segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A REENCARNAÇÃO ESTÁ NA BÍBLIA


Carlos César Barro

Jesus Cristo havia subido ao monte Tabor com três de seus discípulos para orar: Pedro, Thiago e João. Chegando ao topo, o Mestre se transfigura perante os apóstolos e eis que aparecem junto deles Moisés e Elias, já falecidos há centenas de anos, que conversam com o Senhor. Depois, Ele e seus seguidores desceram da pequena elevação e se envolvem no diálogo que colocamos ao lado.

Nas Escrituras Sagradas, mais precisamente no livro de Malaquias, há uma profecia afirmando que antes da vinda do Messias, o profeta Elias deveria novamente retornar. Sem entendê-la direito, os Escribas e os Fariseus, religiosos da época e inimigos de Jesus, apegavam-se nela para afirmarem que o Mestre não era o Filho de Deus, pois não tinham visto a Elias.

Indagado sobre a vinda do profeta, Jesus responde que ele já havia nascido, e que ninguém o tinha reconhecido. Então, os apóstolos compreenderam que se tratava de João Batista, a quem o Mestre se referia.

Em outra passagem anterior à citada, Jesus também afirma que João era Elias : ...Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça (Mateus 11: 13 a 15).

João Batista era primo de Jesus, filho de Izabel e Zacarias. É importante não confundir este João com o apóstolo do mesmo nome, chamado o Evangelista. O Batista começou a pregar no deserto, onde morava. Vestia-se de pele de animais e comia mel silvestre e gafanhotos. Sua pregação era muito enérgica, conclamando o povo a seguir os ensinamentos morais das Escrituras. Quando alguém se convertia a sua doutrina, prometia que dali em diante sua vida iria mudar. João mergulhava esta criatura nas águas do Jordão, num ato simbólico de batismo, para selar o compromisso. Este ato foi chamado de "batismo pela água". Daí o nome "Batista". Note que na época só se batizavam adultos.

Chegando Jesus à margem do Jordão, foi também batizado por João, "para que se cumprissem as antigas profecias". Este acontecimento marcou o início da vida pública do Mestre e o declínio da pregação do Batista. João foi preso pelo rei Herodes, por causa das críticas que ele fazia ao adultério do rei com sua cunhada Herodias, mulher de seu irmão Felipe. No aniversário do rei, Herodias pediu a cabeça de João. A história dos Evangelhos ilustra a vida de trabalho do Batista, à causa do Bem.

O Evangelho de Lucas, capítulo I, versículos 36 a 45, pode ser analisado. Nele, é contada a história da gravidez de Izabel, mãe do Batista, prima de Maria, a mãe de Jesus. João nasceu de parto normal, como outra criança qualquer. Conclui-se pois, que se Jesus afirmou que João era o Elias da profecia, deu inequívoco testemunho de que o Espírito ou a Alma pode entrar no ventre da mãe para nascer de novo.

Existem outras passagens que mostram que alguns judeus acreditavam na reencarnação. Muitas vezes perguntavam ao Mestre se ele era um dos antigos profetas que havia voltado (veja Mateus 16: 13 a 16). Se eles assim questionavam, é que entendiam que os Espíritos tinham possibilidade de viverem outras vidas.

Quanto a Jesus não ter utilizado o termo "reencarnação" naquela época, ele mesmo responde numa conversa com Nicodemos, o fariseu simpático a Jesus:

Em verdade te digo que aquele que não nascer de novo , não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode retornar ao ventre de sua mãe? Jesus respondeu: Na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito. Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Nicodemos respondeu: Como pode ser isso? Jesus disse: Tu és mestre de Israel e não sabes disso? ... Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crereis se vos falar das celestiais? (S. João, cap.III - vers. 3 a 12).

Jesus deixa claro que nem todos estavam aptos a entenderem a verdade como ela hoje nos é apresentada pela Doutrina. Afinal, a encarnação do Mestre foi há quase dois mil anos. Não havia condições intelectuais para se entender as abstrações da vida espiritual. Por este motivo, o Mestre sempre dizia os que têm olhos para ver, vejam; os que têm ouvidos para ouvir, ouçam. Não falou claramente da reencarnação, nem da vida após a morte, mas o fez nas entrelinhas. As Escrituras Sagradas nos fornecem subsídios importantes para crermos na reencarnação como dádiva de Deus. BANCO DE DADOS

Publicado no Jornal Entenda a Vida, edição 1

ELIAS - JOÃO BATISTA: UM CASO DE REENCARNAÇÃO


As escrituras deixam claro que o conceito de reencarnação era ensinado ao povo, apesar das diversas traduções terem deturpado os tentos.

Por Laylla Toledo
Elias foi um dos profetas referidos no Velho Testamento que viveu no século IX a.C. Não há livro na Bíblia escrito por ele, mas existem referências a seu respeito em diversos autores como Terceiro Livro dos Reis (Cap. 17) e Quarto Livro dos Reis (Cap. 1), Juizes e Malaquias.

Ele viveu ao tempo do Rei Acab e da rainha Jezabel, com quem esteve em constante oposição, por causa do culto que era promovido ao deus pagão Baal.

É considerado servo intrépide do Javismo (termo que vem de Javé ou Jeová, Deus segundo os hebreus), apesar do excessivo rigor e das atrocidades que ele praticou. Dentre essas, destaca-se aquela que fez descer fogo do céu e queimar um capitão juntamente com seus cinqüenta comandados, quando este foi buscá-lo por ordem do rei Acab.

O mesmo fato se repetiu com uma segunda brigada (um capitão e mais os seus cinqüenta soldados), assim como a mortandade dos 450 sacerdotes de Baal, que os fez passar pelo fio da espada, junto ao ribeiro de Quison (3° Reis, 18:40). Tem-se no total um saldo de 552 mortos.

A volta do Profeta Elias foi prevista por Malaquias: “Eis que vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor” (4:5).



A VIDA DE JOÃO BATISTA

João Batista era primo de Jesus, filho de Isabel e Zacarias. Levou uma vida muito austera. Abstendo-se de bens e prazeres, vivendo unicamente para o ministério do bem, convocando o povo ao arrependimento dos pecados e a se prepararem para receber o Redentor.

Chamado de “O Precursor”, vestia-se de peles e alimentava-se de mel e animais silvestres e verberava intimoratamente os atos de degradação humana, fosse em que nível fosse. Por esta razão, caiu na antipatia de Herodíades, acusada por ele pela sua união ilícita com o cunhado, o rei Herodes, irmão de Filipe (Marcos 6:17).



A REENCARNAÇÃO NA BÍBLIA

A identificação dos dois personagens como sendo o mesmo espírito está bem claro nas escrituras. O retorno de Elias foi anunciado pelo anjo Gabriel: “[...] o anjo disse-lhe: Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração; e tua mulher Isabel te dará a luz um filho, e por-lhe-ás o nome de João. E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus; e irá adiante dele com o espírito e a virtude de Elias, a fim de reconduzir os corações dos pais para os filhos” (Lucas 1:13).

Outra passagem que assinala a identificação do profeta como sendo o próprio João Batista é quando os apóstolos Pedro, Tiago e João perguntaram a Jesus, após a Transfiguração, sobre a volta de Elias: “Por que, pois, os escribas dizem que é preciso que Elias venha antes? Mas Jesus lhes respondeu: é verdade que Elias deve vir e restabelecer todas as coisas; mas eu vos declaro que Elias já veio, e não o conheceram, mas trataram como lhes aprouve. É assim que eles farão sofrer o Filho do Homem. Então seus discípulos compreenderam que era de João Batista que lhes havia falado”. (Mateus 17:10)

Aqui se trata da reencarnação de Elias na figura de João, explicação esta vista pelos apóstolos com muita naturalidade, justamente por estarem familiarizados com a realidade da reencarnação e esta fazer parte de sua crença religiosa, o judaísmo.

