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Às oito em ponto, Antonina, sem afetação< convidou com simplicidade:
_ Sr. Mário, hoje temos nosso culto evangélico. Quer ter a bondade de partilhá-lo?
Incompreensivelmente feliz, o rapaz concordou, de pronto.
[...]
_ Quem abrirá hoje o Livro? - perguntou Haroldo, com graciosa malícia, fitando o hóspede inesperado.
_ Certamente nosso amigo nos fará essa honra - disse a gnitora, indicando o enfrmeiro.
[...]
O moço, algo trêmulo na participação de um serviço espiritual inteiramente novo para ele, sem perceber o amparo que o envolvia, abriu em determinada passagem, qual se agisse a esmo, passando o livro a Antonina, que leu em voz pausada o versículo vinte e cinco do capítulo cinco das anotações do Apóstolo Mateus: _ Concilia-te depressa com teu adversário, enquanto te encontras a caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao oficial para que sejas encerrado na prisão.
[...]
A palestra parecia ameaçada de esmorecimento, mas o nosso orientador aproximou-se de Antonina e, impondo-lhe a destra sobre a fronte, como que a impelia ao comentário justo.
_ Haroldo - indagou a genitora, de olhos brilhantes -, como devemos interpretar um inimigo em nossa vida?
O menino replicou, sem pestanejar:
_ Mãezinha, a senhora nos ensinou que conservar um inimigo em nosso caminho é o mesmo que manter uma ferida perigosa em nosso corpo.
_ A definição foi bem lembrada - falou a viúva com espontaneidade encantadora -; sem a compreensão fraterna que nos garante o culto da gentileza, sem o perdão que olvida todo mal, a existência na Terra seria uma aventura intolerável. Além disso, quando Jesus nos ditou a lição que recordamos hoje, indubitavelmente considerava que a razão nunca vive inteira ao nosso lado. Se fomos ofendidos, em verdade também ofendemos por nossa vez. Precisamos desculpar os outros para que os outros nos desculpem. Quando abraçamos o ideal do bem, compete-nos tentar, por todos os meios ao nosso alcance, a justa conciliação com todos os que se encontram conosco em desarmonia, prestando-lhes serviço para que renovem a conceituação a nosso respeito. Mais vale para nós o acordo pacífico que a demanda mais preciosa, porque a vida não termina neste mundo e é possível que, buscando a justiça em nosso favor, estejamos cristalizando a cegueira do egoísmo em nosso próprio coração, caminhando para a morte com aflitivos problemas. Coração que conserva rancor é coração doente. Alimentar ódio ou despeito é estender inomináveis padecimentos morais no próprio espírito.
[...]
Fitando-a, com enternecimento, perguntou:
_ A senhora julga que devemos procurar a conciliação com qualquer espécie de inimigos?
_ Sim - respondeu a interpelada, sem hesitar.
_ E quando os adversários são de tal modo inconvenientes que a simples aproximação deles nos causa angústia?
Antonina compreendeu que algo doloroso vinha à tona daquela consciência que lhe ouvira a dissertação, ocultando-se, e obtemperou:
_ Entendo que há sofrimentos morais quase intoleráveis, entretanto, a oração é o remédio eficaz de nossas moléstias íntimas. Se temos a infelicidade de possuir inimigos, cuja presença nos perturba, é importante recorrer à prece, rogando à Deus nos conceda forças para que o desequilíbrio desapareça, porque então um caminho de reajuste surgirá para nossa alma. Todos necessitamos da alheia tolerância em determinados aspectos de nossa vida.
Os olhos de Mário cintilaram.
_ E quando o ódio nos avassala, ainda mesmo quando não desejemos? - inquiriu, preocupado.
_ Não há ódio que resista aos dissolventes da compreensão e da boa-vontade. Quem procura conhecer a si mesmo, desculpa facilmente...
[...]
_ Um homem, porém, na sua tarefa, é um missionário do amor fraterno. Quem socorre os doentes, penetra a natureza humana e entra na posse da grande compaixão. As mãos que curam não podem ferir...
Em seguida, o primogênito da casa fez a prece de encerramento.
[...]"
Questões para estudo e diálogo virtual
1 - O que Jesus quis nos dizer quando ensinou que nos reconciliássemos com nossos inimigos enquanto estivéssemos à caminho com ele?
2 - Qual a melhor maneira de realizarmos essa reconciliação?
3 - Qual a importância da prece nesse processo?
4 - E do autoconhecimento?
5 - Qual a maior lição que podemos tirar desse texto?
