andas, dir-te-ei as manhas que tens; e que se pode indagar assim com respeito aos nossos Espíritos simpáticos: Dize-me o que pensas, e dir-te-ei com quem andas. Ora,
os pensamentos se traduzem pelos atos;
portanto, admitindo-se que a discórdia, o orgulho, a inveja e o ciúme não podem ser insuflados senão pelos maus Espíritos, quem trouxesse aqui esses elementos de desunião, suscitaria entraves, acusaria, por isso mesmo, a natureza de seus satélites ocultos, e não poderíamos senão lamentar sua presença no seio da Sociedade. Queira Deus que ela jamais seja assim, eu o espero, e com a assistência dos bons Espíritos, se soubermos nos tornar favoráveis, a Sociedade se consolidará, tanto pela consideração que saberá merecer quanto pela utilidade de seus trabalhos.
dezembro de 1859
EFEITOS DA PRECE
A prece é um pensamento, um laço que a eles nos liga;
é um apelo uma verdadeira evocação.
Ora, como a prece, eficaz ou não, é sempre um pensamento benévolo, não pode deixar de ser agradável aqueles a quem se dirige.
julho de 1860
A FRENOLOGIA E A FISIOGNOMIA
Objetam com os casos bem conhecidos em que a influência do organismo sobre a manifestação das faculdades é incontestável, como os da loucura e da idiotia, mas a questão é fácil de resolver. Vêem-se, todos os dias, homens inteligentes tomarem-se loucos; o que isso prova? Um homem muito forte pode quebrar a perna, e então ele não pode mais andar; ora, a vontade de andar não está na perna, mas em seu cérebro; somente essa vontade está paralisada pela impossibilidade que tem de movimentar a perna. No louco, o órgão que servia às manifestações do pensamento estando desequilibrado, por uma causa física qualquer, o pensamento não pode mais se manifestar de um modo regular; ele erra a torto e a direito fazendo o que chamamos de extravagâncias; mas a sua integridade não é menor, e a prova aí está, é que se o órgão pode ser restabelecido, o pensamento retorna, como o movimento da perna que está melhorada. O pensamento não existe, pois, mais no cérebro que na caixa óssea do crânio; o cérebro é o instrumento do pensamento como o olho é o instrumento da visão, e o crânio é a superfície sólida que se molda sobre os movimentos do instrumento; se o instrumento está deteriorado, a manifestação não mais ocorre, absolutamente como, quando se perdeu um olho, não se pode mais ver.
Mas ocorre, algumas vezes, que a parada da livre manifestação do pensamento não é devida a uma causa acidental, como na loucura; a constituição primitiva dos órgãos pode oferecer, ao Espírito, desde o nascimento, um obstáculo do qual toda a sua atividade não pode triunfar; é o que ocorre quando os órgãos estão atrofiados, ou apresentam uma resistência insuperável; tal é o caso do idiota. O Espírito está como aprisionado, e sofre desse constrangimento, mas não pensa menos como Espírito, tanto quanto o prisioneiro sob os ferrolhos. O estudo das manifestações do Espírito de pessoas vivas, pela evocação, lança uma grande luz sobre os fenômenos psicológicos; isolando-se o Espírito da matéria, prova-se, pelos fatos, que os órgãos não são a causa das faculdades, mas simples instrumentos com a ajuda dos quais as faculdades se manifestam, com mais ou menos de liberdade e de precisão; que, freqüentemente, são como os abafadores que amortecem as manifestações, o que explica a maior liberdade do Espírito, uma vez desligado da matéria.
(...)
A semelhança física resulta, entre parentes, da consangüinidade que transmite, de um a outro, as partículas orgânicas semelhantes, porque o corpo procede do corpo; mas não poderia vir ao pensamento de ninguém supor que aquele que se assemelha a um gato, por exemplo, tem sangue de gato nas veias; ela tem, pois, uma outra fonte. Primeiro, ela pode ser fortuita e sem significação alguma, e é o caso mais comum.
outubro de 1860
A ELETRICIDADE DO PENSAMENTO
Delphine de Girardin
Quero falar da eletricidade do pensamento que se espalha como por encanto nos cérebros preparados para recebê-la.
abril de 1862
EPIDEMIA DEMONÍACA NA SABÓIA
...Esta demonstrado pela experiência que os Espíritos perversos não agem sobre o pensamento, mas, também, sobre o corpo, com o qual se identificam e do qual se servem como se fosse o próprio; provocam atos ridículos, gritos, movimentos desordenados como toda a aparência da loucura ou da monomania.
outubro de 1864
TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO - O MEU FANTÁSTICO
"Pedia-lhe para pensar em alguma coisa, sem ma dizer, e quase em seguida lia sobre sua fronte esse pensamento não explicado. Pedia-lhe para escrever algumas palavras com um lápis mas escondendo, e, depois de tê-la olhado um minuto, escrevi de minha parte as mesmas palavras na mesma ordem. Eu lia em seu pensamento como num livro aberto, e ela não lia no meu: eis a minha superioridade; mas ela me impunha suas idéias e suas emoções. Que ela pensasse seriamente nesse objeto; que ela repetisse nela mesma as palavras desse escrito, e súbito eu adivinhava tudo. O mistério estava entre o seu cérebro e o meu, não entre minhas faculdades de intuição e as coisas materiais." (trecho Presse de um artigo assinado por Émile Deschamps littéraire de 15 de março de 1854).
Explicação de A. Kardec ao artigo:
Os exemplos de transmissão de pensamento são muito freqüentes, não talvez de maneira tão caracterizada como no fato acima, mas sob formas diversas. Quantos fenômenos se passam assim diariamente sob nossos olhos, que são como os fios condutores da vida espiritual, e aos quais, no entanto, a ciência não se digna conceder a menor atenção! Aqueles que os repelem certamente não são todos materialistas; muitos admitem uma visão espiritual, mas sem relação direta com a vida orgânica. O dia em que essas relações forem reconhecidas como lei fisiológica, ver-se-á se cumprir um imenso progresso, mas só então a ciência terá a chave de uma multidão de efeitos misteriosos em aparência, que ela prefere negar por falta de poder explicá-los à sua maneira e com os seus meios limitados às leis da matéria bruta.
ligação íntima da vida espiritual e da vida orgânica durante a existência terrestre;
destruição da vida orgânica e persistência da vida espiritual depois da morte;
a ação do fluido perispiritual sobre o organismo;
reação incessante do mundo invisível sobre o mundo visível e reciprocamente:
tal é a lei que o Espiritismo vem demonstrar e que abre à ciência e ao homem moral horizontes inteiramente novos.
Por qual lei da fisiologia puramente material poder-se-ia explicar os fenômenos do gênero daquele relatado acima? Para que o Sr. Deschamps pudesse ler tão nitidamente no pensamento da jovem, seria preciso entre ela e ele um intermediário, um laço qualquer. Que se queira bem meditar o artigo precedente, e se reconhecerá que esse laço não é outro senão a irradiação fluídica que dá a visão espiritual, visão que não é detida pelos corpos materiais.
Sabe-se que os Espíritos não têm mais necessidade da linguagem articulada; eles se compreendem sem o recurso da palavra, tão só pela transmissão do pensamento, que é a língua universal. Assim ocorre algumas vezes entre os homens, porque os homens são os Espíritos encarnados, e gozam por essa razão, num grau mais ou menos grande, dos atributos e das faculdades do Espírito.