As palavras de Jesus confirmam tal fato em Mateus, referindo-se a João como o próprio Elias (espírito): “E, desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus adquire-se à força, e os violentos arrebatam-no. Porque todos os profetas e a lei, até João, profetizaram. E, se vós o quereis compreender, ele mesmo é o Elias que há de vir. O que tem ouvidos para ouvir, ouça” (11:12).

A violência da lei mosaica ordenava o extermínio dos infiéis para ganhar a terra prometida – Paraíso dos Hebreus, por isso a citação “o reino dos céus adquire-se à força”. No período de Jesus, a nova lei estabelecia que, para se ganhar o reino dos céus o trajeto deveria ser outro – o da caridade e da doçura.



ELIAS VOLTA COMO JOÃO BATISTA

Quando Jesus disse que Elias já teria vindo e que ninguém o reconheceu, muitos interpretam que João era inspirado por Elias e não que era o próprio profeta. Mas essa identificação dos dois personagens sendo a mesma pessoa mostra também um outro aspecto, a Lei de Causa e Efeito. Na figura de Elias, mesmo falando em nome de Deus, ele cometeu alguns excessos e violências em sua época. Posteriormente, o seu espírito veio na figura de João Batista para preparar o povo para receber as palavras do Messias. Entretanto, pelo fato de ter cometido os excessos em sua vida anterior, veio resgatar parte de seus débitos sofrendo a decapitação por ordem de Herodes, a pedido de Salomé, que o agradou numa apresentação de dança, manobrada ardilosamente pela sua mãe, Herodíades.

Note-se a analogia das circunstâncias: na ocasião em que era conhecido como Elias, enfrentou a rainha Jezabel, tendo-a vencido pelos poderes, matando os sacerdotes e suprimindo o culto ao deus Baal. Na segunda ocasião, já como João Batista, ele é morto por maquinação também de uma rainha.

O conceito de reencarnação fazia parte das crenças judaicas. Esse conhecimento dos judeus só foi ampliado no momento em que Jesus trouxe-lhes mais informações sobre o processo reencarnatório. No diálogo entre Nicodemos e o Mestre podemos observar a atenção dada ao assunto: “Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruir como um doutor; porque ninguém poderia fazer os milagres que fazeis, se Deus não estivesse com ele. Jesus lhe respondeu: Em verdade, em verdade vos digo: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. Nicodemos lhe disse: Como pode nascer um homem que já está velho? Pode ele entrar no ventre de sua mãe, para nascer uma segunda vez? Jesus lhe respondeu: Em verdade, em verdade vos digo: Se um homem não renascer de água e de Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não vos espanteis do que eu vos disse, que é preciso que nasçais de novo. O Espírito sopra onde quer, e ouvis sua voz, mas não sabeis de onde ele vem e para onde ele vai. Ocorre o mesmo com todo o homem que é nascido do Espírito. Nicodemos lhe respondeu: Como isso pode se dar? Jesus lhe disse: Que! Sois mestre em Israel e ignorais essas coisas? Em verdade, em verdade vos digo que não dizemos senão o que sabemos, e que não testemunhamos senão, o que vimos; e, entretanto, vós não recebeis nosso testemunho. Mas se não me credes quando vos fato das coisas da Terra, como me crereis quando vos falar das coisas do céu?” (João 3:2-12).

Como nota de esclarecimento, é preciso identificar o significado da palavra água no texto. O renascimento “de água” e “de espírito” é nada mais do que a retomada da experiência física, cuja constituição é eminentemente líquida. Portanto, o renascer de água é reencarnar e o renascer de espírito é evoluir, progredir moralmente.



ERROS DE TRADUÇÃO: NEGLIGENCIA

O prof.. Carlos Juliano Torres Pastorino (19101980), Docente do Colégio Pedro II e catedrático da Universidade Federal de Brasília, diplomado em Teologia e Filosofia pelo Colégio Internacional Santo Antônio Maria Zaccaria, em Roma, era um exímio latinista, helenista e poliglota. De acordo com os conhecimentos do Prof. Pastorino, freqüentemente são traduzidos por “ressuscitar” os verbos gregos egeírô (estar acordado, despertar) e anístêmi (tornar a ficar de pé, regressar), e que este último, encerra um sentido em geral negligenciado pelos tradutores: o de reencarnar. As Escrituras não falam em “ressurreição dos corpos” ou “da carne”, mas em anástasis ek ton nekrõn, ou seja, “ressurreição dos mortos”. De posse destes esclarecimentos oferecidos por uma autoridade lingüística, torna-se relativamente fácil identificarmos os sentidos negligenciados propositadamente pelos tradutores modernos. A ressurreição ocorre com os mortos e não com os corpos.

Na Epístola aos Hebreus (11:35), onde se lê: “Mulheres receberam os seus mortos pela ressurreição”, vemos que são as “mulheres” e não os homens, pois elas é que podem gerar em seus ventres os corpos destinados à reencarnação, ao ressurgimento dos espíritos “mortos” no mundo físico.

Os gregos acreditavam na existência do Hades (lugar dos mortos), de onde as almas retornavam para a vida, denominando este fenômeno como “palingênese” (palinggenesia: novo nascimento). Assim como os gregos, os hebreus também acreditavam que as almas dos mortos voltavam à vida, que do Sheot elas retornavam ao mundo da matéria, conhecido como “anástasis” (do verbo anístêmi, composto de ana: ´para cima´, ´de novo´ ou ´para trás´; e ístêmr. ´estar de pé´. Ou seja: tornar a ficar de pé, regressar), expressão traduzida por “ressurreição”. Está escrito: “O Senhor é o que tira a vida e a dá: faz descer ao sheol e faz tornar a subir dele.” (1 Sm 2:6). Apesar de tentarem alterar o significado do texto, traduzindo inúmeras vezes “Sheol” por “sepultura”, para os mais atentos, se buscarmos a origem das palavras, veremos que a mensagem é clara quanto a afirmação: regressar do Sheol, regressar do mundo dos mortos.

A palavra Sheol é hebraica, e designa o lugar para onde iam todos após a morte: tanto os justos como os injustos, havendo, no entanto, nessa região dos mortos, uma divisão para os justos, e outra para os injustos, separados por um “abismo intransponível” (Lc 16.26). O lugar dos justos era de felicidade, prazer e segurança. Já o lugar dos ímpios era medonho, ignífero (onde há fogo), cheio de dores, sofrimentos, estando todos perfeitamente conscientes.

Em muitas das passagens bíblicas, as inúmeras referências ao Sheol possuem imperfeições na sua tradução. Certas versões em português traduzem a designação hebraica por sepultura e outros termos afins, como inferno (Dt 32.22; 2 Sm 22.6; Jó 11.8; 26.6; 5116.10), o que traz confusão. (Gn 37.35; Nm 16.30,33; Já 17.16;11.8; SI 30.3; 86.13;139.8; Pv 9.18; 15.24; Is 14.9; 38.18-32; Ez 31.15,17; Am 9.12).

A expressão grega “palinggenesia” (palingênese), segundo o Prof. Pastorino, era o termo técnico da reencarnação entre os gregos. No entanto, São Jerônimo, geralmente, o traduzia por regeneração.

Já a palavra “ressurreição” é a tradução da expressão grega “anastasis” originária do verbo “anistemi”, que significa tornar a ficar de pé, mas também “regressar”.

