Bem-Aventurados os Aflitos - Capítulo V - "Motivos de Resignação"
A resignação anda sempre de mãos dadas com a fé — ela é, em verdade, uma das formas de aplicar a fé em nosso cotidiano. O que caracteriza a resignação é a aceitação completa, não apenas do sofrimento em si, mas de todas as circunstâncias que se encontram fora de nosso controle. É através dela que aprendemos que debater-se não nos leva a nada.
A partir do momento em que temos plena consciência do fato da reencarnação, ou seja, da existência de múltiplas vidas para um só espírito, não há grandes desculpas para negar-se à resignação. Sabemos bem que o sofrimento que encontramos nesta vida é muitas vezes consequência de alguma falha que trazemos no espírito e que devemos consertar — é sempre dolorido tocar em antigas feridas, mas é a única forma de realmente curá-las.
Mais do que isso, sabemos que o sofrimento é passageiro. Lembro-me de ter lido um livro, há algum tempo, que dizia que todas as circunstâncias são nuvens — vagarosamente passam, transformando-se diante de nossos olhos. De modo que é tolice apegar-se a elas, sejam boas ou ruins.
Acreditar que uma determinada situação irá durar para sempre é o mesmo que acreditar que as nuvens estejam pregadas no céu.
É possível que tenhamos uma visão um pouco distorcida da resignação. Quando falamos dela, podem vir à mente imagens ligadas à estagnação, à falta da escolha individual ou até à uma certa imaturidade intelectual. Devemos, porém, nos assegurar que não é disso que se trata a resignação.
Resignar-se é simplesmente aceitar a vida tal como ela é, e nada além disso. De que adianta debater-se diante de uma situação que não se pode mudar, recusando-se até mesmo a admitir que ela existe?
Porém, muita atenção: a aceitação de uma circustância não quer dizer imobilizar-se diante dela. Muito pelo contrário — essa aceitação nos chama à ação, à procura de outras possibilidades. Não devemos nos martirizar pelo que perdemos, mas sim adaptar-nos à nova situação que se apresenta.
Esta resignação só é possível quando escolhemos manter um ângulo de visão amplo (e nisto, o conhecimento da reencarnação pode nos ajudar muito). Reconheçamos, então, três fatos importantes:
- O sofrimento é sempre temporário.
- O sofrimento é um modo de sanar dívidas contraídas nesta encarnação, ou, em outro casos, em encarnações anteriores, de modo que ele é, muitas vezes, uma chance que nos é dada, e pela qual devemos agradecer.
- No fim das contas, não existem acontecimentos bons e nem acontecimentos ruins: a vida se apresenta diante de nossos olhos tal como ela é, e somos nós que, impregnados com os valores transmitidos pela sociedade, julgamos os acontecimentos como « bons » ou « ruins », de acordo com o que nos parece melhor. Porém, muitas vezes algo que julgamos como « bom » se desenrola em consequências consideradas ruins, e vice-versa.
Viver em resignação, alegrando-se por todas as chances que se nos apresentam, constitui a única verdadeira forma de liberdade que podemos ter, enquanto encarnados.
Vivamos, então, cada dia aceitando as surpresas e os sofrimentos da vida como se estes fossem selecionados a dedo pela vontade divina, visando apenas o nosso bem, sem aflições e sem conflitos desnecessário, em completa aceitação à vontade de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário