domingo, 17 de março de 2013

O Sofrimento de Jesus na Visão Espírita

Na visão espírita, Jesus não é literalmente Deus, nem o “Filho de Deus”, mas um “Espírito Puro”, “o  tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo” (KARDEC, O Livro dos Espíritos, pergunta 625) (negrito meu), mas ele não sofreu nem morreu para redimir os nossos pecados, conforme ensina o cristianismo dogmático e mítico (paulinismo).
Como todos já sabemos, mas convém repetir, segundo a doutrina cristã dogmática e mítica, Jesus é literalmente Deus – o “Filho de Deus” e “Deus o Filho” (Deus encarnado, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade) – sofreu e morreu na cruz para pagar nossos pecados, nossas culpas, incluindo o “pecado original” cometido por Adão e Eva. Essa crença, como já vimos em muitas matérias deste blog, é a doutrina central cristã (paulinista) da redenção da humanidade pelo sangue de Cristo derramado na cruz. Quem crê nessa doutrina paulina e luterana está “salvo”, e quem não crê nela está condenado ao fogo do inferno eterno. Isso é verdade ou mito? Como já foi esclarecido em matérias anteriores, mas não me cansarei de repetir, esta doutrina tradicional é a de Paulo e não a de Jesus. Foi Paulo quem centralizou a atividade de Jesus em sua morte, mostrando que é através dela que o homem de fé se liberta de seus pecados, das misérias do mundo e do poder de satanás. Há muito tempo, os teólogos modernos e os estudiosos de história da Igreja vêm afirmando abertamente que o cristianismo da Igreja organizada, cuja questão central é a compreensão da salvação como fruto da morte e do sofrimento de Jesus, se apoiou em fundamentos incorretos. [...] Associando a morte do Unigênito de Deus à redenção de nossos pecados, Paulo retrocedeu às primitivas religiões semíticas, em que os pais deviam imolar seus primogênitos. Paulo também é o responsável pelos dogmas do pecado original e da trindade, posteriormente incorporados pela Igreja (KERSTEN, Holger. Jesus Viveu na Índia: a desconhecida história de Cristo antes e depois da crucificação. 17. ed. São Paulo: Best Seller, 1986, p.34-35) (negrito meu).

O Espiritismo rejeita, com razão, essa velha crença mítica e repugnante do cristianismo dogmático, ensinando-nos que Jesus, mesmo sendo um espírito elevadíssimo, um espírito puro, perfeito, não mais tendo que passar por provas e expiações, aceitou, contudo, encarnar-se e sofrer neste planeta, a fim de cumprir uma MISSÃO em favor de toda a humanidade, ou seja, a MISSÃO de nos ensinar e de praticar, como nenhum outro espírito, a VERDADEIRA RELIGIÃO, A PRÁTICA DO AMOR-CARIDADE.

A essa altura de nossa argumentação, algum cristão dogmático poderia fazer aos espíritas o seguinte questionamento:
Cristão dogmático – Se Jesus, na visão espírita, era um espírito puro, elevadíssimo, um espírito perfeito, que não mais tinha que passar por provas e expiações obrigatórias (Lei de Causa e Efeito), e que não veio à Terra para sofrer e morrer na cruz para pagar nossos pecados, como aceitar o argumento espírita segundo o qual Jesus veio sofrer e morrer para cumprir uma MISSÃO divina, ou seja, a missão de ensinar uma elevada moral à humanidade? Para alguém ensinar uma elevada moral à humanidade, era preciso sofrer tanto, como sofreu Jesus?


Espírita(s) – A Doutrina Espírita esclarece que um espírito pode encarnar-se na Terra por três razões: 1) para expiar obrigatoriamente faltas cometidas em vidas passadas; 2) para passar por determinadas provações escolhidas, a fim de progredir em sua evolução e 3) para cumprir uma MISSÃO divina, em favor da evolução da humanidade, o que explica o objetivo da encarnação de Jesus neste planeta, para o qual ele veio com a MISSÃO divina de nos ensinar e praticar, como nenhum outro espírito, a VERDADEIRA RELIGIÃO, A PRÁTICA DO AMOR-CARIDADE.

O sofrimento, incluindo a morte, significa muito pouco (ou nada) para seres da magnitude de Jesus. Todo o sofrimento de Jesus foi causado por ele ter ensinado e praticado uma moral frontalmente oposta à que era praticada em sua época pelas autoridades judaicas e romanas, como a exploração, a injustiça, a discriminação, o preconceito, o exclusivismo etc. Jesus ensinou e praticou a caridade, o perdão, a humildade, a justiça, o igualitarismo, a fraternidade, o inclusivismo, a tolerância, o amor aos inimigos etc. Tudo isso pôs Jesus em rota de colisão com as autoridades judaicas e romanas.
Foi por causa desses seus ensinamentos e ações em prol da igualdade e fraternidade entre todas as pessoas, sem distinção de classes sociais e econômicas, que ele foi considerado pelas autoridades judaicas e romanas como um camponês rebelde, politicamente inconveniente, que se opunha às leis injustas judaicas e romanas. Foi por isso que ele foi executado, ou seja, por ter sido considerado uma pessoa inconveniente, e não por ter se declarado “Filho de Deus”.
Em resumo, Jesus não se encarnou para expiar erros cometidos em encarnações passadas, nem para cumprir provas escolhidas por ele mesmo, a fim de acelerar sua evolução espiritual, mas para cumprir uma missão divina de ajudar a humanidade a evoluir espiritualmente, através da Lei do Amor, mesmo que, para cumprir esta missão, ele tivesse que enfrentar terríveis sofrimentos, incluindo a morte na cruz. Foi um sacrifício tipicamente missionário, em prol da evolução de nosso planeta. Somente um espírito da magnitude evolutiva de Jesus poderia ter enfrentado e cumprido esta difícil MISSÃO divina em favor da humanidade.
Para concluir a matéria, reafirmo que Jesus, na visão espírita, não sofreu e morreu para nos salvar, ou seja, para pagar nossos pecados (como na visão cristã dogmática), nem para resgatar débitos de vidas passadas, nem para cumprir uma provação escolhida por ele mesmo para agilizar sua evolução espiritual, mas para cumprir a MISSÃO divina de ensinar e vivenciar o amor a Deus e ao próximo, derrubando leis judaicas e romanas exclusivistas, injustas e discriminatórias, mostrando ao mundo que Deus não era o Ser perverso, violento, vingativo, intolerante e exclusivista, como literalmente retratado no Antigo Testamento, mas um Espírito misericordioso, amoroso, justo e compassivo, que não o enviou à Terra para morrer na cruz por nossas culpas, mas para ensinar a humanidade a evoluir espiritualmente mediante a vivência da verdadeira religião – a prática do amor-caridade.

Escrito por José Pinheiro de Souza


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