A palavra “reencarnação” não se encontra nas escrituras, mas na cultura judaico-cristã. Entre eles havia o conceito de ressurreição, que é justamente o que chamamos hoje de “reencarnação”.

O conceito reencarnacionista foi dissimulado nos textos bíblicos ao longo dos séculos, alterando-se com isso, o seu conteúdo. Referências do século II d.C., onde Orígenes, um dos pais da Igreja, comenta que: “Presentemente, é manifesto que grandes foram os desvios sofridos petas cópias, quer pelo descuido de certos escribas, quer pela audácia perversa de diversos corretores, quer pelas adições ou supressões arbitrárias.” Portanto, a intenção de distorcer o conteúdo bíblico já vem de longa data.

Se nos dedicarmos ao estudo profundo dos fatos, veremos que tudo é uma questão de resgate do verdadeiro sentido das palavras, que assumiram significados diversos no decorrer do tempo. Através da pesquisa etmológica, sem dúvida, chegaremos à verdade original dos textos.



O RETORNO DO CRISTIANISMO PURO

O início do Cristianismo, conhecido como Cristianismo primitivo, trazia em si uma pureza doutrinária, sendo recente a passagem do Cristo peta região. Mas o Cristianismo sofreu uma transformação no momento em que se tornou a religião oficial do Império Romano. A mistura de costumes politeístas (crença de vários deuses) com o Cristianismo puro inaugurou o Catolicismo. Este evento modificou os costumes cristãos e introduziu hábitos de cultura politeísta, surgindo rituais que não existiam até então.

O conceito de reencarnação, como meio pela qual a alma se redimi por si só, significava a falência do poder político e religioso da Igreja. Por este motivo, começou a considerar-se todos os seguidores da idéia da reencarnação como criminosos passíveis de pena de morte a partir do ano de 553 d. C., no Concílio de Constantinopla.

Assim, a tradução dos textos evangélicos primitivos e a confecção do Novo Testamento (Vulgata Latina) buscaram eliminar qualquer informação que se reportasse ao conceito de sobrevivência de alma e o seu retorno a um novo corpo, para uma nova existência.

Por se tratar de um obstáculo aos interesses de alguns, este importante ensinamento deixou de fazer parte das celebrações cristãs e dos cultos da Igreja. Mas o assunto em foco reapareceu muito tempo depois, com toda a sua força e transparência através dos fenômenos das Irmãs Fox em 1848, e com a publicação da obra O Livro dos Espíritos, em 1857.

Portanto, a idéia da reencarnação sempre esteve presente no cristianismo primitivo dos tempos apostólicos, e algum tempo depois, na pureza dos ensinos cristãos contidos nas comunicações reveladas pelo espiritismo. Os elementos básicos como a caridade, o amor ao próximo e a reencarnação são semelhanças facilmente observáveis entre os dois. Sendo este o principal motivo que identifica o espiritismo como sendo o Cristianismo Redivivo.

A reencarnação é fato, e negá-la não é suficiente para justificar e manter o atual sistema religioso. Até a Ciência, recentemente, dá provas de que a vida não termina com a morte do corpo, mas que continua em outra dimensão. A divulgação da verdade depende de nós – os caminheiros redivivos.

(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo, nº 24, páginas 48-52)

JOÃO BATISTA FOI ELIAS REENCARNADO?

Benedito da Gama Monteiro

As profecias anunciam há muitos séculos, antes de Jesus, a vinda do precursor, o anjo do senhor, que viria investido de uma missão sublime, preparatória, de burilar os sentimentos, aparando as arestas internas para que os homens da época adquirissem as condições morais ideais para receberem os ensinamentos sublimes do Consolador que, como sementes, precisavam de um terreno fértil, limpo, saneado, de modo a encontrarem o ambiente apropriado as suas germinações.

A esse respeito, encontramos em Isaías (40:3):

"Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai na solidão as veredas do nosso Deus."

Esta profecia foi ratificada pôr Malaquias em 3:1:

"Eis que mando eu o meu anjo, e ele preparará o caminho diante da minha face. E imediatamente o Dominador que vós buscais, e o anjo do testamento que desejais, virá ao seu tempo.".

O Evangelista Mateus em 3:3, confirmou as profecias dizendo que João Batista era o anunciado pelo profeta Isaías :

"Voz do Senhor, endireitai as suas veredas."

Ainda em Mateus,(11:10,11 e14), Jesus falando sobre João Batista diz:

"Porque é este de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio o meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho....".

E se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir."

Vemos, depois da transfiguração de Jesus no alto do monte, quando aconteceu o fenômeno de ectoplasmia (materialização) de dois varões, Moisés e Elias, o diálogo entre os discípulos de Jesus que o interrogaram (Mateus, 17:10 a13):

"(...) - Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?"

E Jesus, respondendo, disse-lhe: "Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; Mas digo-vos que Elias já veio e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem.". Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista." (sublinhei)

Como vimos nas duas citações, Jesus foi bem claro afirmando ser João Batista, Elias reencarnado, no que compreenderam muito bem os seus discípulos.

Em Lucas (1:16 e17) o anjo Gabriel falando a Zacarias de seu filho João Batista diz:

"E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus.

E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao senhor um povo bem disposto."(sublinhei)

Em outra passagem de Lucas, (1:76 a 79), Zacarias cheio do Espírito Santo, profetizando, fala de seu filho João Batista:

"E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos;

Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados(...)".

A única argumentação contrária a tese reencarnatória de João Batista como Elias sai da própria boca de João Batista em João (1:19 a 23), respondendo às perguntas dos sacerdotes e levitas:

" (...) - Quem és tu? Disse João Batista: Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe: Então quem és? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram pois. Quem és? Para que demos respostas àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.".

A resposta de João suscita algumas dúvidas:

Por que ele negou ser Elias, porém afirmou ser o Precursor, embora Jesus tenha afirmado que Elias viria primeiro para restaurar todas as coisas, ou seja, Elias viria como o precursor.(Mateus, 17:10 a 13).

Em conclusão, podemos raciocinar com três hipóteses:

1ª- João pôr questão de humildade não quis afirmar ser Elias, pôr sinal a mesma virtude demonstrada quando inicialmente recusou batizar Jesus, dizendo não ser digno, sequer, de carregar as alparcas do Mestre (Mateus, 3:11) e que Jesus é quem deveria batizá-lo (Mateus, 3:14);

2ª- Esquecimento do passado: Encontramos em o livro "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, item 11, Cap. V: "Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimo inconveniente. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais.

Freqüentemente , o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se reconhecesse nelas as a quem odiara, quiçá o ódio se lhe despertaria outra vez no íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse ofendido.

Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente, o de que necessitamos e nos basta; a voz da consciência e as tendências instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial."

Ao reencarnar, João Batista veio cumprir sublime missão, "a de preparar os caminhos do Senhor" em função de sua elevada evolução espiritual, tendo isso sido realçado pôr Jesus em Mateus (11:11):

"Em verdade vos digo que, entre os que de mulher tem nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista, mas aquele que é menor no reino dos céus é maior do que ele.".

Era evidente que Jesus estava se referindo a vida passada de João, quando foi Elias e que também veio desempenhar nobre missão e extrapolou seus direitos, ao vencer a aposta diante do Rei Acabe, no Monte Carmelo, provando que o Deus que libertou o povo Hebreu do jugo dos Egípcios, tendo como líder Moisés, o Deus único e verdadeiro, era mais poderoso que o Deus Baal, cujos adeptos em torno de 450 não conseguiram que este projetasse do céu, fogo para queimar a sua fogueira e o boi que estava assentado sobre a mesma cortado em pedaços, apesar dos insistentes apelos que fizeram. Na vez de Elias, o profeta do Senhor, após fervorosa súplica feita ao seu Deus, de imediato o fogo vindo como um raio queimou a sua fogueira e o seu boi. Ao vencer a aposta, Elias, não usando de clemência, exigiu junto ao Rei Acabe que os profetas de Baal fossem mortos, decapitando-os na torrente de Cison, conforme consta no Livro III Reis, (18:19 a 40).