Mas, então, por que a jovem não lia de seu lado no pensamento do Sr. Deschamps? Por que num a visão espiritual estava desenvolvida, e no outro não; segue-se que ele pôde tudo ver, ler nos espelhos espirituais, por exemplo, ou ver à distância à maneira dos sonâmbulos? Não, porque sua faculdade podia não estar desenvolvida senão num sentido especial, e parcialmente. Poderia ler com a mesma facilidade no pensamento de todo o mundo? Ele não o disse, mas é provável que não; porque pode existir de indivíduo a indivíduo relações fluídicas que facilitam essa transmissão, então que não existem do mesmo indivíduo a uma outra pessoa. Não conhecemos ainda senão imperfeitamente as propriedades desse fluido universal, agente tão poderoso e que desempenha um tão grande papel nos fenômenos da Natureza; conhecemos o princípio, e isso já é muito para nos dar conta de muitas coisas; os detalhes virão a seu tempo.
a transmissão do pensamento é a língua universal
dezembro de 1864
DA COMUNHÃO DE PENSAMENTO
O favor com o qual a idéia desta reunião foi acolhida é uma primeira resposta a essas diversas perguntas; é o indício da necessidade que se sente em se encontrar reunidos numa comunhão de pensamentos.
Comunhão de pensamentos! compreende-se bem toda a importância desta palavra? É permitido disso duvidar, pelo menos da parte da maioria. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas peles leis que revela, vem agora nos explicar a causa, os efeitos e a força dessa situação do espírito.
Comunhão de pensamentos, quer dizer pensamento comum, unidade de intenções, de vontade, de desejo, de aspiração.
Ninguém pode desconhecer que o pensamento não seja uma força; mas é uma força puramente moral e abstrata? Não; de outro modo não se explicariam certos efeitos do pensamento, e ainda menos da comunhão de pensamentos. Para compreendê-lo é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elementos que constituem a nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-lo ensina.
O pensamento é o atributo característico do ser espiritual;
é ele que distingue o espírito da matéria;
sem o pensamento o espírito não seria espírito.
A vontade não é um atributo especial do espírito;
está aí o pensamento chegado a um certo grau de energia;
está aí o pensamento convertido em força motriz.
É pela vontade que o espírito imprime, aos membros e ao corpo, os movimentos num sentido determinado. Mas se ele tem a força de agir sobre os órgãos materiais, o quanto essa força deve ser maior sobre os elementos fluídicos que nos cercam!
O pensamento age sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos levam o pensamento, como o ar nos leva o som.
Pode-se, pois, dizer com toda a verdade que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.
Uma assembléia é um foco de onde se irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos onde cada um produz a sua nota.
Disso resulta uma multidão de correntes e de eflúvios fluídicos dos quais cada um recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro de música, cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido do ouvido.
Mas, do mesmo modo que há raios sonoros harmônicos ou discordantes, há também pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto é harmônico a impressão é agradável; se é discordante, a impressão é penosa. Ora, para isso, não há necessidade de que o pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não existe menos, quer seja ela expressada ou não; se todos são benevolentes, todos os assistentes deles sentem um verdadeiro bem-estar; sentem-se comodamente; mas se a eles se misturam alguns pensamentos maus, produzem o efeito de uma corrente de ar gelado num meio lépido.
Tal é a causa do sentimento de satisfação que se sente numa reunião simpática; ali reina como uma atmosfera moral saudável, onde se respira comodamente; dali se sai reconfortado, porque se está impregnado de correntes fluídicas salutares. Assim se explicam também a ansiedade, o mal-estar que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos provocam, por assim dizer, correntes fluídicas malsãs.
pensamentos malévolos provocam correntes fluídicas malsãs.
A comunhão de pensamentos produz, pois, uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral; é o que só o Espiritismo poderia fazer compreender. O homem o sente instintivamente, uma vez que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão; nessas reuniões homogêneas e simpáticas, ele haure novas forças morais; poder-se-ia dizer que ali recupera as perdas fluídicas que tem cada dia pela irradiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.
Essas considerações, senhores e caros irmãos, parecem nos afastar do objetivo principal de nossa reunião, e, no entanto, a ele nos conduz diretamente. As reuniões que têm por objeto a comemoração dos mortos repousam sobre a comunhão de pensamentos; para compreender-lhe a utilidade, é necessário bem definir a natureza e os efeitos dessa comunhão.
Para a explicação das coisas espirituais, às vezes, me sirvo de comparações bem materiais, e talvez mesmo um pouco forçadas, que não seria preciso sempre tomar ao pé da letra; mas é procedendo por analogia, do conhecido ao desconhecido, que se chega a se dar conta, ao menos aproximadamente, do que escapa aos nossos sentidos; foi a essas comparações que a Doutrina Espírita deve, em grande parte, o ter sido tão facilmente compreendida, mesmo pelas inteligências mais vulgares, ao passo que se eu tivesse permanecido nas abstrações da filosofia metafísica, ela não seria hoje o quinhão senão de algumas inteligências de elite. Ora, era importante que ela fosse, desde o princípio, aceita pelas massas, porque a opinião das massas exerce uma pressão que acaba por fazer lei, e por triunfar das oposições as mais tenazes. Foi porque me esforcei em simplificá-la e torná-la clara, a fim de colocá-la ao alcance de todo mundo, ao risco de fazê-la contestar por certas pessoas com título de filosofia, porque ela não é bastante abstrata, e não saiu das nuvens da metafísica clássica.
Aos efeitos que acabo de descrever, a respeito da comunhão de pensamentos, juntando-lhe um outro que lhe é a conseqüência natural, e que importa não perder de vista, é a força que adquire o pensamento ou a vontade, pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reunidas.
Sendo a vontade uma força ativa, essa força é multiplicada pelo número das vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número dos braços.
Estabelecido este ponto, concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os Espíritos,
há, numa reunião em que reina uma perfeita comunhão de pensamentos, uma força atrativa ou repulsiva que não possui sempre um indivíduo isolado.
Se, até o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela dificuldade de se obter uma homogeneidade perfeita de pensamentos, o que se prende à imperfeição da natureza humana sobre a Terra.
Quanto mais as reuniões são numerosas, mais nelas se misturam elementos heterogêneos que paralisam a ação dos bons elementos,
e que são como os grãos de areia numa engrenagem. Isso não é assim nos mundos mais avançados, e esse estado de coisas mudará sobre a Terra, à medida que os homens nela se tornarem melhores.
Para os Espíritas, a comunhão de pensamentos tem um resultado mais especial ainda. Temos visto o efeito desta comunhão de homem a homem; O Espiritismo nos prova que não é menor dos homens aos Espíritos, e reciprocamente. Com efeito, se o pensamento coletivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem como objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos; também vemos que a tática destes últimos é levar à divisão e ao isolamento. Só, um homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras vontades, ele poderá resistir, segundo o axioma: A união faz a força, axioma verdadeiro tanto quanto ao moral como ao físico.
De um outro lado, se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será secundada; sua influência salutar não encontrará obstáculos; seus eflúvios fluídicos não sendo detidos por correntes contrárias, se derramarão sobre todos os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em seu proveito pessoal, mas em proveito de todos, segundo a lei de caridade. Descerão sobre eles em línguas de fogo, para nos servir de uma admirável imagem do Evangelho.
