domingo, 19 de junho de 2016

Destinação da Terra. Causas das misérias humanas

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)

 
Destinação da Terra. Causas das misérias humanas


“Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é.”  1

No belíssimo e comovente filme “Dersu Uzalá”, o cineasta Akira Kurosawa conta a história de caçador mongol que serviu de guia à expedição russa de levantamento topográfico na Sibéria, em inícios do século 19.

Dersu, que sempre viveu na floresta, é exemplo de humildade e sabedoria. Oferece ao grupo várias lições de respeito aos seres vivos, aos recursos naturais e à preservação da natureza.

Uma delas, inesquecível, ocorre sob intensa chuva, na passagem da expedição por rústica cabana de caçadores. Dersu Uzalá procura grandes cascas de árvores e recupera o frágil local do breve pouso, tapando goteiras.

No outro dia, ao partirem, pede alimentos (arroz e sal) para deixar no modesto abrigo, em pequena prateleira ali existente.

O chefe da expedição indaga-lhe:

– Voltaremos a este local?

– Não, responde o bom Dersu.  – Ao que o outro retruca:

– Então, por que deixar alimentos na cabana?

– Para quem vier depois, com fome. Encontrará comida...

Dersu Uzalá pensa no próximo, seja ele quem for; conhecido, ou não, que virá depois, cansado e faminto, àquelas paragens inóspitas!

É uma das preciosas lições que nos transmite, em todo o filme, o genial diretor japonês!

Embora inusitado para o comandante, ele atende ao pedido do guia humilde.

*

Também na Terra, desconhecemos os que virão no amanhã e que precisarão de meios para se manterem. Merecem respeito e que preservemos os recursos naturais.

A Doutrina Espírita ensina-nos que voltamos a encarnar, inúmeras vezes, e que o fato não se dá só neste orbe, mas em quaisquer das inúmeras moradas da Casa do Pai. Podemos, pois, a ela retornar e, certamente o faremos, queiramos ou não.

Ainda que aqui não voltássemos, há que preservá-la, não só por amor à nossa bela casa planetária, mas por amor a todos que aqui serão acolhidos, para evoluir.

Jesus preceitua que daremos contas de tudo o que nos é confiado: “Dá conta de tua administração” – Lucas, 16:2.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo 2, Allan Kardec fala da destinação da Terra e das causas das misérias humanas.

Nossas enfermidades morais dão-lhe a condição – por enquanto – de subúrbio, hospital, penitenciária ou sítio malsão. Essa a razão de aqui ainda proliferarem maldades, paixões grosseiras, misérias e doenças de toda ordem.

Mais graves as de natureza moral e que se chamam egoísmo, orgulho, vaidade, ingratidão, ódio, maldade; inveja; injustiça; vícios e paixões, geradoras de todas as enfermidades físicas e psíquicas.

Mas a humanidade não está toda na Terra. Apenas pequena fração dela vincula-se ao nosso planeta. É o que lemos no texto citado e que Mentores Espirituais reafirmam a Allan Kardec:

“São habitados todos os globos que se movem no espaço? – Sim, e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. (...).”  3

Em síntese, diz ele que muitos se admiram da maldade, das paixões grosseiras, das misérias e enfermidades aqui existentes.

Assim pensam os que ignoram que apenas parcela da Humanidade encontra-se na Terra e que a espécie humana povoa os inúmeros orbes do Universo.

E prossegue, textualmente: “Ora, que é a população da Terra, em face da população total desses mundos? Muito menos que a de pequena aldeia, comparada à de grande império. A situação material e moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam”.

Diz que faria mau juízo da população de uma grande cidade, quem se limitasse à visão daqueles que habitam suas regiões ínfimas e sórdidas. Num hospital, encontram-se doentes; num presídio, reúnem-se torpezas e vícios. Em regiões não saudáveis, os que aí residem são pálidos, fracos e doentes. Nossas enfermidades morais fazem dela subúrbio; hospital; penitenciária; sítio malsão.

Por isso, há nela mais aflições do que alegrias: “(...) não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de deleite”.

A população de uma cidade não se acha toda em hospitais e em prisões, “(...) também na Terra não está a Humanidade inteira”.

No estágio evolutivo em que nos encontramos, a Terra nos acolhe como réus que transgredimos as Leis de Deus, ou seja, na condição de enfermos morais. Esta, afinal, sua destinação: acolher enfermos para que se eduquem e se curem moralmente, nas lições do Evangelho.

Naquele texto, conclui o Codificador que saem dos hospitais os que se curaram; e, das prisões, os que cumpriram suas penas e que “(...) o homem deixa a Terra, quando está curado de suas enfermidades morais”.

Mas ela é, sobretudo, preciosa Escola – da qual o Mestre inigualável é Jesus!  Escola e Mestre que, lamentavelmente, ainda não aprendemos a servir, a amar e a valorizar!



Referências:

1.                 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013. Cap. III, it. 6, p. 53.

2.                 _____._____. Cap. III, itens 6 e 7, p. 53 e 54.

3.                 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1ª edição Comemorativa do Centenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Q. 55.

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