João Batista, pôr essa infração ao 5o Mandamento da Lei de Deus que recomenda não matar, voltou para resgatar nas mesmas circunstâncias em que matou, sendo, portanto, decapitado, após solicitação de Salomé e sua mãe ao Rei Herodes (Hebreus, 14:3 a 11)

Ainda com referência ao esquecimento do passado, João Batista evidenciou que no seu caso, este foi parcial, tendo consciência, apenas intuitivamente, da missão que vinha desempenhar como precursor, porém o restante de sua vida como Elias ficou esquecido pelas razões referidas no livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo";

3ª- Ressurreição. Encontramos ainda no livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, Cap. IV, item 4, uma referência aos dogmas dos Judeus:

"...criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo termo ressurreição o que o Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. Com efeito, a ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde de muito tempo dispersos e absorvidos.(...) João, pois, podia ser Elias reencarnado, porém, não ressuscitado."

Eis porque o corpo de João Batista não podia ser o de Elias e daí a resposta de João Batista negando ser Elias. Porém, como afirmou o Anjo Gabriel, era o Espírito e virtude de Elias.

Bibliografia:
Soares, Pe. Matos -"Bíblia Sagrada", 6ª ed. Edições Paulinas - São Paulo -30-6-1953;
Almeida, João Ferreira de - "O Novo Testamento de N.S. Jesus--Cristo e o Livro dos Salmos"- Imprensa Bíblica Brasileira - Rio de Janeiro, 1986;
Kardec, Allan- "O Evangelho segundo o Espiritismo",109ª ed. FEB/ 10-8-1994.
Obs.

Artigo publicado em Manaus, em O Mensageiro (FEA) de Dezembro de 1994; no Jornal Folha Popular de 09.l1.1994 e 06.01.1995 e no Rio de Janeiro em O Reformador (FEB) de Abril de 1995.

A PERSONALIDADE DE JOÃO BATISTA - Aparência e realidade - Caibar



"Partidos que foram os mensageiros de João, começou Jesus a falar ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Mas que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Os que se vestem ricamente e vivem no luxo, assistem nos palácios dos reis. Mas, que saístes a ver? Um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta. Este é aquele de quem está escrito: Eis aí, envio eu ante a tua face o meu anjo, que há de preparar o teu caminho diante de ti.
Eu vos digo: Entre os nascidos de mulher não há nenhum maior do que João; mas o menor no Reino de Deus, é maior que ele. Ao ouvir isto, todo o povo e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, sendo balizados com o batismo de João; mas os fariseus e os doutores da lei frustraram o desígnio de Deus quanto a si mesmos, não sendo balizados por ele.

"A que, pois, compararei os homens desta geração e a que são eles semelhantes? São semelhantes aos meninos que se assentam na praça e gritam uns para os outros: Nós vos tocamos flauta e não dançastes; entoamos lamentações e não pranteastes. Pois veio João Batista não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Ele tem demônio. Veio o Filho do Homem comendo e bebendo, e dizeis: Eis um homem glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Contudo, a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. "
(Lucas VII, 24-35)
"Ao partirem eles, começou Jesus a falar ao povo a respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Mas, que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Os que vestem roupas finas, assistem nos palácios dos reis. Mas, para que saístes? Para ver um profeta? Sim, vos digo, e ainda mais do que profeta. Este é aquele de quem está escrito: Eis aí, envio eu ante a tua face o meu anjo, que há de preparar o teu caminho diante de ti.
Em verdade vos digo que não tem aparecido entre os nascidos de mulher outro maior que João Batista, mas o menor no Reino dos Céus é maior que ele. Desde os dias de João Batista até agora o Reino dos Céus é tomado à força, e os que se esforçam são os que os conquistam. Porque todos os profetas e a Lei profetizaram; e se quereis recebê-lo, ele mesmo é o Elias que há de vir. O que tem ouvidos, ouça. Mas a que hei de comparar esta geração? É semelhante aos meninos sentados nas praças, que gritam aos seus companheiros:

"Nós vos tocamos flauta e não dançastes. "Entoamos lamentações e não pranteastes. "Porque veio João não comendo nem bebendo e dizem: Ele tem demônio. Veio o Filho do Homem comendo e bebendo, e dizem: Eis um homem glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Contudo a sabedoria é justificada pelas suas obras. " (Mateus xi, 7-19)

Hoje, como ontem, o homem não tem valor pelo que verdadeiramente vale, mas sim pelo que mostra valer. O povo não tem reto juízo, julga pelas aparências. O hábito é que faz o monge. A vestimenta, os ornamentos, a aparência exterior é que caracterizam "os sábios, os sacerdotes, os gênios, os missionários".

Para ser recebido neste mundo como um emissário da Divindade, é preciso ser um homem de vestes ricas e de apresentação, semelhante aos que assistem nos palácios dos reis, ou então, uma "cana agitada pelo vento", um judeu errante sem bagagem, que exerce o sortilégio e se anuncia remédio para todos os males, adivinho de todas as sortes.
Do contrário, não será recebido nem por nobres, nem por plebeus, porque o mundo atual é composto ainda das tradicionais gerações que só dançam ao som de flautas e só pranteiam ao som de cânticos de lamentações. Um homem que não come pão nem bebe vinho, porque não lhe apraz esse tratamento, ou é maluco ou tem demônio.Um missionário que come de tudo o que se vende na praça e bebe vinho, não pode ser missionário; é glutão e beberrão.

Os missionários, para a gente atual, ou hão de vir envoltos de ornamentos, com anéis e cruzes de pedrarias, vestidos de seda e púrpura, ou então serão tipos desleixados que mal se podem manter, aparentando figuras fantasmáticas, que, porém, tiram sortes, profetizam sobre a vida e os negócios, dão fortuna e aplicam "mezinhas". O povo não tem o senso preciso para julgar, para discernir os homens; é como as crianças: onde uma vai, vai também a outra, e o que uma diz, dizem todas juntas.

Não há realidade para os homens de hoje, tudo é aparência e todos são distinguidos pela aparência com que se manifestam. Os racionalistas são postos à margem, por falta de equilíbrio. De fato, entre gente que não raciocina, os que raciocinam não podem deixar de estar sós; são os desequilibrados do círculo.

Esse estrabismo hereditário impedia os judeus de reconhecerem Jesus como o Cristo e João Batista como seu precursor, assim como impede, hoje, a recepção do Espírito da Verdade, encarregado de guiar-nos na estrada direta do progresso que temos de atingir para nossa própria felicidade.

As Escrituras tanto falavam de João Batista como de Jesus; mas as Escrituras eram desconhecidas das passadas gerações, como desconhecidas são da atual. As partes das Escrituras entregues ao povo eram falsas interpretações do verbo dos profetas, traduções feitas por votos e dependentes sempre de uma maioria servil e condicional, composta de sacerdotes e rabinos da Lei.
De modo que nem pelas Escrituras o povo podia chegar ao conhecimento dos dois vultos extraordinários que percorriam a Galiléia, um pregando o arrependimento, outro ministrando aos sedentos de justiça a Nova Lei do Amor que os vinha redimir do mal.
A personalidade de João Batista, classificado por Jesus como "o maior de todos dentre os nascidos de mulher", destaca-se solenemente pela sua austeridade no modo de anunciar o Grande Enviado, chegando a atrair multidões a si, que, convictas da sua superioridade moral e espiritual, e convertidas para uma vida superior, em sinal da mudança de situação a que eram levadas, entravam no Jordão limpando-se das máculas e gafeiras do "homem velho" e de lá saíam limpos de corpo para simbolizar a limpeza da alma a que aspiravam, por uma vida de progresso e perfeição.

Os doutores da Lei e os fariseus continuavam insubmissos ante a evidencia que a Verdade lhes oferecia. Não é que esse "batismo" de que fala o Evangelho fosse um sacramento instituído pelo Profeta, para dar uma espécie de distintivo aos seus prosélitos, porque não representava mais que um ato público de momento, para a libertação do preconceito e do servilismo que dominavam os homens.

Os fariseus, endurecidos e contumazes, repeliam antes a pregação do Profeta do que o formalismo por ele lembrado para reformar uma lei bárbara, como era a da circuncisão, que já não tinha razão de ser, embora na Época Mosaica fosse uma necessidade higiênica. Duros de cerviz e incircuncisos de coração, não deixariam a religião de seus pais, a religião dos magnatas, dos poderosos e governadores para receberem a Palavra humilde e simples do pobre Carpinteiro, que eles bem conheciam e propositadamente repeliam.

A verdade, entretanto, é que a sabedoria que manifestavam foi justificada por suas obras, e hoje todos vemos quão pretensiosas eram as suas intenções e quão errados se achavam na sua justiça.

Mas o moderno Farisaísmo não cessou ainda a sua ação, e aqueles que trabalham pela divulgação da verdade, não lhe devem ignorar as investidas, que continuam, para que prevaleçam suas maldosas intenções. Estamos nos tempos da ceifa e de joeiramento, e o bom grão não pode ficar ao lado do joio, para que não se contamine. A geração futura nos pedirá conta do trabalho que fizemos e oxalá ela não nos incrimine de imperícia, ou de falta nos deveres que nos foram confiados.
Cairbar Schutel

JOÃO - REENCARNAÇÃO DE ELIAS - Pastorino

Mat. 11:2-19
2. Como João, no cárcere, tivesse ouvido falar
das obras de cristo, mandou dois de seus
discípulos perguntar-lhe:
3. "És tu o que vem, ou devemos esperar outro"?
4. Respondeu-lhes Jesus: "Ide contar a João o
que estais ouvindo e observando:
5. os cegos vêem de novo; os coxos andam; os
leprosos ficam limpos; os surdos estão ouvindo;
os mortos se levantam e aos mendigos
é dirigida a boa-nova;
6. e feliz aquele que não tropeça em mim".
7. Ao partirem eles, começou Jesus a falar ao
povo a respeito de João: "Que saístes a ver
no deserto? Uma cana sacudida pelo vento?
8. Mas que saístes a ver? Um homem vestido
de roupas finas? Os que vestem roupas finas
residem nos palácios dos reis.
9. Mas que saístes a ver? Um profeta? Sim,
digo-vos, e muito mais que um profeta.
10. É dele que está escrito: 'Eis que envio ante
tua face meu mensageiro, que preparará teu
caminho diante de ti'.
11. Em verdade vos digo que não apareceu entre
os nascidos de mulher outro maior que
João, o Batista (o que mergulha); mas o reino
dos céus é maior que ele.
12. Desde os dias de João, o Batista, até agora,
o reino dos céus é assaltado, e os assaltantes
o conquistam,
13. porque todos os profetas e a lei profetizaram
até João.
14. E se quereis aceitar (isto), ele mesmo é Elias
que estava destinado a vir.
15. O que tem ouvidos, ouça.
16. Mas a que hei de comparar esta geração? É
semelhante a meninos sentados nas praças, que gritam aos companheiros:
17. 'nós vos tocamos flauta, e não dançastes;
entoamos lamentações e não chorastes'.
18. Porque veio João não comendo nem bebendo,
e dizem: 'ele recebeu um espírito desencarnado'.
19. Veio o filho do homem comendo e bebendo,
e dizem: 'eis um homem glutão e bebedor
de vinho, amigo de cobradores de impostos
e pecadores'! E contudo, a sabedoria é justificada
por seus filhos".


Luc.: 7: 19-35
19. Chamando dois deles (de seus discípulos),
João enviou-os a Jesus, para perguntar: "És
tu o que deve vir, ou esperaremos outro"?
20. Quando esses homens chegaram a ele, disseram:
"João, o Batista, enviou-nos para te
perguntar: 'és tu o que vem, ou esperaremos
outro'?
21. Na mesma hora curou Jesus a muitos de
moléstias, de flagelos, e de obsessores, e
concedeu vista a muitos cegos.
22. Então respondeu-lhes: "Indo embora, relatai
a João o que vistes e ouvistes: os cegos
vêem de novo, os coxos andam, os leprosos
ficam limpos, os surdos estão ouvindo, os
mortos se levantam, e aos mendigos é dirigida
a boa-nova.
23. E feliz é o que não tropeça em mim".
24. Tendo ido os mensageiros de João, começou
a falar ao povo a respeito de João: "Que
saístes a ver no deserto? Uma cana sacudida
pelo vento?
25. Mas que saístes a ver? Um homem vestido
com roupas finas? Os que se vestem ricamente
e vivem no luxo, estão nos palácios
dos reis.
26. Mas que saístes a ver? Um profeta? Sim,
digo-vos, e muito mais que profeta.
27. É dele que está escrito: 'eis que envio ante
tua face meu mensageiro, que preparará teu
caminho diante de ti'.
28. Eu vos digo: entre os nascidos de mulher,
não há nenhum maior que João; mas o menor
no reino de Deus, é maior que ele".
29. Ao ouvir isto, todo o povo e até os cobradores
de impostos reconheceram a justiça de
Deus, sendo mergulhados com o mergulho
de João;
30. mas os fariseus e 0s doutores da lei desprezaram a vontade de Deus quanto a eles, não tendo sido mergulhados por ele.
31. "A que, pois, compararei os homens desta
geração, e a que são eles semelhantes?
32. São semelhantes a meninos que se sentam
na praça e gritam uns para os outros: 'nós
tocamos flauta e não dançastes; entoamos
lamentações e não chorastes'.
33. Pois veio João, o Batista, não comendo pão
nem bebendo vinho e dizeis: “ele recebeu
um espírito desencarnado".
34. Veio o filho do homem comendo e bebendo,
e dizeis: "eis um homem glutão e bebedor
de vinho, amigo de cobradores de impostos
e pecadores!'
35. Entretanto, a sabedoria é justificada por
todos os seus filhos.

João estava na prisão de Maquérus (veja vol. 2). Daí acompanhava com grande interesse todo o desenvolvimento do ministério de Jesus, sobre o qual é constantemente informado por seus discípulos, que o visitam com frequência. O que mais lhe contam são os prodígios operados pelo novo taumaturgo de Nazaré. João jamais perdeu de vista sua tarefa de precursor e todos os seus atos destinam-se a "preparar o caminho diante dele" (vol. 1).
Que Jesus era o Messias, não havia dúvida para João, que O reconhecera desde o ventre materno (Luc.
1.41. vol. 1); era consciente de ser ele o precursor (Mat. 3:1-6; vol. 1); declarou mesmo que não era
digno de desatar-lhe as correias das sandálias (Mat. 3: 11-12; vol 1); declarou até peremptoriamente
ser o precursor predito (João, 1:19-28; vol. 1); não queria ,mergulhar Jesus, porque se julgava indigno
(Mat. 3:13-15; vol. 1); durante o ato do mergulho viu o sinal do Espírito (Mat. 3:16-17; vol 1); designou
Jesus como o “cordeiro que resgata o carma do mundo" (João 1: 29-33) e taxativamente declara
"eu vi e testifiquei que Ele é o escolhido de Deus" (João, 1:34; vol. 1); além de tudo isso, influi nos
discípulos que sigam Jesus, declarando-o "o messias" (João, 1:35-37; vol. 1); e quando seus discípulos
se queixam de que Jesus está atraindo multidões, João lhes dá a entender que Jesus é o Messias e
acrescenta "é necessário que ele cresça e que EU diminua" (João 3:25-30; vol. 2).
No entanto, apesar de tudo isso, os discípulos de João não viam Jesus com bons olhos e, por ciúmes,
"escandalizavam-se dele". Observe-se que o verbo grego skandalízô en significa literalmente "tropeçar
em". Assim o substantivo skándalon era, na armadilha, a peça-chave (o alçapão ou trava), que a fazia
detonar. Então, escandalizar era tropeçar na trava, ficando preso na armadilha.
Mas, dizíamos, os discípulos de João tinham ciúmes do êxito crescente de Jesus (coisa tão comum entre
espiritualistas!), especialmente quando viram seu próprio mestre na prisão. Observamos que eles
criticaram Jesus na questão do jejum (Mat. 9:14) unindo-se aos piores inimigos de Jesus; vimos que
eles foram queixar-se de Jesus ao próprio João, quando então o Batista se limita a recordar-lhes o que
lhes havia afirmado a respeito de Jesus (vol. 2).
Na prisão, João percebia que seu fim estava próximo e preocupava-se, em primeiro lugar, em conseguir
mais uma oportunidade de exercer oficialmente sua tarefa de precursor; mas além disso, queria
aproximar de Jesus seus discípulos, a fim de que estes não prosseguissem, após seu desencarne, no
culto de um precursor, ao invés de seguir o verdadeiro Mestre. Para isso, era indispensável uma definição pública de Jesus. E João resolve provocá-la, mas com delicadeza, deixando-lhe o caminho aberto para que Jesus respondesse como julgasse mais oportuno.

Daí a pergunta confiada aos dois mensageiros : "és tu o que vem (ho erchómenos, no particípio presente)
ou deverá ser esperado outro"? Anote-se, para fixar o sentido em que era usada a palavra "anjo" naquela época, que Lucas dá, aos dois discípulos de João que foram mandados a Jesus, o título de "anjos", isto é, mensageiros. Jesus responde-lhes com fatos, e, na presença deles, realiza as obras preditas pelos antigos profetas de Israel como típicas "daquele que viria"; e depois de fazer, passa a citar as realizações por eles antevistas: quanto aos mortos, Isaías, 26: 19; quanto aos surdos e mendigos, Isaías, 29: 18; quanto aos cegos e surdos, Isaías, 35:5 e quanto aos infelizes, Isaías, 61:1.
Após as obras e citações, Jesus conclui "feliz o que não tropeça em mim" (makários hoi eàn mé skandaIisth êi), ou seja, o que não se recusar a aceitá-lo, por não compreender Sua missão. A advertência dirige-se abertamente aos discípulos de João que criticavam Jesus. Eles, de mentalidade estreita, fazendo questão fechada de ser vegetarianos e abstêmios de vinho e sexo, "tropeçaram" num Missionário verdadeiro (Jesus), e não no quiseram aceitar, por ser Ele "comilão e beberrão de vinho" (cfr. Mat. 11:18-19 e Luc. 7 :33-34). Quanto a Jesus, sempre preferiu confirmar Sua missão por meio de Suas obras e de Seus exemplos. Jesus espera que os discípulos de João se retirem, e então tece o panegírico do precursor, talvez para que os apóstolos e outros seguidores Seus não viessem a pensar que a pergunta de João fora provoca da por alguma dúvida real do precursor. Tanto que a primeira pergunta se refere à falta de fé, à vacilação nas atitudes: a cana sacudida pelo vento. João não é um homem qualquer sem convicções, não é um “grande do mundo", rico e poderoso; e nessa série de perguntas repetidas, a eloquência se exalta: um profeta? sim, diz Jesus, e muito mais do que profeta: o precursor do Messias. Isso é afirmado através da citação de Malaquias (3:11). Subindo mais ainda, Jesus chega ao clímax, afirmando categoricamente com solenidade: "em verdade vos digo, entre os nascidos de mulher ninguém é maior que João". Já explicamos (vol. 1) o sentido da expressão "filho do homem". Recordemos.
Os gnósticos distinguiam dois graus de evolução: os "nascidos de mulher" ou "filhos de mulher" e os
"filhos do homem". Os "filhos de mulher" são os que ainda estão sujeitos à reencarnação cármica, obrigados a renascer através da mulher, sejam eles involuídos ou evoluídos. Neste passo declara Jesus que dentre todos os que estão ainda sujeitos inevitavelmente ao kyklos anánke (ciclo fatal) da reencarnação, o Batista é o maior de todos.
Já os "filhos do homem" (dos quais Jesus se cita como exemplo logo abaixo, versículo 19) são os que
não estão mais sujeitos à reencarnação, só reencarnando quando o querem para determinada missão; e
são assim chamados como significando aqueles que já superaram o estágio hominal, sendo, o resultado
ou "filho" da evolução humana. Na realidade, Jesus era um dos "filhos do homem", como também outros
avatares que vieram à Terra espontaneamente para ajudar à humanidade (tais Krishna, Buda, etc.).
João, o Batista, cujo Espírito animara, na encarnação anterior a personalidade de Elias o Tesbita, estava
sujeito à reencarnação para resgatar o assassinato dos sacerdotes de Baal, junto à torrente de Kishon
(cfr. 1 Reis, 18:40 e 19: 1), mortos à espada por ordem dele; e por isso a personalidade de João também
teve a cabeça decepada à espada (cfr. Mat. 14:10-11). A Lei de Causa e Efeito é inapelável.
João, portanto, ainda pertencia ao grau evolutivo dos "nascidos de mulher", embora fosse o maior de
todos naquela época.
Entretanto, todos aqueles que tenham conquistado o "reino dos céus", isto é, que hajam obtido a união
hipostática com o Cristo Interno, são maiores do que ele, no sentido de terem superado essa fase do
ciclo reencarnatório: e portanto de haverem atingido o grau de "filhos do homem". Tão importante se
revela essa união definitiva com a Divindade!
Surgem depois dois versículos que os comentadores ansiosamente buscam penetrar quanto ao sentido
profundo, mas, de modo geral, permanecem na periferia, dizendo que "só os que se esforçam violentamente conseguem o reino dos céus"; e, na segunda parte, que Jesus colocou aqui João como "marco divisório a encerrar o Antigo Testamento ("toda a Lei e os Profetas até João", como diz Agostinho: videtur Joannes interjectus quidam limes Testamentorum duorum, Patrol. Lat. vol. 38, col. 1328). E finalmente a grande revelação, irrecusável sob qualquer aspecto: "se quereis aceitar isso (se fordes capazes de compreendê-lo) ele mesmo é Elias, o que devia vir ... quem tem ouvidos, ouça (quem puder, compreenda!).
A tradução do vers. 14 não coincide com as comuns. Mas o grego é bem claro: kai (e) ei (se) thélete
(quereis) decsásthai (aceitar, inf. pres. ) autós (ele mesmo) estin (é) Hêlías (Elias) ho méllôn (part .
presente de mellô, destinado", "o que estava destinado") érchesthai (inf. pres.: a vir).
A Vulgata traduziu: "et si vultis recipere, ipse est Elias qui venturus est", em que o particípio futuro na
conjunção perifrástica dá o sentido de obrigação ou destino do presente do particípio méllôn; acontece
que o latim ligou num só tempo de verbo (venturus est) o sentido dos dois verbos gregos (ho méllôn
érchesthai). Com essa tradução, porém, o sentido preciso do original ficou algo "arranhado". Se a tradução
fora literal, deveríamos ler, na Vulgata (embora com um latim menos ortodoxo): "ipse est Elias
debens venire", o que corresponde exatamente à nossa tradução: "ele mesmo é Elias que devia (estava
destinado) a vir". Levados pela tradução da Vulgata, os tradutores colocam o futuro do presente (que
deverá vir), quando a ação é nitidamente construída no futuro do pretérito.
A previsão do regresso de Elias à Terra (cfr. Mat. 3:23-24) "eis que vos envio Elias, o profeta, antes
que chegue o dia de YHWH grande e terrível: ele reconduzirá o coração dos pais para os filhos e dos
filhos para os pais" ... é confirmada no Eclesiástico (48:10) ao elogiar Elias "tu, que foste designado
para os tempos futuros como apaziguador da cólera, antes que ela se inflame, conduzindo o coração do
pai para o filho".
Alguns pensam tratar-se "do último dia do juízo final", mas Jesus mesmo dá a interpretação autêntica,
quando diz: "eu vos declaro que Elias já veio mas não foi reconhecido" ... "e os discípulos entenderam
que Ele lhes falava de João Batista" (Mat. 17:12-13).
Então, não pode restar a mínima dúvida de que Jesus confirma, autoritária e inapelavelmente, que João
Batista é a reencarnação de Elias. Embora sejam duas personalidades diferentes, o Espírito (ou individualidade) é o mesmo. Gregório Magno compreendeu bem o mecanismo quando, ao comentar o passo em que João nega ser Elias (João, 1:21) escreveu: "em outro passo o Senhor, interrogado pelos discípulos sobre a vinda de Elias, respondeu: Elias já veio (Mat. 17:12) e, se quereis aceitá-lo, é João que é Elias (Mat.11:14). João, interrogado, diz o contrário: eu não sou Elias ... É que João era Elias pelo Espírito (individualidade) que o animava, mas não era Elias em pessoa (na personalidade). O que o Senhor diz do Espírito de Elias, João o nega da pessoa" (Greg. Magno, Hom. 7 in Evang., Patrol. Lat.
vol. 76, col. 1100).
Jesus não precisava entrar em pormenores sobre a reencarnação, pois era essa uma crença aceita normalmente entre os israelitas dessa época, sobretudo pelos fariseus, só sendo recusada pelos saduceus. Em Lucas há dois versículos próprios a ele, distinguindo amassa e os publicanos, que aceitaram o mergulho de João, e os fariseus e doutores da lei, que não aceitaram a oportunidade da mudança de vida, que Deus lhes oferecia por intermédio de João.
E Jesus prossegue propondo uma parábola, na qual ilustra a contradição de Seus contemporâneos
("desta geração"), que não aceitam a austeridade da pregação de João nem a bondade alegre dos ensinos
de Jesus. Ao verem a penitência e abstinência do Batista, ,disseram que "estava obsidiado", que
"tinha espírito desencarnado"; e ao observarem a leveza de atitudes do Nazareno, taxaram-no de comilão
e beberão.
Cabe notar en passant que a obsessão é sempre atribuída em o Novo Testamento a um daímon (espírito
desencarnado), em hebraico dibbuck, e jamais ao diábolos (cfr. vol. 1).