Assim,
pela comunhão dos pensamentos, os homens se assistem entre si, e ao mesmo tempo assistem os Espíritos e são por eles assistidos.
As relações do mundo visível e do mundo invisível não são mais individuais, são coletivas, e, por isso mesmo, mais poderosas para o proveito das massas, como para os indivíduos; em uma palavra,
a comunhão dos pensamentos estabelece a solidariedade, que é a base da fraternidade.
Cada um não trabalha somente para si, mas para todos, e, trabalhando para todos, nisso cada um encontra a sua conta; é o que não compreende o egoísmo.
Todas as reuniões religiosas, qualquer que seja oculto a que pertençam, são fundadas sobre a comunhão de pensamentos; está aí um efeito que deve e pode exercer todo o seu poder, porque o objetivo deve ser o desligamento do pensamento dos constrangimentos da matéria. Infelizmente a maioria se desviou deste princípio, à medida que fez da religião uma questão de forma. Disso resultou que cada um fazendo consistir seu dever no cumprimento da forma, acreditou-se quite com Deus e com os homens, quando praticou uma fórmula. Disso resulta ainda que cada um vai nesses lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por sua própria conta, e, o mais freqüentemente, sem nenhum sentimento de confraternização com respeito aos outros assistentes; está isolado no meio da multidão, e não pensa no céu senão para si mesmo.
Certamente, não era assim que o entendia Jesus, quando disse: Quando vários de vós estiverdes reunidos em meu nome, estarei no meio de vós. Reunidos em meu nome, quer dizer, com um pensamento comum; mas não se pode estar reunidos em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, a sua doutrina; ora, qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, em palavras e em ações. Os egoístas e os orgulhosos mentem quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus os nega como seus discípulos.
Tocadas desses abusos e desses desvios, há pessoas que negam a utilidade das assembléias religiosas, e, consequentemente, dos edifícios consagrados a essas assembléias. Em seu radicalismo, pensam que valem mais construir hospícios do que templos, tendo em vista que o templo de Deus está por toda a parte, que pode ser adorado por toda a parte, que cada um pode orar em sua casa e a toda hora, ao passo que os pobres, os doentes e os enfermos têm necessidade de lugar de refúgio.
Mas do fato de que abusos são cometidos, de que se afasta do caminho reto, segue-se que o caminho reto não existe, e que tudo do que se abusa seja mau? Não, certamente. Falar assim é desconhecer a fonte dos benefícios da comunhão dos pensamentos que deve ser a essência das assembléias religiosas; é ignorar as causas que a provocam. Que os materialistas professem semelhantes idéias, concebe-se; porque, para eles, fazem em todas as coisas abstração da vida espiritual; mas da parte de espiritualistas, e mais ainda de Espíritas, isso seria um contra-senso. O isolamento religioso, como
o isolamento social, conduz ao egoísmo.
Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, bastante largamente dotados pelo coração, porque sua fé e sua caridade não tenham necessidade de serem aquecidas num foco comum, é possível; mas não ocorre assim com as massas, às quais é preciso um estimulante, sem o qual poderiam se deixar ganhar pela indiferença. Qual é, além disso, o homem que possa se dizer bastante esclarecido para não ter nada a aprender com respeito aos seus interesses futuros? bastante perfeito para prescindir de conselhos na vida presente? É sempre capaz de se instruir por si mesmo? Não; é preciso, à maioria, os ensinos diretos em matéria de religião e de moral, como em matéria de ciência. Sem contradita, esse ensinamento pode ser dado por toda a parte, sob a abóbada do céu como sob a de um templo; mas por que não teriam os homens lugares especiais para os negócios do céu, como têm para os negócios da Terra? Por que não teriam assembléias religiosas, como têm assembléias políticas, científicas e industriais? Isso não impede as fundações em proveito dos infelizes; mas dizemos a mais que, quando os homens compreenderem melhor seus interesses do céu, haverá menos demanda nos hospícios.
Se as assembléias religiosas, eu falo em geral, sem fazer alusão a nenhum culto, se freqüentemente se desviaram do objetivo principal primitivo, que é a comunhão fraternal do pensamento; se o ensino que aí é dado não seguiu sempre o movimento progressivo da Humanidade, é que os homens não cumpriram todos os progressos ao mesmo tempo; o que não fazem num período, o fazem num outro; à medida que se esclarecem, vêem as lacunas que existem em suas instituições, e as preenchem; compreendem que o que não era bom em uma época, teve relação com o grau da civilização, torna-se insuficiente num estado mais avançado, e restabelecem o nível. O Espiritismo, nós o sabemos, é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; ele marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, e não pecamos a uma época mais do que ela pode nos dar.
Como as plantas, é preciso que as idéias amadureçam para recolher-lhes os frutos. Saibamos, além disso, fazer as concessões necessárias às épocas de transição, porque nada, na Natureza, se opera de maneira brusca e instantânea.
Em razão do motivo que nos reúne hoje, senhores e caros irmãos, acreditei oportuno aproveitar da circunstância para desenvolver o princípio da comunhão de pensamentos do ponto de vista do Espiritismo; sendo nosso objetivo nos unir de intenção para oferecer em comum um testemunho particular de simpatia aos nossos irmãos falecidos, podia ser útil chamar a nossa atenção sobre as vantagens da reunião. Graças ao Espiritismo, compreendemos a força e os efeitos do pensamento coletivo; nos explicamos melhor o sentimento de bem-estar que se sente num meio homogêneo e simpático; mas sabemos igualmente que ocorre o mesmo com os Espíritos, porque eles também recebem os eflúvios de todos os pensamentos benevolentes que se elevam a eles, como uma fumaça de perfume. Aqueles que são felizes sentem uma alegria maior desse concerto harmonioso; aqueles que sofrem dele sentem um alívio maior. Cada um de nós em particular ora de preferência por aqueles que o interessam ou que se afeiçoam mais; façamos com que todos aqui tenham sua parte nas preces que dirigimos a Deus.
maio de 1866
DEUS ESTA POR TODA A PARTE
As propriedades do fluido perispiritual podem disso nos dar uma idéia. Ele não é inteligente por si mesmo, uma vez que é matéria, mas é o veículo do pensamento, das sensações e das percepções do espírito, conseqüentemente, é da sutileza desse fluido que os Espíritos penetram por toda a parte, desvendam nossos pensamentos, vêem e agem à distância; é a esse fluido, chegado a um certo grau de depuração, que os Espíritos superiores devem o dom da ubiqüidade; basta um raio do seu pensamento dirigido sobre diversos pontos, para que possam ali manifestar sua presença simultaneamente. A extensão dessa faculdade está subordinada ao grau de elevação e de depuração do Espírito.
o fluido perispiritual não é inteligente, mas é o veículo do pensamento, das sensações e das percepções do espírito.
Mas os Espíritos, por elevados que sejam, são criaturas limitadas em suas faculdades, de seu poder e da extensão de suas percepções não poderiam, sob esse aspecto, se aproximar de Deus; no entanto, eles podem nos servir de ponto de comparação. O que um Espírito não pode cumprir senão num limite restrito, Deus, que é infinito, o cumpre em proporções infinitas. Há ainda esta diferença de que a ação do Espírito é momentânea e subordinada às circunstâncias: a de Deus é permanente; o pensamento do Espírito não abarca senão um tempo e um espaço circunscritos: o de Deus abarca o universo e a eternidade. Em uma palavra, entre os Espíritos e Deus há a distância do finito ao infinito.
O fluido perispiritual não é o pensamento do Espírito, mas o agente e o intermediário desse pensamento;
como é o fluido que o transmite, dele está de alguma sorte impregnado, e na impossibilidade que estamos de isolar o pensamento, parece não fazer senão um com o fluido, como o som não faz senão um com o ar, de sorte que podemos, por assim dizer, materializá-lo. Do mesmo modo que dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.
Que seja assim ou não o pensamento de Deus, quer dizer que ele agisse diretamente ou por intermédio de um fluido, para a facilidade de nossa inteligência, nos representemos esse pensamento sob a forma concreta de um fluido inteligente enchendo o universo infinito, penetrando todas as partes da criação:
a Natureza inteira está mergulhada no fluido divino, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude; não há um ser, por ínfimo que seja, que dele não esteja de alguma sorte saturado.
Estamos, assim, constantemente em presença da Divindade;
não há uma única de nossas ações que possamos subtrair ao seu olhar;
nosso pensamento está em contato com o Seu pensamento,
e é com razão que se diz que Deus lê nas mais profundas dobras de nosso coração; estamos nele como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo, para estender sua solicitude sobre as menores criaturas, não tem necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidão, nem deixar a morada de sua glória, porque esta morada está por toda a parte; nossas preces, para serem ouvidas por ele, não têm necessidade de transpor o espaço, nem de serem ditas com uma voz retumbante, porque, sem cessar, penetrados por ele, nossos pensamentos repercutem nele.
A imagem de um fluido inteligente universal, evidentemente, não é senão uma comparação, mas própria para dar uma idéia mais justa de Deus do que os quadros que o representam sob a figura de um velho com longa barba, coberto com um manto. Não podemos tomar nossos pontos de comparação senão nas coisas que conhecemos; é por isto que se diz todos os dias: O olhar de Deus, a mão de Deus, a voz de Deus, o sopro de Deus, a face de Deus. Na infância da Humanidade, o homem toma suas comparações pela letra; mais tarde, seu espírito, mais apto a agarrar as abstrações, espiritualiza as idéias materiais. A de um fluido universal inteligente, penetrando tudo, como seria o fluido luminoso, o fluido calórico, o fluido elétrico ou qualquer outro, se fossem inteligentes, tem por objeto fazer compreender a possibilidade para Deus de estar em toda a parte, de se ocupar de tudo, de velar sobre um ramo de planta como sobre os mundos. Entre Ele e nós a distância está suprimida; compreendemos sua presença, e este pensamento, quando nos dirigimos a Ele, aumenta a nossa confiança, porque não podemos mais dizer que Deus está muito longe e é muito grande para se ocupar de nós. Mas este pensamento, tão consolador para o humilde e para o homem de bem, é muito terrificante para o mau e os orgulhosos endurecidos, que esperam subtrair-se a ele por causa da distância, e que, doravante, se sentirão sob o aperto de seu poder.
Agosto de 1866
CRIAÇÕES FANTÁSTICAS DA IMAGINAÇÃO
Que uma pessoa medrosa ouvindo um ruído de rato, durante a noite, seja tomada de medo, e se figure ouvir os passos de ladrões; que ela toma uma sombra ou uma forma vaga por um ser vivo que a persegue, estão aí bem verdadeiramente os efeitos da imaginação; mas nas visões do gênero das do que se trata aqui, há alguma coisa a mais, porque não é mais somente uma idéia falsa, é uma imagem com suas formas e suas cores, tão nítidas e tão precisas que dela se poderia fazer o desenho; e, no entanto, não é senão uma ilusão! de onde vem isto?
Para se dar conta do que se passa nesta circunstância, é necessário sair do nosso ponto de vista exclusivamente material, e penetrar, pelo pensamento, no mundo incorpóreo, nos identificar com a sua natureza e os fenômenos especiais que devem se passar num meio totalmente diferente do nosso. Estamos neste mundo na posição de um espectador que se admira de um efeito de cena, porque não lhe compreende o mecanismo; mas que vá atrás dos bastidores, e tudo lhe será explicado.
No nosso mundo tudo é matéria tangível; no mundo invisível tudo é, podendo-se assim se exprimir, matéria intangível; quer dizer, intangível para nós que não percebemos senão por órgãos materiais, mas tangível para os seres desse mundo que percebem pelos seus sentidos espirituais. Tudo é fluídico nesse mundo, homens e coisas, e as coisas ali são tão reais, relativamente, quanto as coisas materiais o são para nós. Eis um primeiro princípio.
Na Terra tudo é matéria tangível;
no mundo Espiritual tudo é matéria intangível;
O segundo princípio está nas modificações que o pensamento faz o elemento fluídico sofrer. Pode-se dizer que ele se configura à sua vontade, como configuramos um pedaço de terra para dele fazer uma estátua; somente a terra sendo uma matéria compacta e resistente, é preciso, para manipulá-la, um instrumento resistente, ao passo que
a matéria etérea sofre, sem esforço, a ação do pensamento.
Sob esta ação, ela é suscetível de revestir todas as formas e todas as aparências. Assim é que se vêem os Espíritos ainda pouco desmaterializados pensar em ter sob a mão os objetos que tinham quando vivos; que se revestem dos mesmos costumes, que se adornam com os mesmos ornamentos e tomam à sua vontade as mesmas aparências. A rainha de Oude, da qual narramos a entrevista na Revista de março de 1858, página 82, se via sempre com suas jóias, e dizia que não as tinha deixado. Basta-lhe para isto um ato do pensamento, sem o que, o mais freqüentemente, se dão conta da matéria da qual a coisa se opera, como entre os vivos muitas pessoas caminham, vêem e ouvem sem poderem dizer como e porquê. Tal era ainda o Espírito do zuavo de Magenta (Revista de julho de 1859) que dizia ter sua mesma roupa, e que, quando se lhe perguntava onde a tinha tomado, uma vez que a sua tinha ficado sobre o campo de batalha, respondeu: Isto refere-se ao meu alfaiate. Citamos vários fatos desse gênero, entre outros o do homem da tabaqueira (agosto de 1859, página 197) e o de Pierre Legay (novembro de 1864, página 339) que pagava seu lugar no ônibus. Essas criações fluídicas podem, às vezes, revestir, para os vivos, aparências momentaneamente visíveis e tangíveis, pela razão de que são devidas, na realidade, a uma transformação da matéria etérea. O princípio das criações fluídicas parece ser uma das leis mais importantes do mundo incorpóreo.
a matéria etérea é suscetível de revestir todas as formas e todas as aparências.