Nova luta - Conclusão Voltar ao estudo
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1 - O que Jesus quis nos dizer, quando ensinou que nos reconciliássemos com nossos inimigos enquanto estivéssemos
a caminho com ele?
Jesus nos passou o ensinamento de que devemos buscar a reconciliação com os nossos desafetos enquanto o temos
ao nosso lado, na condição de espíritos encarnados. Uma desavença que não se resolve na carne é levada para o além
túmulo, para o plano espiritual. Nesse caso, o espírito ainda preso à prática do mal aguarda que o adversário reencarne
para, estando ele enclausurado no corpo físico, torne-se uma presa mais fácil para os seus tormentos. As desavenças
em que nos envolvemos enquanto no plano físico são as grandes geradoras dos processos obsessivos. Por isso, Jesus
nos recomendou que as resolvamos enquanto temos o adversário ao nosso lado, evitando que o ódio e o desejo de
vingança sejam levados para a vida espiritual, perpetuando-se nas existências futuras.
2 - Qual a melhor maneira de realizarmos essa reconciliação?
A melhor maneira de nos reconciliarmos com o nosso adversário, senão a única, é praticarmos o perdão. Quando
somos o ofendido, compreendendo o ofensor como um irmão de caminhada que está passando pelo mesmo processo
evolutivo em que nos encontramos e, assim, sujeito aos mesmos erros e acertos que nós. Quando somos os ofensores, buscando o perdão daquele que prejudicamos. Perdoando ou rogando o perdão, estaremos fazendo a nossa parte para
que a situação de desafeição seja levada para o mundo espiritual.
O perdão liberta e não nos deixa tornar escravos do desejo de vingança e do ressentimento, sentimentos que envenenam
o perispírito, através dos fluidos deletérios que liberam. O Espiritismo nos ensina que o perdão é um ato que somente
traz benefícios a quem o pratica. Aquele que perdoa ou que roga o perdão libera-se de um vínculo prejudicial e de toda a
sua energia negativa.
3 - Qual a importância da prece nesse processo?
A prece é, sem a menor dúvida, uma prática igualmente muito importante no processo de reconciliação. Através dela,
entramos em contato com o Criador, através dos Espíritos Superiores que integram sua equipe de auxiliares diretos,
dirigidos e orientados por Jesus. Feita com o coração, é um ato de adoração que nos aproxima de Deus. Quando
buscamos a reconciliação com o adversário, ela nos torna mais fortes contra as tentações e nos faz entender nossos
erros, mudando a maneira com que nos conduzimos.
4 - E do autoconhecimento?
O autoconhecimento é uma necessidade, pois somente através dele poderemos proceder a reforma íntima que levará à
nossa transformação moral, que é o grande objetivo da reencarnação. Conhecendo a nós mesmos, saberemos onde
precisamos nos modificar. Santo Agostinho, na questão 919 do Livro dos Espíritos, ensina que, para alcançarmos o
devemos interrogar, diariamente, a nossa consciência, sobre os atos e pensamentos praticados durante o dia. Ou, como
afirmou, fazermos um balanço do nosso dia moral, para avaliarmos as perdas e os lucros que resultaram de nossas
ações e procurarmos saber se o nosso próximo tem algo a se queixar contra nós. Nossa consciência, o instrumento
que Deus colocou à disposição para nos conhecermos, indicará os pontos em que necessitamos nos modificar. Nela
estão escritas as Leis Morais que devem balizar o nosso comportamento. Submetendo à nossa consciência as ações e
os pensamentos que praticamos durante o dia, saberemos sempre em que acertamos ou em que erramos.
5 - Qual a maior lição que podemos tirar desse texto?
O capítulo nos dá um exemplo concreto da necessidade de nos harmonizarmos com a Lei de Amor, que é uma
imposição de Deus e, como tal, não pode ser contrariada. Mostra-no que a Espiritualidade Superior, através dos
mensageiros de Jesus, está sempre disposta a nos auxiliar nessa empreitada. Mário, desafeto da família de Júlio, foi
colocado em seu caminho para que a oportunidade da reconciliação se lhe apresentasse. No estudo do Evangelho de
que participou, o trecho estudado, escolhido ao "acaso", na visão dos encarnadas, mas que, na verdade, foi selecionado por Clarêncio, trazia o ensinamento de que ele naquela hora mais precisava: a necessidade da reconciliação com o
adversário enquanto convivemos com ele na carne. O ensinamento evangélico repercutiu fortemente no enfermeiro,
levando-o a refletir sobre o tema e, ao mesmo tempo, o preparando para enfrentar o desafio com que se defrontaria dentro
em pouco, de prestar auxílio aos desafetos do passado.
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