Definida a posição de dúvidas e hesitações da humanidade daquela época, (da qual pouco difere a
atual) o Mestre conclui com um aforismo: a sabedoria é justificada por seus filhos, ou seja, por seus
resultados. Com efeito, o que é produzido pelo sábio é que lhe justifica a sabedoria.
Há fatos que trazem lições preciosas. Aqui temos um.
O intelecto (João) no "cárcere" da carne, ouve as teorias a respeito da individualidade (Jesus) mas,
como é de seu feitio raciocinador, quer provas. Não se contenta em ouvir afirmativas de outrem: exige
confirmação do próprio. E o meio mais rápido é pedir à própria individualidade que se defina, que
apareça, que se declare de origem divina.
Evidentemente, de nada adiantaria mais uma assertiva, embora proveniente da própria individualidade:
o intelecto continuaria na dúvida. Inteligentemente a individualidade não responde com palavras,
mas com fatos. O intelecto manda dois de seus discípulos, (faculdades de percepção e de observação)
para apurar. E a resposta consiste em fatos: "veja, diz a individualidade, como se te modificam as
coisas: a cegueira intelectual se abriu para a luz; os ouvidos da compreensão, antes surdos, estão
atentos à voz interior; os passos incertos na caminhada evolutiva se tornaram firmes; os resgates
cármicos que enfeavam a personalidade vão sendo limpos; a morte da indiferença às coisas espirituais
se torna vida entusiástica e, apesar de toda a pobreza dos veículos físicos e do "espírito" é a ele
que se dirige a ótima notícia do "reino" ... mas, coitado daquele que, apesar de todas as evidências,
não crê e tropeça no conhecimento da individualidade ... feliz, porém, aquele que compreende e aceita".
O intelecto recebe as lições e os testemunhos, que lhe comprovam a realidade dos fatos, e retira-se
para meditação.
Entretanto, além da lição extraída dos fatos, temos outra, surgida com a Palavra: o Verbo de Deus
que se manifesta dentro de nós (Jo. 1:14).
Em primeiro lugar, com as perguntas insistentes, temos avisos repetidos do que procura o Espírito:
nem coisas fúteis (uma cana sacudida pelo vento), nem luxo (homem vestido de roupa, finas) nem
mesmo um profeta (médiuns e videntes), mas algo maior que isso: o Espírito quer descobrir o caminho
para encontrar seu único Mestre, o Cristo Interno. Para isso, está sempre alerta, a fim de entrar em
contato com o "mensageiro" (pequeno mestre) que vem mostrar o caminho e aplainá-lo, para facilitar
a busca e o Encontro. A tarefa desse "precursor" e mestre humano (intelecto = ,João) é "aplainar as
veredas", abaixar os outeiros e elevar os vales e levar o coração dos pais aos filhos e vice-versa (ou
seja, harmonizar a mente com todos os veículos que a carregam na jornada evolutiva). O intelecto,
portanto, PREPARA o caminho da personalidade, para que ela possa encontrar o Cristo Interno. Ent
ão, o intelecto iluminado é o precursor do Cristo Interno, seja esse intelecto o da própria criatura,
seja o de criaturas outras que se disponham a “servir” à humanidade. E esses precursores tem vindo
várias vezes à Terra, sendo alguns reconhecidos como avatares de lídima estirpe.
Ocorre, entretanto, que muitos dos discípulos desses precursores do Cristo Interno tomam a si, tamb
ém, a tarefa de indicar a senda, quer falando, quer escrevendo, quer sobretudo exemplificando.
E aqui temos o exemplo que Jesus dá, de João, o intelecto que preparou realmente o caminho para o
Cristo, e que, por isso, foi destacado como "o maior" dentre os que vivem ainda na personalidade.
Não obstante, aquele que tiver dado o Mergulho em profundidade na Consciência Cósmica, dentro de
si mesmo, esse será, em sua individualidade, como "filho do homem", maior que qualquer das maiores
personalidades. E por isso João é apresentado como "o mergulhador" (o Batista), "o que mergulha",
isto é, "o que prepara, através" do mergulho que ele ensina, o caminho para o Encontro com o Cristo
Interno".
Jesus, a individualidade, não podia deixar de elogiar esse intelecto iluminado, a fim de chamar nossa
atenção a respeito de como processar a aproximação da meta gloriosa. E o evangelista, que aprendera
o mergulho de João e por isso encontrara Jesus (a individualidade), comenta que os humildes
(povo e publicanos) haviam correspondido ao ensino de João e haviam mergulhado, descobrindo o
Cristo em si, mas os orgulhosos (fariseus e doutores) haviam rejeitado esse ensino, desprezando a
oportunidade que a Vida (Deus) lhes oferecera, e não tinham aceito o mergulho.
Jesus confirma ainda que a representação do intelecto iluminado (Buddha) em o Novo Testamento é a
mesma que fora apresentada, como protótipo no Antigo: Elias.
Depois, numa parábola, avisa a quem possa compreender, que jamais haja decepção, porque a gera-
ção que está na Terra ainda não sabe o que quer, por imaturidade mental. Se um dirigente vem com
penitências, é rejeitado; e se vem com alegria, também o é. Desde que não concordem com seus pontos-
de-vista terrenos, os "profetas" ou "precursores" são recusados e levados ao ridículo por qualquer
das facções já existentes.
Todavia, são os resultados obtidos que justificam a sabedoria, e não as palavras proferidas, nem as
aparências, nem o êxito entre as criaturas, nem o poder, nem a força, nem a santificação externa, proveniente
dos outros. O que vale é o resultado íntimo, ou seja, o Encontro Místico, oculto, que se dá no
"quarto a portas fechadas", atuando assim "nos céus que estão no secreto, onde habita o Pai”.

