quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mateus é Chamado – O Sermão da Montanha

Estudo Dinâmico do Evangelho

Segunda edição

Amílcar Del Chiaro Filho

Capítulo IX – Mateus é Chamado – O Sermão da Montanha

Jesus passando por uma rua vê uma coletoria e sentado, o chefe dos cobradores de impostos (Publicano) e o chama. Levi (Mateus) abandona o seu escritório e segue o Rabi.

Publicanos eram agentes do tesouro público. Eram pessoas que compravam do governo o direito de cobrar impostos, pagando antecipadamente, do seu bolso, a quantia estimada pelas autoridades do Tesouro, ficando com o comprador, o risco de recuperar o seu dinheiro. Segundo Torres Pastorino, o Coletor distribuía os seus agentes para cobrar taxas de pedágios, de trânsito de mercadorias, de caravanas do comércio, de alfândegas e etc. dentro do distrito que lhe cabia por direito. O que arrecadasse era seu, inclusive o superávit (sempre era cobrado a mais.)

Alguns, mais afortunados compravam o direito sobre toda uma província e eram considerados chefes dos publicanos, como Zaqueu. (Lucas 19: 3).

Eles eram mal vistos pelo povo, pois cobravam muito mais do que deviam. Os judeus os consideram traidores e apóstatas. O *Talmude proibia que fossem testemunhas ou juizes nos processos e eram considerados legalmente impuros, por estarem sempre em contato com os não judeus. As autoridades faziam vistas grossas às suas roubalheiras, porque a profissão era execrada e arriscada. Imaginem o impacto causado por Jesus, ao escolher um publicano, como discípulo.

* Talmude – Uma das obras mais importantes do judaísmo pós-bíblico e considerada a interpretação autentica da *Toráh, ou lei escrita.

TORAH – (lei) Os cinco primeiros livros da Bíblia hebraica que contém o essencial da lei mosaica.

Mateus, ou Levi, ofereceu um banquete a Jesus e aos seus colegas, como despedida das suas funções. Citamos este fato apenas por um ensinamento notável. Criticado pelos Fariseus e Doutores por estar se banqueteando com publicanos, ladrões e prostitutas, o Mestre cita um aforismo (sentença): Os sãos não necessitam de médico, mas sim os enfermos. Depois conclui - Não vim chamar os justos, mas os pecadores.

Examinemos ligeiramente duas sentenças ditas por Jesus: não se coloca remendo de pano novo (não molhado) em vestido velho! Isto significa que quando o vestido for lavado, o pano novo vai encolher e repuxar o velho, ficando maior o rasgão. Da mesma forma trata do vinho novo que vai arrebentar odres velhos. Lucas acrescenta a frase que a chave do entendimento: quem experimenta o vinho velho não quer saber do novo, pois o velho é melhor. (ou seja, acredita que a sua crença anterior é melhor) Isto quer dizer que para aceitar o Evangelho é preciso que o seguidor do Velho Testamento esvazie o seu entendimento, liberte-se dos preconceitos, (transforme-se num odre novo ou num novo homem, renovado pelo conhecimento), para iniciar um novo aprendizado.

É por isso que muitos tem dificuldades para aceitar o Espiritismo, porque consideram suas doutrinas anteriores melhores. (vinho velho) E, se permanecem no Espiritismo, (vinho novo), tentam introduzir práticas das suas doutrinas velhas, ou se perturbam intelectual e espiritualmente.

O Sermão da Montanha: Esta é a mais linda sonata de amor contida nos Evangelhos. O Mahatma Gandhi, a Grande Alma da Índia, que não era cristão, afirmou que se todos os livros sagrados da humanidade se perdessem, mas não O Sermão da Montanha, nada se teria perdido.

Para escrever as páginas que se seguem, procurei ler vários autores, e embeber-me dos seus pensamentos, inebriar-me da cultura evangélica de cada um deles, e consultar, também, o meu mundo interior, os refolhos de minh’alma; talvez aquilo que ficou sedimentado em meu ser desde as vidas anteriores, trazendo-as agora ao consciente.

A contribuição maior é de Torres Pastorino, e começamos por ele, que cita Lucas 6:17-26 e Mateus 5: 1-12. Estes versículos contém As Bem-aventuranças. Jesus havia subido a um monte para orar e após passar uma noite em orações, escolheu os 12 discípulos: Simão Pedro – André – Tiago Maior (mais velho) – João – Filipe – Bartolomeu – Tomé – Mateus – Tiago Menor (mais novo) – Tadeu – Simão Cananita e Judas Iscariot.

Lucas diz que Jesus desceu a um lugar plano onde encontrou uma multidão. Mateus afirma que Jesus, ao ver a multidão, subiu a um monte. Um fato tão simples e nos parece contraditório. Afinal, Jesus desceu ou subiu? É simples: ao descer, Jesus chegou ao entendimento dos mais humildes, falando das coisas objetivas, que compunham a vida daquelas pessoas vulgares. Ao subir, alcançava os mais evoluídos, falando das coisas transcendentais.

Como não queremos nos tornar cansativos, vamos abordar a face mais elevada, procurando sintetizar os nossos comentários.

Bem Aventurado os pobres de espírito: Carlos Torres Pastorino traduz como mendigos do espírito, o que implora a Deus a esmola do conhecimento, da sabedoria, ou poderíamos dizer como Sócrates, aqueles que sabem que nada sabem.

As demais bem-aventuranças, elas se referem ao ato de subir. Jesus não falava de recompensas após a morte, pois, no plano espiritual não se farta de bebidas ou de comidas e nem se fica feliz com o sofrimento dos outros. Jesus falava, sem a menor sombra de dúvidas, das vidas sucessivas, da reencarnação. Os pobres, os infelizes, os oprimidos, os injustiçados, os que choram, poderão, nas vidas futuras serem saciados, felizes e sorrirem.

Também não basta chorar para ser Bem-aventurado. Geralmente os que choram são fracos, mas com o aprendizado através das reencarnações, se tornarão fortes e rirão de seus tempos de angústias. Visto de uma forma um pouco mais simples, podemos entender a alternância das reencarnações. Ora somos ricos, ora pobres. Ora desgraçados, e depois felizes.

Huberto Rohden traduz a primeira Bem-aventurança por – Bem-aventurados os pobres pelo espírito. Rohden faz um ácido comentário sobre a ignorância dos tradutores, e chama de arrogantes profanadores os que deturparam uma das mais sublimes mensagens do Cristo. Afirma que nem no texto grego do primeiro século, nem na tradução latina da Vulgata, se encontra o tópico “pobres de espírito”, e sim, pobres pelo espírito, ou pobres segundo o espírito.

Cairbar Schutel, no Parábolas e Ensinos de Jesus, comenta: Os pobres de espírito são os humildes que nunca mostram saber o que sabem, e nunca dizem ter o que tem; a modéstia é o seu distintivo, porque os verdadeiros sábios são os que sabem que não sabem. (um pouco à frente): sem a humildade nenhuma virtude se mantém. A humildade é o propulsor de todas as grandes ações e rasgos de generosidade, seja na Filosofia, na Arte, na Ciência, na Religião.

Nosso intuito não é examinar o Evangelhos passo a passo, mas destacar alguns pontos e comentá-los, assim como colocar opiniões diversas, de autores consagrados ou não.

Os mansos herdarão a Terra. Isto significa que a Terra, um dia, será depurada, dos maus, violentos, opressores, dominadores, para ser um refúgio de paz.

Mansidão não é covardia, não é omissão, mas segurança de quem sabe para que está na Terra e como conquistar a sua evolução. Contudo, sem a reencarnação não é possível entender essa bem-aventurança. Nas vidas futuras, um dia, herdaremos um mundo pacífico.

Recorremos novamente a Cairbar Schutel: “A delicadeza e a civilidade são filhas diletas da mansidão. — Os mansos e os humildes de coração possuirão a Terra, porque se elevam na hierarquia espiritual e se constituem outros tantos propugnadores invisíveis do progresso de seus irmãos, guiando-lhes os passos nas veredas do amor e da ciência — nobres ideais que nos conduzem a Deus. — É da cólera que nasce a selvajaria que tantas vítimas tem feito. Da mansidão vem a indulgência, a simpatia, a bondade e o cumprimento do amor ao próximo”.

Comenta Del Chiaro: Sabendo que somos herdeiros de nós mesmo, podemos afirmar que o mundo atual, que é violento, corrupto, pornográfico, injusto, cruel, foi feito à nossa imagem e semelhança. Nós, coletivamente, através das vidas sucessivas, construímos esse mundo, e cabe-nos implodi-lo, metaforicamente falando, e construir um mundo novo, de paz, harmonia, bondade, justiça social e amor. Um mundo onde ninguém morra de fome, nem mesmo de fome de aceitação e amor. Um mundo onde todos tenham o suficiente para viver com dignidade, e ninguém seja desprezado, humilhado, oprimido.

Apenas como curiosidade vamos lembrar que sobre essa herança falam: David – Salmo 37: 11 — Os mansos herdarão a Terra e se deleitarão na abundância da paz. — Isaías - 65: 9 — Meus escolhidos herdarão a Terra e meus servos nela habitarão — Provérbios 2: 21 – 22 – porque os homens retos habitarão a Terra e os íntegros nela permanecerão.

Huberto Rohden comenta: Indício infalível da verdadeira auto realização é a mansidão. O homem que encontrou o seu Eu divino é necessariamente manso. A mansidão consiste na desistência de qualquer violência, tanto física como mental, e sua substituição pela força do espírito.

Rohden diz ainda; Podem os violentos conquistar a Terra, apoderar-se dela à força de armas e carnificinas — mas eles nunca possuirão a Terra, e menos ainda os homens da terra. O verdadeiro possuir não é um ato físico, material, mas uma atitude metafísica, espiritual.

Pastorino afirma que a tradução correta da bem-aventurança — Os que tem fome e sede de justiça, é: os que tem fome, que aspiram a perfeição, os que desejam o ajustamento, no sentido de justeza.

Huberto Rohden diz que não se trata de justiça como coisa jurídica, mas de relação, atitude justa e reta que o homem assume em face de Deus.

Os misericordiosos são aqueles que distribuem bondade, bênçãos à mão cheias sobre todos indistintamente. Fome de justiça é contraditório com a misericórdia.

Rohden afirma: Quanto mais o homem dá na horizontal, mais recebe, na vertical. Existe uma lei cósmica que produz infalivelmente o enriquecimento do homem que em si mantém permanentemente uma atitude doadora, que está sempre disposto a dar do que tem e a dar do que é, ou seja, ajudar os seus semelhantes com os objetos que possui e com o amor do próprio sujeito que ele é. Não basta fazer o bem (dar objetos) — é necessário também ser bom (dar o sujeito).

Os limpos de coração não significa castos no sentido sexual. O sexo é lei divina e não tem nada de impuro, a não ser quando o homem ou a mulher torna-se abjeto. Limpo de coração representa o desapego completo. É aquele que é bom, isento de maldades.

Os Pacificadores são aqueles que tem a paz dentro de si e distribui essa paz, vibra harmoniosamente e não se deixa dominar pela zanga, pela ira, pelo ódio. Os pacificadores são os construtores da paz.

Nossa ligação com Deus, através de um Mestre como Jesus, sofre intermitências. Só será definitiva e completa com a nossa evolução, quando formos firmemente cósmicos, quando o plano divino, no corpo ou fora dele, o que será possível através das vidas sucessivas.

Todos os que adentram o caminho dos conhecimento superior, mesmo que seja um ou dois passos, são perseguidos, execrados, injuriados por tentar viver em retidão. São felizes porque a perseguição apressará a sua evolução. Porém, a oposição ao nosso progresso não é apenas externa (vinda de outras pessoas), mas também interna (nossas tendências, vícios, desejos), o que configura a estrada estreita.

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