quinta-feira, 26 de maio de 2016

"Tormentos voluntários"

Vânia Mugnato de Vasconcelos



"Tormentos voluntários"

22-06-2015
"O homem está incessantemente à procura da felicidade, que lhe escapa... ele a procura nas coisas perecíveis, sujeitas às mesmas vicissitudes... procura com avidez tudo o que pode agitá-lo e perturbá-lo. E, coisa curiosa, parece criar de propósito os tormentos, que só a ele cabia evitar." (ESE, capítulo VI, item 23)

É certo que a vida moderna causa profundo estresse nas pessoas. Vive-se em uma correria contínua para angariar meios de subsistência enquanto, ao mesmo tempo, se anseia por prazeres que mascaram, não raramente, a dor de existir num mundo conflituoso e que causa medo, insegurança - os mais frágeis veem o crime, a necessidade, a doença e a morte sempre os espreitando.

Nesse ritmo, alguns apenas passam pela vida quais zumbis, sem perceber muito bem como o dia transcorreu, são quase literalmente empurrados pela inércia que os leva nas direções exigidas - acordam, vestem, comem, trabalham, pagam contas, comem, desvestem, dormem...

E outros se descabelam inconformados, sonhando com o final de semana, com as férias, com emoções mais fortes, paixões que lhe deem algum sentido, alguma vontade de viver. E assim mergulham facilmente nos vícios diversos, na busca contínua pela pessoa perfeita, na ambição desmedida pelos dinheiro como se ele comprasse paz de espírito e felicidade.

O Evangelho Segundo o Espiritismo menciona a inveja e o ciúme como dois dos mais graves tormentos que pode experimentar a alma humana. Compreensível! Como ser feliz invejando o que o outro possui, pensando em como a vida é injusta, imaginando qual o motivo de ser ele e não "eu" a ter algo, focando em desmerecer suas conquistas e a causar ciúmes ao que passou a ser desafeto só por estar em situação mais afortunada, procurando a todo custo enxergar o que pensa ser gerador de sua tortura moral sob seus pés.

E há outros tormentos voluntários! Buscar amor sempre longe das pessoas que licitamente convivem consigo, viciar-se em drogas, cigarros, bebidas, remédios, para conseguir dormir, acordar, trabalhar, rir...

Eu diria mais, que é tormento voluntário a própria busca por milagres que não acontecem (pois Deus não é nosso serviçal, Ele ajuda quem se ajuda, empurra, não carrega!) ou pela negação de qualquer sentido espiritual para a existência, vez que a ciência sozinha nos deixa sem chão e motivos para lutar por dias melhores.

E como superar isso? Penso que cada qual, em refletindo sobre si mesmo sem receio de enxergar-se, saberá o que deve fazer para parar de sofrer além do necessário, cessando de criar tormentas que não existiam até que fossem escolhidas para ser parte da sua existência.

Contudo, particularmente, o meio que uso para não mergulhar nas tormentas da alma é agir como se fosse morrer amanhã. Vivo para ser lembrada como quem se esforçou em ser útil, que sorriu pela singeleza das pequenas coisas, que lutou por tornar-se melhor, que construiu uma bagagem de valores para carregar.

Comigo funciona não me preocupar mais com a vida alheia do que com a minha, e esforçar-me em amar mais ao próximo do que amo a satisfação das minhas necessidades. No momento, minha vida tem tido poucas tormentas, pois eu não as procuro voluntariamente. Funcionaria isso com vocês?

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