terça-feira, 25 de junho de 2013

SOLICITAÇÕES MATERNAIS

SOLICITAÇÕES MATERNAIS

Artigo publicado no jornal Unificação - Ano XIII - Maio de 1965 - Número 146

E eis que uma mulher Cananéia que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.”.
Mas ele não respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a que vem gritando atrás de nós.
E ele respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
Então chegou ela e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me.
Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-los aos cachorrinhos.
E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores.
Então, respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé, seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde àquela hora a sua filha ficou sã.
(Mateus, 15:22-28).

Então se aproximou dele à mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e fazendo-lhe um pedido.
E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem um à tua esquerda e outro à tua direita, no teu reino.
Jesus, porém, respondendo, disse: não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu hei de beber e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?
Dizem-lhes eles podemos.
Na verdade bebereis o cálice que eu tenho de beber, porém, o assentar-se à minha esquerda ou à direita, somente ao Pai Celestial cabe designar.
(Mateus, 15:22-28).

Enquanto a primeira passagem evangélica, acima descrita, revela a exuberância do amor materno, numa autêntica explosão de fé viva, a segunda nos propicia também uma efusiva demonstração de amor maternal, porém eivada de sentimentos egoísticos, pois, enquanto a mulher Cananéia ambicionava meramente a cura de sua filhinha, a mãe de Tiago e João almejava ver seus dois filhos em situação de proeminência, ainda que fosse em detrimento dos demais apóstolos.
A mãe Cananéia suplica, com o coração transbordante de humildade, a libertação de sua filhinha que jazia subjugada a espíritos trevosos, merecendo do Cristo inequívoca demonstração de apreço pela firmeza de sua convicção e o subseqüente atendimento à sua angustiosa solicitação.
A mulher de Zebedeu, embora fosse a progenitora de dois dos mais destacados apóstolos de Jesus, mereceu como réplica à sua solicitação, um vislumbre da responsabilidade que um pedido daquela natureza envolvia e uma negação tácita ao atendimento do seu desejo.
O Mestre havia sido enviado “às ovelhas desgarradas da casa de Israel”, pois, o povo judeu era o único que esposava, naqueles tempos, idéias monoteístas e vinha sendo convenientemente preparado no decurso de vários séculos, e através da ação ininterrupta dos profetas, para receber em seu seio o tão esperado Messias.
A missão de Jesus, conseqüentemente, embora tivesse um cunho universal e amplo, sem qualquer espécie de limitação, deveria ser e realmente foi, desenvolvida exclusivamente no âmbito do povo hebreu. O Nazareno não se dedicou particularmente às outras comunidades, pois, em apenas três anos de Messiado não poderia abranger maior área de ação e estava implícito nos propósitos do Alto suscitar, pouco mais tarde, o Apóstolo Paulo para levar as palavras da Boa Nova a todas as nações.
Procurado pela mulher Cananéia, Jesus teve a oportunidade de propiciar a seus apóstolos conspícua demonstração da amplitude do seu amor, atendendo a uma mulher estrangeira, fato que naquela altura não repercutia bem entre seus discípulos, os quais repudiavam quaisquer contactos com os chamados gentios. A cura assim operada teve o mérito de demonstrar que para Jesus não havia preconceitos nem zelos infundados.
Mãe não é aquela que abandona ou mata seu filhinho. Ser mãe, no dizer do poeta, “é sofrer num paraíso”, é ser dócil, meiga, dedicada, disposta a todos os sacrifícios. Maternidade significa pôr em prática a lei divina, da qual o Messias foi à máxima expressão.
Os direitos do nosso próximo começam onde terminam os nossos. O gesto da mãe de Tiago e João, embora, eivado de egoísmo, tinha a sustentá-lo o mais puro amor de mãe, pois ela, numa atitude talvez impensada, procurava uma situação de relevo para seus filhos, sem saber quais os qualificativos exigidos e sem cogitar do quanto isso afetaria os direitos do próximo.
Os dois apóstolos, subjugados pelo império da carne, estavam longe de pensar que o cálice que o Cristo afirmara ter que tragar, era o drama do Calvário, daí a pronta resposta: também poderemos tragá-lo. No, entretanto, segundo afirmam os Evangelhos, todos os discípulos do Mestre o abandonaram quando Judas o entregou aos soldados.
Consoante a predição do Mestre, aqueles dois apóstolos também beberiam do cálice, como de fato beberam, pois Tiago foi mais tarde passado a fio de espada por ordem de Herodes, e João Evangelista pereceu depois de prolongado exílio na Ilha de Patmos. Porém, o assentar-se à sua esquerda ou à sua direita era parte dos desígnios do Pai Celestial.
Jesus, referindo-se a João Batista, afirmou categórico: “João é o maior dentre os nascidos de mulher, mas, no reino dos Céus, o menor que ali existe é maior que ele”. Se estivesse no Cristo designar quem assentar-se-ia à sua direita ou à sua esquerda, é obvio que João Batista teria prioridade por ser espiritualmente maior que João Evangelista e Tiago, entretanto, se no Reino dos Céus o menor que ali existe é ainda maior que João Batista, deriva-se que outros teriam prioridade no gozo daquele privilégio.

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