as criações fluídicas podem, às vezes, revestir, para os vivos, aparências momentaneamente visíveis e tangíveis,
A alma encarnada, em seus momentos de emancipação, gozando em parte das faculdades do Espírito livre, pode produzir efeitos análogos. Aí pode estar a causa das visões fantásticas. Quando o Espírito está fortemente imbuído de uma idéia, seu pensamento pode dela criar uma imagem fluídica que tem, para ele, todas as aparências da realidade, tão bem quanto o dinheiro de Pierre Legay, embora a coisa não exista por si mesma. Tal é, sem dúvida, o caso em que se encontrou a senhora Cantianille. Preocupada com os relatos que tinha ouvido fazer do inferno, dos demônios e de suas tentações, dos pactos pelos quais se apoderam das almas, das torturas dos condenados, seu pensamento disso criou um quadro fluídico que não tinha realidade senão para ela.
o Espírito fortemente imbuído de uma idéia, seu pensamento pode dela criar uma imagem fluídica que tem, para ele, todas as aparências da realidade
setembro de 1866
CABELOS EMBRANQUECIDOS SOBRE A IMPRESSÃO DE UM SONHO
De onde veio essa imagem fantástica? Ele mesmo criou, pelo seu pensamento, um quadro fluídico, uma cena da qual era o autor, exatamente como a senhora Cantianille e a irmã Elmérich das quais falamos, no número precedente, p. 240. A diferença provém da natureza das preocupações habituais. O engenheiro pensava, naturalmente, nas minas, ao passo que a senhora Cantianille, em seu convento, pensava no inferno. Sem dúvida, ela se acreditava em estado de pecado mortal por alguma infração à regra confiada à instigação dos demônios; ela disto exagerava as conseqüências, e já se via em seu poder, estas palavras: "Não tenho senão muito bem conseguido merecera sua confiança," prova que sua consciência não estava tranqüila. De resto, a descrição que ela faz do inferno tem alguma coisa de sedutora para certas pessoas, uma vez que, quem consente em blasfemar contra Deus, em louvar o diabo, e que tem coragem de desafiar o medo das chamas, disso são recompensada pelo gozos inteiramente mundanos. Pode-se notar, nesse quadro, um reflexo das provas maçônicas, que, sem dúvida, se lhe tinha mostrado como o vestíbulo do inferno. Quanto à irmã Elmérich, suas preocupações são mais doces; ela se comprazia na beatitude e na veneração das coisas santas; também suas visões disto são a reprodução.
fevereiro de 1867
LIVRE PENSAMENTO E LIVRE CONSCIÊNCIA
O que de mais livre, de mais independente, de menos apreensível por sua própria essência, do que o pensamento? E, no entanto, eis uma escola que pretende emancipá-lo acorrentando-o à matéria; que avanço, em nome da razão, que o pensamento circunscrito sobre as coisas terrestres é mais livre do que aquele que se lança no infinito, e quer ver além do horizonte material! Tanto valeria dizer que o prisioneiro que não pode dar senão alguns passos em seu cárcere é mais livre do que aquele que corta os campos. Se, crer nas coisas do mundo espiritual que é infinito, é não ser livre, vós o sois cem vezes menos, vós que vos circunscreveis no limite estreito do tangível, que dizeis ao pensamento: Tu não sairás do círculo que te traçamos, e se tu dele sais não és mais o pensamento sadio, mas a loucura, a tolice, o disparate, porque só a nós pertence discernir o falso do verdadeiro.
A isto o espiritualismo responde: Nós formamos a imensa maioria dos homens da qual sois apenas a milionéssima parte; com que direito vos atribuís o monopólio da razão? Quereis, dizeis, emancipar nossas idéias em nos impondo as vossas? Mas não nos ensinais nada; sabemos o que sabeis; cremos sem restrição em tudo o que credes: na matéria e no valor das provas tangíveis, e mais do que vós: em alguma coisa fora da matéria; numa força inteligente superior à Humanidade; em causas inapreciáveis pelos sentidos, mas perceptíveis pelo pensamento; na perpetuidade da vida espiritual que limitais à duração da vida do corpo. Nossas idéias são, pois, infinitamente mais amplas do que as vossas; ao passo que circunscreveis vosso ponto de vista, o nosso abarca os horizontes sem limites. Como aquele que concentra seu pensamento sobre uma ordem determinada de fatos, que coloca assim um ponto de parada aos seus movimentos intelectuais, às suas investigações, talvez pretender emancipar aquele que se move sem entraves, e cujo pensamento sonda as profundezas do infinito? Restringir o campo de exploração do pensamento é restringir a sua liberdade, e é o que fazeis.
Quereis, dissestes ainda, arrancar o mundo do jugo das crenças dogmáticas; fazei pelo menos uma distinção entre estas crenças? Não, porque confundis na mesma reprovação tudo o que não é do domínio exclusivo da ciência, tudo o que não se vê pelos olhos do corpo, em uma palavra, tudo o que é de essência espiritual, por conseqüência Deus, a alma e a vida futura. Mas se toda crença espiritual é um entrave à liberdade de pensar, ocorre o mesmo com toda crença material; aquele que crê que uma coisa é vermelha, porque a vê vermelha, não é livre para crê-la verde. Desde que o pensamento é detido por uma convicção qualquer, ele não é mais livre; para ser conseqüente com a vossa teoria, a liberdade absoluta consistiria em nada crer do todo, mesmo na sua própria existência, porque isto seria ainda uma restrição; mas então em que se tornaria o pensamento?
Considerado deste ponto de vista, o livre pensamento seria um contra-senso. Ele deve se entender num sentido mais amplo e mais verdadeiro; quer dizer, do uso livre que se faz da faculdade de pensar, e não na sua aplicação em uma ordem qualquer de idéias. Ele consiste, não em crer numa coisa antes do que numa outra, nem em excluir tal ou tal crença, mas na liberdade absoluta de escolha das crenças. É, pois, abusivamente que alguns dele fazem a aplicação exclusiva às idéias anti-espiritualistas.
Toda idéia racional, que não é nem imposta, nem encadeada cegamente à de outrem, mas que é voluntariamente adotada em virtude do julgamento pessoal, é um pensamento livre, quer seja religioso, político ou filosófico.
O livre pensamento, na sua acepção mais ampla, significa:
livre exame,
liberdade de consciência,
fé raciocinada;
ele simboliza
a emancipação intelectual,
a independência moral,
complemento da independência física;
ele não quer mais escravos do pensamento do que escravos do corpo, porque o que caracteriza
o livre pensador é que ele pensa por si mesmo e não pelos outros,
em outras palavras,
que sua opinião lhe pertence particularmente.
Pode, pois, haver livres pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido,
o livre pensamento eleva a dignidade do homem;
dele faz um ser ativo, inteligente, em lugar de uma máquina de crer.
março de 1867
A HOMEOPATIA NAS MOLÉSTIAS MORAIS
De todos os tempos,
o cérebro foi considerado como o órgão da transmissão do pensamento, e
a sede das faculdades intelectuais e morais.
É hoje reconhecido que
certas partes do cérebro têm funções especiais, e
são afetadas a uma ordem particular de pensamentos e sentimentos, ao menos no que concerne à generalidade;
é assim que, instintivamente, coloca-se, na parte anterior, as faculdades que são do domínio da inteligência, e que uma fronte fortemente deprimida e estreita tem para todo o mundo um sinal de inferioridade intelectual. As faculdades afetivas, os sentimentos e as paixões, por isto mesmo, têm sua sede nas outras partes do cérebro.
