terça-feira, 5 de março de 2013

CRISTO E SUA AÇÃO – PARTE I

João, 5:17-29

17. Mas Jesus respondeu-lhes: "Meu Pai até agora trabalha, e eu também trabalho".
18. Por isso, então, os judeus mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
19. Respondeu-lhes então Jesus e disse-lhes: "Em verdade, em verdade vos digo: o Filho não pode fazer nada por si mesmo, senão o que veja seu Pai fazendo; porque tudo o que ele faça, o Filho também faz semelhantemente.
20. Pois o Pai ama o Filho e lhe manifesta tudo o que faz, e maiores obras que estas lhe manifestará, para que vos admireis.
21. Assim, pois, como o Pai desperta os mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica os que ele quer,
22. porque o Pai não escolhe ninguém, mas deu toda escolha ao Filho,
23. para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
24. Em verdade, em verdade vos digo, que o que ouve o meu ensino e confia em quem me enviou, tem a vida imanente e não vai para o carma; pelo contrário, já se transladou da morte para a vida.
25. Em verdade, em verdade vos digo, que vem uma hora, e é agora, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a tiverem ouvido, viverão.
26. Porque assim Como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmo,
27. e deu-lhe autoridade para fazer a escolha, porque é Filho do Homem.
28. Não vos maravilheis disso, porque vem uma hora em que todos, nos túmulos, ouvirão sua voz e sairão,
29. os que produziram coisas boas para uma restauração de vida, os que praticaram coisas vulgares, para uma restauração de carma.


Quando os judeus se voltam para o Cristo, a fim de pedir contas de seus atos de rebeldia contra as prescrições da religião oficial, provocam-Lhe mais uma lição de suma importância para nossa compreensão das realidades espirituais.

A aula divide-se em duas partes distintas, versando a primeira sobre: 

a) as qualidades e poderes do Espírito; na utilização dessas qualidades e poderes;
b) os resultados consequentes às suas ações, na segunda  parte aprendemos como conhecer a legitimidade da missão dos mestres e da doutrina que eles ensinam. 

Temos que considerar todos os pormenores da lição.  Procederemos, por isso, como na aula sobre o Pão da Vida, tecendo primeiramente comentários linguísticos para, em seguida, interpretar o sentido real do trecho, de incalculável profundidade. Vejamos cada versículo de per si.

17. O verbo duas vezes empregado, e que traduzimos por "trabalhar", é ergázomai (já explicado quando   expusemos os vers. 27-30, na lição do Pão da Vida. Vimos que tem o sentido de "produzir algo (com esforço)", já que esse verbo é derivado de érgon.

18. No original "mais procuravam matá-lo": mãllon ezêtoun autàn apokteínai; seu próprio pai: patêra ídion: fazendo-se igual a Deus: íson heautòn poiôn tôi theôi.

19.Recomeça com a fórmula de garantia da verdade do que vai ensinar: "amén, amén".

Daqui por diante é interessante dar o texto original completo, a fim de mostrar que nossa tradução é fiel e perfeita, sem distorções nem más interpretações. A seguir de cada frase traduzida, reproduziremos em grifo o texto  grego, infelizmente com caracteres latinos, em vista da falta de tipos gregos na tipografia. O Filho não pode fazer nada (ho huiós ou dúnatai poieín oudén) por si mesmo (aph'heaután) se não (eàn mé) o que veja (tí blépêi) o Pai fazendo (tòn patéra poioúnta ), porque tudo o que ele faça (hà gár àn ekeínos poiêi) o Filho também faz semelhantemente (taúta kaí ho huiós homoiôs poieí). O sentido das palavras não deixa a menor dúvida: Pai e Filho são UM, embora o Pai seja "maior que o Filho" (João, 14: 28) pois o Filho procede do Pai.

20. Pois o Pai ama (phílein) o Filho e lhe manifesta tudo o que faz (kai pánta deíknusin autôi hà autòs poiei); e maiores obras que estas (kai meizona toùtôn érga) lhe manifestará (deíxei autôi) para que vos admireis (hína huméis thaumázête).

21. Assim pois como o Pai (hôsper gàr ho patêr) desperta os mortos (egeírei toùs nekroùs; quanto ao sentido de egeirô) e os vivifica (kaí zôopoiei) assim também o Filho (hoútos kaí ho huiòs) vivifica os que ele quer (zopoiei hoùs thélei).

22. Porque o Pai não escolhe ninguém (oudè gàr ho patêr krínei oudéna); já vimos o sentido de krinô: mas deu toda escolha ao Filho (allà tèn krísin pâsan dédôken tôi huiôi).

23. Para que todos honrem o Filho (hína pántes timôsi tòn huiòn) assim como honram o Pai (kathôs timôsi tòn patéra): o que não honra o Filho (ho mê timôn tòn huiòn) não honra o Pai que o enviou (ou timãi tòn patéra tón pémpsanta autón); pémpsanta é o particípio de pémpô.

24. Em verdade, em verdade vos digo: o que ouve meu ensino (ho tòn lógon mou akoúôn) e confia em quem me enviou (kaí pisteúôn tôi pémpsantí me) tem a vida imanente (échei zóen aiónion) e não vai para o carma (kaí eis krísin ouk érchetai) pelo contrário já se transladou da morte para a vida (allà metabebêken ek tóu thanátou eis tèn zôen); metabebêken é o perfeito de metabaínô.

25. Em verdade, em verdade vos digo que vem uma hora (érchetai hôra, sem artigo) e é agora (kaí nún estin) em que os mortos (hóte hoi nekroí) ouvirão a voz do Filho de Deus (akoúsousin tês phônes toù huiú toù theoú) e os que a tiverem ouvido, viverão (kaí hoi akoúsantes zésousin).

26. Porque assim como (hôsper gàr) o Pai tem vida (ho patêr échei zôen) em si mesmo (en heautôi), assim também deu ao Filho (hoútôs kaí tôi huiôi édôken) em si mesmo (en heautôi).

27. E deu-lhe autoridade (kaí exousían édôken autôi) para fazer a escolha (krísin poieín) porque é  Filho do Homem (hóti huiòs anthrôpou estin).

28. Não vos maravilheis disso (mê thaumázete toúto) porque vem uma hora (hôti érchetai hôra) em que todos (en hêi pántes) nos túmulos (en tois mnemeíois) ouvirão sua voz e sairão (akoúsousin tês phônes autòs kaí ekporeúsontai).

29. Os que produziram coisas boas (hoi tà agathà poiêsantes) para uma restauração de vida (eis anástasin zôés, sem artigo), os que praticaram coisas vulgares (hoi tà phaula práxantes) para uma restauração de carma (eis anástasin kríseôs). A palavra phaúla, geralmente traduzido por mal, tem o sentido de "coisa vulgar, comum, ordinária, de pouco preço". O termo anástasis tem o significado principal de "restauração, levantamento, erguimento", e por isso geralmente traduzem como "ressurreição".

Consideremos, agora, o sentido real e profundo da aula sublime que a Misericórdia do Cristo trouxe para nÛós. Bebamos seus ensinos até as últimas gotas, saboreando tudo o que nossa ainda pequeníssima capacidade evolutiva permite.

17. Inicialmente diz-nos o Cristo, terceiro aspecto da Divindade, que Se manifestava plenamente  através de Jesus, falando por sua boca: "meu Pai até agora trabalha e eu também trabalho",  justificando Seus atos desrespeitosos da lei mosaica (lei humana, para a personalidade) com o exemplo divino. Os próprios teólogos israelitas admitiam que Deus continuava trabalhando no cosmo. Philon de Alexandria ("Nómôn Hieròn Allegorías", 1,5) escreve: paúetai gàr oudépote poiôn ho theos, all'hôsper ídion tò kaíein puros kaí chíonos tò psúchein, hoútos kaí theoú tò poieín, ou seja: "Deus jamais deixa de produzir; mas como é próprio do fogo queimar e da neve gelar, assim produzir é próprio de Deus". Cfr. também de Philon, Cherubim, 87, e os rabinos Pinehas e Hosaja, em Bereshit-rabba, 11, citado por strack e Billerbeck, o.c. tomo 2, pág. 461.

A igualdade com o Pai, em tal intimidade que lhe justificava os atos, causou maior celeuma ainda que o desrespeito à lei sabática. Todo israelita se sabia "filho de Deus", a quem chamava Pai; mas considerando sempre um Pai exterior a eles, apenas transcendente e de natureza diferente. O Cristo, de um golpe, embora de modo implícito, declara-se juridicamente IGUAL ao Pai, com os mesmos direitos divinos acima de todas as prescrições religiosas. Foi isso mesmo que entenderam os presentes, conforme anota o evangelista, e isso era ainda muito mais grave do que a própria violação dos preceitos legais.

Em toda esta aula, Cristo prova que, de direito, pode imitar o Pai, não porque sejam hierarquicamente iguais (cfr. "o Pai é maior que eu") mas porque, sendo ele o Filho Unigênito, tudo o Pai Lhe concede, pelo amor que Lhe dedica.

Na realidade assim é. O Pai é o Logos, o SOM-CRIADOR e CONSERVADOR, que constantemente cria e conserva os sistemas atômicos e estelares, em seus contínuos movimentos de rotação e transla- ção. E esses sistemas - que formam miríades de Universos - são as manifestações do Filho Unigênito, o CRISTO CÓSMICO que, de dentro de todos e de tudo - imanentemente - impele tudo à evolução para o Espírito. O amor do Pai pelo Filho (o AMOR é o ESPÍRITO SANTO) faz que tudo caminhe do Amor para o Amor, do Espírito para o Espírito, passando pelas fases dos aspectos intermediários do Pai (SOM, Lógos) e do Filho (impulso evolucionador intrínseco, o CRISTO interno). Sendo o Pai o Som Criador e Conservador, trabalha sempre, criando e conservando. E o filho igualmente trabalha sempre, impelindo tudo pelo caminho da evolução constante e progressiva.

18. Os "judeus" (os religiosos ortodoxos da religião oficial) procuravam sufocar-lhe a voz, a fim de não perderem sua autoridade dominadora das classes populares e mesmo das da alta sociedade: o Espírito abafado pela matéria, o sem-Forma sufocado pela forma, o Infinito limitado pelo espaço, o Eterno restringido pelo tempo, a Vida perseguida pela morte.

19. O ensinamento prossegue, salientando qual A AÇÃO do Filho: fazer tudo o que faz o Pai. Nada pode fazer o Filho por si mesmo, já que é passivo, é o Amado; toda força criadora e propulsora, ativa, de Amante, pertence ao Pai, ao Logos, ao Som Criador, à Palavra produtora do som.

Então o trabalho é feito em conjunto, porque Deus É UM só, quer sob o aspecto de AMOR (LUZ),  quer sob o de AMANTE (SOM), quer sob o de AMADO (que vai dos sistemas atômicos aos estelares, galáxicos, cósmicos). O Pai fala, o Filho obedece; a Palavra cria, o Filho dirige a criação; o Som produz vibrações, o Filho as organiza, tudo ligado e existente e vivificado pela Luz Incriada, o Amor Concreto, que se manifesta em COESÃO nos átomos físicos (minerais), em ADAPTAÇÃO nos ·tomos etéricos (vegetais), em SIMPATIA nos átomos astrais (animais), em DESEJO nos átomos intelectuais (homens), em AMOR nos átomos espirituais (Filhos do Homem). E a ação, sendo conjunta, o Filho age semelhantemente ao Pai, embora "por si mesmo" nada possa fazer: se não houver o impulso criador e sustentador vibracional do som, nada se sustenta.

20. Neste versículo confirma-se a interpretação: o Pai ama o Filho, ou seja, o AMOR (Espírito Santo) é a ligação entre o Pai (Amante) e o Filho (Amado). O verbo philein, aqui usado, exprime o amor terno e instintivo que é o tipo de amor que o Cristo nos pede em relação a Ele. Por causa desse amor, o Pai manifesta ao Filho tudo o que faz; ou seja, tudo o que é criado pelo Som Criador traz em si, intrinsecamente, o sopro divino, o pneuma ou Espírito, que é precisamente o Cristo Interno, o Filho. Então, tudo o que existe pertence ao Filho (cfr. "tudo o que o Pai tem é meu", João, 16:15), porque o Filho é a essência ultérrima de tudo, já que tudo o que existe é a manifestação do Filho.

E maiores obras, maiores produções que estas (atuais) lhe manifestará, "para que vos admireis"; profecia que já vem começando a realizar-se. Entre os israelitas, e a atual concepção da grandeza cósmica, medeia um abismo. Hoje conhecemos muito mais profundamente a constituição das galáxias e do número infinito dos universos com seus sistemas estelares habitados; hoje conseguimos sobrepujar a atmosfera e viajar pelos espaços, coisa que, naqueles idos, só o mencioná-lo, seria julgado rematada loucura; hoje chegamos a compreender a exatidão científica das palavras do Cristo, quanto à criação dos universos e o aparecimento da matéria: "obras muito maiores que estas lhe manifestará, para que vos admireis".

21.Começa agora o Cristo a enumerar as qualidades e poderes do Espirito (individualidade); a primeira é a VIDA; e o exemplo é o da doação da Vida.

Lembremo-nos de que a Vida é a expressão máxima do Filho, é o sopro divino em nós (e por isso até  a ciência não lhe descobriu a essência). Assim como o Pai Criador "desperta os mortos", ou seja, faz que a matéria inerte e morta (inorgânica) se torne matéria viva (orgânica), assim como que despertando de um sono de milhares de milênios, assim também o Filho vivifica, do íntimo das coisas, tudo aquilo que ele quer, ao verificar que está na hora oportuna de elevá-los de nível.

Podemos, também, interpretar como a capacidade de fazer que os mortos tornem a despertar para a vida em nova encarnação. Da mesma forma que o Pai, o Som Criador, desperta os mortos na encarnação mecânica e automática dos seres involuídos, assim o Filho vivifica os mortos na encarnação consciente, quando cada um toma por si a iniciativa de voltar à vida física, impulsionado internamente  pela Centelha divina, que é exatamente o Cristo Interno, o Filho.

22. Tanto é assim, que neste versículo é explicado que "o Pai não escolhe ninguém, mas deu toda escolha ao Filho". Isto é, o Pai age automaticamente, dando movimento e vida A TODOS, mas compete ao Filho escolher o momento exato para determinar os passos evolutivos que cada ser deve dar, e isso porque o Filho é Imanente e dirige a evolução de dentro.

Numa interpretação mais elevada na escala, já podemos entrever a concessão do livre-arbítrio aos seres mais evoluídos. O Pai dá-lhes força e vida, deixando-lhes inteira liberdade; mas o Filho, o Cristo Interno, do âmago do coração de cada homem, escolhe o caminho que quer seguir, buscando sempre a felicidade máxima. De fato pode enganar-se o homem, colocando a felicidade fora de si em coisas externas, mas com o tempo chegará a compreender onde se encontra a meta real e verdadeira de sua felicidade. Para isso o Cristo nos convoca e "seu amor nos impulsiona" (amor Christi urget nos, 2.º Cor. 5:14), pois "o amor de Deus foi derramado abundantemente em nossos corações por meio do Espírito Santo" (Rom. 5:5 ), que é o Amor Concreto.

Então, a escolha cabe realmente AO FILHO, ao HOMEM, a quem foi concedida liberdade absoluta (livre-arbÌtrio), competindo ao Pai Criador conceder a graça àqueles que a escolheram por sua vontade própria: "toda escolha foi dada ao Filho".

Por essa razão é que rejeitamos o sentido analógico de "julgamento", já que jamais exprimiria o ensinamento dado.

23. A escolha foi dada ao Filho com uma finalidade: "para que todos os, homens honrem ao Filho, como honram ao Pai". O Filho, o Cristo-que-em-todos-nós-habita, deve ser por todas as criaturas tratado com a honra que todos tributam ao Pai. Esse mesmo verbo é usado no quinto mandamento da lei mosaica: "honrarás teu pai e tua mãe" (Deut. 5:16). Assim como a lei escrita para a personalidade transitória manda que honremos os seres que nos proporcionaram o corpo fésico, assim a Lei de Cristo ordena honremos o Filho, que é nosso Eu Profundo, tal como honramos o Pai Criador, que nos deu a existência eterna e nos sustenta com Sua Vida.

E a razão é acrescentada: quem não honra o Filho, ipso facto não honra o Pai que o enviou a percorrer a escala evolutiva; porque ambos, Pai e Filho, são UM SÓ, no Amor do EspÌrito Santo: "eu e o Pai somos UM" (João 10:30 ), confessa o Cristo. E, mais especificadamente, diz: "eu estou NO Pai e o Pai está EM MIM" (João, 10:38 e 14:10 e 11). Se é assim como não podemos duvidar que seja - o "envio" do Filho por parte do Pai não pode exprimir o que tem sido ensinado até hoje: que o Pai, lá do "céu", enviou o Filho cá para a Terra, para fazê-lo morrer à mão dos malfeitores; e então, regozijando-se com essa morte, teria perdoado à humanidade. Tão absurda é essa crença que não podemos compreender como atravessou séculos, repetida por gente que parecia saber raciocinar. Seria como se um homem tivesse uma fazenda e fosse lesado anos a fio por seus empregados. Então resolveu que perdoaria os empregados, mas com uma condição: que eles lhe matassem o filho único! Infantilidade inconcebível, essa teoria da "redenção", pela morte do "Filho de Deus". E o sentido do ensino é tão diferente! Vê-lo-emos a seu tempo.

24. Passa então o Cristo a falar no resultado das ações dos homens, e nas condições indispensáveis ao êxito da evolução, sem perigo de atrasos na caminhada. As condições são duas: a) ouvir o ensino que o Cristo nos traz, em nosso âmago; e b) confiar no Pai que em nós habita sob a forma de vida, e donde partiu o Filho para constituir nossa essência profunda.

Também os resultados obtidos serão duplos: a) ter a vida imanente, UNA com o Cristo e, por isso mesmo, b) não mais cometer erros, mas passar diretamente da morte do corpo encarnado para a vida liberta do Espírito, não mais sujeita à lei cármica das encarnações compulsórias (kyklos ananke).

Quem ouve o ensino e se entrega ao Pai confiadamente, atrai a si a graça do Encontro Místico e se unifica com o Cristo, que é um com o Pai (cfr. "eu estou EM meu Pai, e vós EM MIM, e eu EM VÓS",
João, 14:20). Ora, nesse estado, ninguém caminhará para o carma; mas, embora encarnado, "já se transladou (sentido literal de metabébêken) da morte para a Vida".

25.Com a repetição da fórmula de garantia da veracidade do que afirma, o Cristo assegura que chegará uma hora - e já começou desde aquele momento - em que os mortos (os encarcerados na carne) ouvirão a Voz do Filho de Deus, o Cristo Interno; e todos os que a tiverem ouvido (e seguida seus ensinamentos) viverão no Espírito.

26. Depois dessas explicações, já bastante claras, não satisfeito, utiliza-se o Grande Mestre Inefável de repetições didáticas, repisando os mesmos conceitos com palavras diferentes, a fim de evitar qualquer dúvida que ainda pudesse pairar na interpretação dos ouvintes. Toca novamente nos três pontos esclarecidos: a) a Vida; b) a escolha (livre-arbítrio) ; c) o resultado (carma) das ações livremente realizadas.

Diz, então: assim como o Pai tem vida em si mesmo (já não é mais o poder de dar vida, mas o fato de ter em si a vida), assim concedeu que o Filho tivesse vida em si mesmo.

Com efeito, proveniente da Vida-Amor, manifestação da Vida Plena, o Pai é a própria VIDA que se ativa sob o aspecto de Amante, e como o Filho é o próprio Pai que se estende e manifesta, também o Filho, o Cristo, tem em si a vida passiva sob o aspecto de Amado. Três aspectos de um só Amor; três faces de um só triângulo; três raios de uma só Luz; três harmônicos de um só Som; três expressões de uma mesma Vida.

27. Repete a seguir que o Pai concedeu ao Filho o poder da escolha, deixando-Lhe o livre-arbítrio, e isso "porque é Filho do Homem", porque já está na plena posse de suas faculdades psíquicas e intelectuais (racionais), podendo avaliar o que ele julga ser melhor para si mesmo.

28. Volta então ao assunto do carma, ao resultado das ações, esclarecendo que ninguém se maravilhe de ver chegar uma hora em que todos (pántes) nos túmulos (da encarnação física) ouvirão a voz do Cristo Interno, e sairão dos túmulos para colher o fruto de suas obras.

29. E aqui vem a separação: todos os que tiverem produzido "coisas boas" conseguirão uma restauração  de vida no Espírito imortal, mas aqueles que, porventura, tiverem praticado "ações vulgares" (de pouca valia, apenas cuidando dos interesses materiais), esses se encaminharão para uma restauração do carma.

A lógica da sequência do ensinamento é perfeita. Só não procederia, se acompanhássemos as traduções correntes, que falam em "ressurreição da vida" e em "ressurreição do juízo". Que significaria essa "ressurreição DO JUÍZO"? Não faz sentido o agrupamento dessas duas palavras. Por isso traduzimos aqui anástasis como "restauração", sentido real dessa palavra, registrado nos dicionários, e que nos esclarece com precisão o ensino do Cristo.

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