Ora, considerando-se que os pensamentos e os sentimentos são excessivamente múltiplos, e falando deste princípio de que tudo tem sua destinação e sua utilidade, é permitido concluir que, não só cada feixe fibroso do cérebro corresponde a uma faculdade geral distinta, mas que cada fibra corresponde à manifestação de uma das nuanças desta faculdade, como cada corda de um instrumento corresponde a um som particular. É uma hipótese, sem dúvida, mas que tem todos os caracteres da probabilidade, e cuja negação não infirmaria as conseqüências que deduziremos do princípio geral; ela nos ajudará em nossa explicação.
O pensamento é independente do organismo? Não vamos discutir aqui esta questão, nem refutar a opinião materialista segundo a qual o pensamento é secretado pelo cérebro, como a bile o é pelo fígado, nasce e morre com esse órgão; além de suas funestas conseqüências morais, esta doutrina tem contra si de nada explicar.
Segundo as doutrinas espiritualistas, que são as da imensa maioria dos homens, a matéria, não podendo produzir o pensamento, este é um atributo do Espírito, do ser inteligente, que, quando está unido ao corpo, se serve dos órgãos especialmente destinados à sua transmissão, como se serve dos olhos para ver, dos pés para caminhar. O Espírito, sobrevivendo ao corpo, o pensamento também o segue.
o pensamento é um atributo do Espírito
Segundo a Doutrina Espírita, não só
o Espírito sobrevive, mas preexiste ao corpo;
não é um ser novo;
quando nasce, traz as idéias, as qualidades e as imperfeições que possuía;
assim se explicam as idéias, as aptidões e as tendências inatas. O pensamento é, pois, preexistente e sobrevivente ao organismo. Este ponto é capital, e é por falta de tê-lo reconhecido, que tantas questões permaneceram insolúveis.
O pensamento é preexistente e sobrevivente ao organismo.
Todas as faculdades e todas as aptidões estando na natureza, o cérebro contém os órgãos, ou pelo menos o germe dos órgãos necessários à manifestação de todos os pensamentos. A atividade do pensamento do Espírito sobre um ponto determinado leva ao desenvolvimento da fibra, ou, querendo-se, do órgão correspondente; se uma faculdade não existe no Espírito, ou se, existindo, ela deve permanecer no estado latente, o órgão correspondente, estando inativo, não se desenvolve ou se atrofia. Se o órgão está atrofiado congenitamente, a faculdade não podendo se manifestar, o Espírito parece dela estar privado, se bem que a possua, em realidade, uma vez que lhe é inerente. Enfim, se o órgão primitivamente em seu estado normal, se deteriora no curso da vida, a faculdade, de brilhante que era, se ofusca, depois se apaga, mas não se destrói; não é senão um véu que a obscurece.
Segundo os indivíduos, há faculdades, aptidões, tendências que se manifestam desde o próprio início da vida, outras se revelam em épocas mais tardias, e produzem as mudanças de caráter e de disposições que se notam em certas pessoas. Neste último caso, geralmente, não são disposições novas, mas aptidões preexistentes que dormitam até que uma circunstância venha estimular e despertar. Pode-se estar certo de que as disposições viciosas que se manifestam às vezes subitamente e tardiamente, tinham seu germe preexistente nas imperfeições do Espírito, porque este, caminhando sempre para o progresso, se for essencialmente bom, não pode se tornar mau, ao passo que, se for mau pode se tornar bom.
O desenvolvimento ou a depressão dos órgãos cerebrais segue o movimento que se opera no Espírito.
junho de 1868
FOTOGRAFIA DO PENSAMENTO
O fenômeno da fotografia do pensamento se ligando ao das criações fluídicas, descrito em nosso livro da Gênese, no capítulo dos fluidos, para maior clareza reproduzimos a passagem desse capítulo, onde esse assunto é tratado, e o completamos com novas observações.
Os fluidos espirituais, que constituem, propriamente falando, um dos estados do fluido cósmico, são a atmosfera dos seres espirituais; é o elemento onde eles haurem os materiais sobre os quais operam; é o meio onde se passam os fenômenos especiais perceptíveis à vista e ao ouvido do Espírito, e que escapam aos sentidos carnais impressionados somente pela matéria tangível, onde se forma essa luz particular ao mundo espiritual, diferente da luz comum por sua causa e seus efeitos; é, enfim, o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som.
os fluidos espirituais são a atmosfera dos seres espirituais
é o elemento onde eles haurem os materiais sobre os quais operam
é o meio onde se passam os fenômenos especiais perceptíveis à vista e ao ouvido do Espírito
Os Espíritos agindo sobre os fluidos espirituais, não os manipulam como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade.
O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem.
Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direção;
aglomeram-nos, combinam-nos ou os dispersam;
com eles formam conjuntos tendo uma aparência, uma forma, uma cor determinada;
mudando-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou outros corpos, os combinam segundo certas leis; é
a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual.
Algumas vezes, essas transformações
são o resultado de uma intenção;
freqüentemente,
são o produto de um pensamento inconsciente;
basta ao Espírito pensar numa coisa para que essa coisa se produza,
como
basta modular uma ária para que essa ária repercuta na atmosfera.
É assim, por exemplo, que um Espírito se apresenta à vista de um encarnado dotado da visão psíquica, sob as aparências que tinha quando vivo, na época em que foi conhecido, tivesse tido várias encarnações depois. Ele se apresenta com a roupa, os sinais exteriores, enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc., que tinha então; um decapitado se apresentará com a cabeça a menos. Não é dizer que ele conserva essas aparências; não, certamente; porque como Espírito ele não é nem coxo, nem maneta, nem caolho, nem decapitado, mas seu pensamento e reportando à época em que era assim, seu perispírito lhe toma instantaneamente as aparências, que deixa do mesmo modo instantaneamente, desde que seu pensamento deixa de agir. Se, pois, foi uma vez negro, outra vez branco, ele se apresentará como negro ou como branco, segundo a dessas duas encarnações sob a qual for evocado, e onde se reportar o seu pensamento.
Por um efeito análogo, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos dos quais tinha o hábito de se servir: um avaro manejará o ouro; um militar terá as suas armas e o seu uniforme; um fumante, o seu cachimbo; um lavrador, a sua charrua e seus bois; uma velha, a sua roca para afiar. Esses objetos fluídicos são tão reais para o Espírito que é, ele mesmo, fluídico, quanto eram no estado material para o homem vivo; mas, pela mesma razão que são criados pelo pensamento, a sua existência é tão fugidia quanto o pensamento.
o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos dos quais tinha o hábito de se servir
Sendo os fluidos o veículo do pensamento, eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se, pois, dizer, em verdade, que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.
Como se vê, é uma ordem de fatos toda nova que se passam fora do mundo tangível, e constituem, podendo-se assim dizer, a física e a química especiais do mundo invisível. Mas como, durante a encarnação, o princípio espiritual está unido ao princípio material, disto resulta que certos fenômenos do mundo espiritual se produzem conjuntamente com os do mundo material, e são inexplicáveis para quem não lhes conhece as leis. O conhecimento dessas leis é, pois, tão útil aos encarnados quanto aos desencarnados, uma vez que só elas podem explicar certos fatos da vida material.
O pensamento, criando imagens fluídicas, se reflete no envoltório espiritual como numa vidraça, ou ainda como essas imagens de objetos terrestres que se refletem nos vapores de ar; ela ali toma um corpo e se fotografa de alguma sorte. Que um homem tenha, por exemplo, a idéia de matar um outro, por impassível que seja seu corpo material, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento do qual reproduz todas as nuanças; ele executa fluidicamente o gesto, o ato que tem o desejo de realizar; seu pensamento cria a imagem da vítima, e a cena inteira se pinta, como num quadro, tal qual ela está em seu espírito.
o pensamento, criando imagens fluídicas, se reflete no envoltório espiritual
É assim que
os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltório fluídico;
que
uma alma, encarnada ou desencarnada, pode ler numa outra como num livro, e ver o que não é perceptível pelos olhos do corpo.
Os olhos do corpo vêem as impressões interiores que se refletem sobre os indícios do rosto: a cólera, a alegria, a tristeza; mas a alma vê sobre os indícios da alma os pensamentos que não se traduzem ao redor.
No entanto, segundo a intenção, o vidente pode bem pressentir o cumprimento do ato que lhe será a conseqüência, mas não pode determinar o momento em que se cumprirá, nem lhe precisar os detalhes, nem mesmo afirmar que ocorrerá, porque circunstâncias ulteriores poderão modificar os planos decididos e mudar as disposições. Ele não pode ver o que não está ainda no pensamento; o que vê é a preocupação do momento, ou habitual, do indivíduo, seus desejos, seus projetos, suas intenções boas ou más; daí os erros nas previsões de certos videntes, quando um acontecimento está subordinado ao livre-arbítrio do homem; não podem senão pressentir-Ihe a probabilidade segundo o pensamento que vêem, mas não afirmar que ocorrerá de tal maneira e em tal momento. A maior ou a menor exatidão nas previsões, depende, além disso, do alcance e da clareza da visão psíquica; em certos indivíduos, Espíritos ou encarnados, ela é difusa ou limitada a um ponto, ao passo que, em outros, ela é limpa, e abarca o conjunto dos pensamentos e da vontade, devendo concorrer para a realização de um fato; mas, acima de tudo, há sempre a vontade superior que pode, em sua sabedoria, permitir uma revelação ou impedi-la; neste caso, um véu impenetrável é lançado sobre a visão psíquica mais perspicaz. (Ver na Gênese, o cap. da Presciência.)
o vidente não pode ver o que não está ainda no pensamento
A teoria das criações fluídicas e, conseqüentemente, da fotografia do pensamento, é uma conquista do Espiritismo moderno, e pode ser, doravante, considerada como adquirida em princípio, salvo as aplicações de detalhes que são o resultado da observação. Esse fenômeno é, incontestavelmente a fonte das visões fantásticas, e deve desempenhar um grande papel em certos sonhos.
Pensamos que nele se pode encontrar a explicação da mediunidade do copo com água. (Ver o art. precedente, A mediunidade no copo d'água.) Desde que o objeto que se vê não está no copo, a água deve fazer o trabalho de uma vidraça que reflete a imagem criada pelo pensamento do Espírito. Esta imagem pode ser a reprodução de uma coisa real, como pode ser a de uma criação de fantasia. O copo com água não é, em todos os casos, senão um meio de reproduzi-la, mas não é o único, assim como o prova a diversidade de procedimentos empregados por alguns videntes; este, talvez, convenha melhor para certas organizações.
dezembro de 1868
O ESPIRITISMO É UMA RELIGIÃO?
...compreende-se bem todo o alcance da expressão: “Comunhão de pensamentos?” Seguramente, até este dia, poucas pessoas dela tinham feito uma idéia completa. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas, pelas leis que nos revela, vem ainda nos explicar a causa, os efeitos e o poder desta situação do espírito.
Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspiração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento seja uma força; mas é uma força puramente moral e abstrata? Não; do contrário não explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão do pensamento. Para o compreender, é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elementos que constituem a nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina.
O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria: sem o pensamento, o espírito não seria espírito. A vontade não é atributo especial do espírito: é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento tornado força motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas se ele tem a força de agir sobre os órgãos materiais, como não deve ser maior esta força sobre os elementos fluídicos que nos cercam! O pensamento age sobre os fluídos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluídos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer-se com toda a verdade que há nesses fluídos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundir, como há no ar ondas e raios sonoros.
o pensamento é o atributo característico do ser espiritual.
sem o pensamento, o espírito não é nada
o pensamento chegado a um certo grau de energia se torna força motriz
o pensamento age sobre os fluídos ambientes, como o som age sobre o ar
há no fluido universal ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundir, como há no ar ondas e raios sonoros.
Uma assembléia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos em que cada um produz a sua nota. Resulta daí uma porção de correntes e de eflúvios, cada um dos quais recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro de musica cada um recebe a impressão dos sons, pelo sentido da audição.
Mas, assim como há raios sonoros harmônicos ou discordantes, também há pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto for harmônico, a impressão será agradável; se for discordante, a impressão será penosa. Ora, para isso não é preciso que o pensamento seja formulado em palavras; a radiação fluídica não existe menos, seja ou não expressa; se todas forem benevolentes, todos os assistentes experimentarão um verdadeiro bem-estar e sentir-se-ão à vontade; mas si se misturarem alguns pensamentos maus, produzem o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido.
Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião simpática; aí como que reina uma atmosfera moral salubre, onde se respira à vontade; daí se sai reconfortado, porque se ficou impregnado de eflúvios fluídicos salutares. Assim se explica, também, a ansiedade, o mal-estar indefinível que se sente num meio antipático, em que pensamentos malévolos provocam, por assim dizer, correntes fluídicas malsãs.
A comunhão de pensamentos produz, assim, uma espécie de efeito físico, que reage sobre o moral; é o que só o Espiritismo poderia dar a compreender. O homem o sente instintivamente, desde que procure as reuniões onde sabe que encontra essa comunhão. Nas reuniões homogêneas e simpáticas adquire novas forças morais; poder-se-ia dizer que aí recupera as perdas fluídicas que tem diariamente, pela radiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.
a comunhão de pensamentos produz uma espécie de efeito físico, que reage sobre o moral;
A esses efeitos da comunhão dos pensamentos junta-se um outro que é a sua conseqüência natural, e que importa não perder de vista: é o poder que adquire o pensamento ou a vontade, pelo conjunto de pensamentos ou vontades reunidas. Sendo a vontade uma força ativa, esta força é multiplicada pelo número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número de braços.
a vontade é uma força ativa
Aceito este ponto, concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os Espíritos, haja, numa reunião onde reine uma perfeita comunhão de pensamentos, uma força atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o indivíduo isolado. Se, até o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela dificuldade de obter uma homogeneidade perfeita de pensamentos, o que depende da imperfeição da natureza humana na terra. Quanto mais numerosas as reuniões, mais aí se misturam elementos heterogêneos, que paralisam a ação dos bons elementos, e que são como grãos de areia numa engrenagem. Assim não é nos mundos mais adiantados, e tal estado de coisas mudará na Terra, à medida que os homens se tornarem melhores.
Para os espíritas a comunhão de pensamentos tem um resultado ainda mais especial. Vimos o efeito dessa comunhão de homem a homem; o Espiritismo nos prova que não é menor dos homens para os Espíritos, e reciprocamente. Com efeito,se o pensamento coletivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos; assim, vemos que a tática destes últimos é impelir para a divisão e para o isolamento. Sozinho, o homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras vontades, poderá resistir, segundo o axioma: “A união faz a força”, axioma verdadeiro no moral quanto no físico.
um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos
Por outro lado,
se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será secundada.
Sua influência salutar não encontrará obstáculos; não sendo os seus eflúvios fluídicos detidos por correntes contrárias, espalhar-se-ão sobre todos os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em proveito de todos, conforme a lei da caridade. Descerão sobre eles em línguas de fogo, para nos servir de uma admirável imagem do Evangelho.
Assim,
pela comunhão de pensamentos, os homens se assistem entre si, e ao mesmo tempo assistem os Espíritos e são por estes assistidos.
As relações entre o mundo visível e o mundo invisível não são mais individuais, são coletivas, e, por isso mesmo, mais poderosas para o proveito das massas, como para o dos indivíduos. Numa palavra, estabelece a solidariedade, que é a base da fraternidade. Ninguém trabalha para si só, mas para todos, e trabalhando por todos cada um aí encontra a sua parte. É o que não compreende o egoísmo.
Graças ao Espiritismo, compreendemos então, o poder e os efeitos do pensamento coletivo; explicamo-nos melhor o sentimento de bem-estar que se experimenta num meio homogêneo e simpático; mas sabemos igualmente, que há o mesmo com os Espíritos, porque eles também recebem os eflúvios de todos os pensamentos benevolentes que para eles se elevam, como uma nuvem de perfume. Os que são felizes experimentam uma maior alegria por esse concerto harmonioso; os que sofrem sentem um maior alívio.
Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; é aí, com efeito, que esta deve e pode exercer toda a sua força, porque o objetivo deve ser o desprendimento do pensamento das garras da matéria. Infelizmente, em sua maioria, afastaram-se desse principio, à medida que faziam da religião uma questão de forma. Disso resultou que cada um, fazendo consistir seu dever na realização da forma, julga-se quite para com Deus e os homens quando pratica uma fórmula. Disso resulta ainda que “cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por sua própria conta, e o mais das vezes sem nenhum sentimento de confraternização em relação aos outros assistentes; está isolado em meio à multidão, e não pensa no céu senão para si mesmo”.
Certamente não era assim que o entendia Jesus, quando disse: “Quando estiverdes diversos reunidos em meu nome, estarei no meio de vós”. Reunidos em meu nome quer dizer com um pensamento comum; mas não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, a sua doutrina. Ora, qual é o principio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, palavras e obras. Os egoístas e os orgulhosos mentem quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus os desautoriza por seus discípulos.
Feridas por estes abusos e por estes desvios, há criaturas que negam a utilidade das assembléias religiosas e, por conseguinte, dos edifícios consagrados a tais assembléias. Em seu radicalismo, pensam que melhor seria construir hospícios do que templos, desde que o templo de Deus está em toda a parte, que pode ser adorado em toda parte, que cada um pode orar em casa e a qualquer hora, ao passo que os pobres, os doentes e os enfermos necessitam de lugares de refúgio.
Mas pelo fato de se cometerem abusos, por se afastarem do reto caminho, segue-se que não existe o reto caminho e que tudo aquilo de que se abusa seja mal? Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembléias religiosas; é ignorar as causas que a provocam. Que os materialistas professem semelhantes idéias, concebe-se; porque para eles, em todas as coisas fazem abstração da vida espiritual; mas da parte dos espiritualistas, e melhor ainda, dos espíritas, seria um contra-senso. “O isolamento religioso, como o isolamento social, conduz ao egoísmo”. Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, muitos largamente dotados pelo coração, para que sua fé e sua caridade não necessitem ser reaquecidas num foco comum, é possível; mas assim não se dá com as massas, à qual é preciso um estimulante, sem o qual elas poderiam deixar-se ganhar pela indiferença. Além disso, qual o homem que possa dizer-se bastante esclarecido para não ter nada a aprender no tocante aos interesses futuros? E bastante perfeito para dispensar conselhos na vida presente? É sempre capaz de instruir-se por si mesmo? Não; à sua maioria são necessários ensinamentos diretos em matéria de religião e de moral, como em matéria de ciência. Sem contradita, esse ensinamento pode ser dado por toda a parte, sob a abóbada do céu, como sob a de um templo; mas por que não teriam os homens lugares especiais para os negócios do céu, como o têm para os negócios da Terra? Por que não teriam assembléias religiosas, como têm assembléias políticas, científicas e industriais? Aqui está um jogo onde se ganha sempre, sem que ninguém perca. Isto não impede as fundações em proveito dos infelizes; mas dizemos a mais que “quando os homens compreenderem melhor seus interesses do céu, haverá menos gente nos hospícios”.
Se as assembléias religiosas – falamos em geral, sem alusão a qualquer culto – muitas vezes se afastaram bastante do objetivo primitivo principal, que é a comunhão fraterna do pensamento; se o ensino que aí é dado nem sempre seguiu o movimento progressivo da humanidade, é que os homens não realizam todos os progressos ao mesmo tempo; o que não fazem num período, fazem-no em outro; à medida que se esclarecem, vêem as lacunas que existem em suas instituições, e as preenchem; compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau de civilização, torna-se insuficiente num estado mais adiantado, e restabelecem o nível. Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, e não peçamos a uma época mais do que ela pode dar. Como as plantas, é preciso que as idéias amadureçam para serem colhidos os frutos. Além disso, saibamos fazer as concessões necessárias nas épocas de transição, porque nada, na natureza, se opera de maneira brusca e instantânea.
Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas deve ser a “comunhão de pensamentos”; é que, com efeito, a palavra “religião” quer dizer “laço”. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que “religa” os homens numa comunidade de sentimentos, de principio e de crenças. Consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé. É neste sentido que se diz: “a religião política”; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra “religião” não é sinônimo de “opinião”; implica uma idéia particular; a “de fé conscienciosa”; eis porque se diz também: “a fé política”. Ora, os homens podem envolver-se, por interesse num partido, sem ter fé nesse partido, e a prova é que o deixam sem escrúpulo, quando encontram seu interesse alhures, ao passo que aquele que o abraça por convicção é inabalável; persiste ao preço dos maiores sacrifícios e é a abnegação dos interesses pessoais que é a verdadeira pedra de toque da fé sincera. Contudo, se a renúncia a uma opinião, motivada pelo interesse, é um ato de desprezível covardia, é, ao contrário, respeitável, quando fruto do reconhecimento do erro em que se estava; é, então, um ato de abnegação e de razão. Há mais coragem e grandeza em reconhecer abertamente que se enganou, do que persistir, por amor-próprio, no que se sabe ser falso e para não se dar um desmentido a si próprio, o que acusa mais teimosia do que firmeza, mais orgulho do que razão, e mais fraqueza do que força. E mais ainda: é hipocrisia, porque se quer parecer o que não se é; além disso é uma ação má, porque é encorajar o erro por seu próprio exemplo.
O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunidade de vistas e de sentimentos, “a fraternidade e a solidariedade”, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.
Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem duvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza.
a comunhão de pensamentos é um laço que une os homens numa comunidade de sentimentos
o efeito desse laço moral estabelece entre os que a ele se une, uma comunidade de vistas e de sentimentos fraternos e solidários, incluindo, a indulgência e a benevolência mútuas.
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