sábado, 2 de outubro de 2010

OS IRMÃOS DE JESUS - Godoy

OS IRMÃOS DE JESUS

"Sua mãe, seus irmãos e irmãs tinham se fixado em Nazaré." - (Marcos, 6:1-6)
Maria de Nazaré é um Espírito de elevada hierarquia espiritual que, deixando as regiões sublimadas da Espiritualidade Superior, encarnou na Terra, a fim de servir de intermediária para o nascimento do maior missionário que a Humanidade conheceu. Ela passou a ser chamada "Rainha dos Céus", "Mãe Santíssima", "Nossa Senhora", merecendo, além disso, toda uma gama de denominações, partida dos profitentes de várias religiões.
Servindo de instrumento da vontade de Deus, ela contribuiu, como Espírito, para a consecução da grandiosa e transcendental missão que foi a revelação do Cristianismo à Humanidade sofredora. Pela abstração de ter sido a mãe carnal de Jesus Cristo, Maria é filha do Deus Altíssimo; no entanto, pelo conceito de seu estágio evolutivo, está em igualdade de condições com todas as demais criaturas humanas, demandando a evolução, sem nenhum privilégio ou preferência.
Sendo Deus a expressão máxima da equidade e da justiça, jamais poderia usar de qualquer predileção por este ou aquele filho, esteja ele já desfrutando o "status" de anjo, ou ainda palmilhando os primeiros estágios no árduo processo de aprimoramento espiritual. A maternidade é um ministério sagrado, tanto quando o seu fruto for um bandido, ou quando for um santo. Sendo o instrumento para a vinda carnal de Jesus Cristo, Maria de Nazaré sofreu as mais amargas dores ao ver o seu filho, inocente, que entre nós nasceu com o objetivo de desempenhar uma missão de paz e de amor, ser insultado, incompreendido, açoitado e finalmente crucificado.
Conforme narram todos os evangelistas, Jesus teve irmãos e irmãs, é isso o que procuraremos demonstrar através dos seguintes trechos dos Evangelhos. Nisso chegaram sua mãe e seus irmãos, e, tendo ficado de fora, mandaram chamá-lo. Muita gente estava assentada ao redor dele, e lhe disseram: Olha, tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura.
Então ele lhes respondeu, dizendo: - Quem é minha mãe e meus irmãos? E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer um que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe. (Marcos, 3:31-35)
Aqui cumpre esclarecer que, embora o Mestre nutrisse o mais vivo amor por sua mãe, dada a magnitude de sua missão, de caráter universal. Ele não deveria perder-se no labirinto de cogitações restritas de cunho profundamente humano. Contrariando a opinião de muitos, Jesus Cristo, segundo o testemunho dos Evangelhos, teve irmãos e irmãs. Seria aventurar demasiadamente no campo da suposição e acreditar que o termo irmão, tão claramente mencionado pelos evangelistas, significasse primo-irmão, conforme alegam alguns exegetas, pois a própria crítica científica refuta essa assertiva com argumentos positivos, para designar o grau de parentesco dos filhos.
Além disso, os hebreus tinham termos próprios para designar os filhos naturais. Para elucidar melhor este argumento, passaremos a transcrever alguns trechos evangélicos muito importantes na abordagem dessa questão: "Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E não estão aqui entre nós todas as suas irmãs? (Mateus, 13:55-56)
Entre elas estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José. (Mateus, 27:56) "... sua mãe, seus irmãos e suas irmãs tinham se fixado em Nazaré. (Marcos, 6:1-6) Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago e de José, de Judas e de Simão? Não estão aqui entre nós também as suas irmãs? (Marcos, 6:3)
Depois disto desceu a Cafarnaum, ele e sua mãe, e seus irmãos e discípulos. (João, 2:12) Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui e vai para a judéia, a fim de que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.., porque mesmo os seus irmãos criam nele. (João, 7:3-5) Todos estes perseveraram, unânimes, em oração com as piedosas mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus e com os irmãos dele, (Atos, 1:14). E quando os seus parentes ouviram isto, saíram para o prender; diziam: Ele está fora de si. (Marcos, 3:21). Portanto, os Evangelhos são pródigos na afirmação de que Jesus teve irmãos e irmãs.
No entanto, alguns exegetas, no propósito de comprovar que o Mestre não teve irmãos e irmãs como filhos de Maria, sustentam que, quando ela desposou José, este era viúvo e pai de vários filhos. Independentemente de ter tido irmãos ou não, devemos ter sempre em mente o Cristo vitorioso que venceu o príncipe deste mundo, que viveu na maior humildade, na maior singeleza, que não pactuava com a mentira e com os preconceitos, tampouco com os poderes transitórios do mundo.
Paulo A. Godoy

Os irmãos de jesus


 
“Sendo o conhecimento progressivo, é-me lícito acreditar que um dia saberei aquilo que hoje ignoro.” – Eliphas 

Jesus era segundo Lucas, o primogênito de Maria (2: 7); em seguida José e Maria tiveram que fugir com Jesus para o Egito a fim de furtá-lo às perseguições de Herodes (Mateus, 2: 13); daí eles só regressam quando Herodes já havia morrido (Mateus, 2: 19); aos doze anos de idade foi Jesus com José e Maria a Jerusalém, por ocasião da festa da Páscoa (Lucas: 42-43).
O problema da primogenitura de Jesus demonstra que essa questão foi levantada simplesmente para justificar o dogma da virgindade de Maria, pois como se deduz dos próprios Evangelhos, a família de José e Maria não era pequena. Marcos fala dos irmãos e das irmãs de Jesus.
A primogenitura de Jesus é assim contestada nos próprios Evangelhos. A Igreja Católica foi muito mais longe e considerou Jesus como unigênito de Deus. A assertiva posterior de considerar os irmãos e as irmãs de Jesus como seus primos, é uma tentativa de arranjar as coisas dentro da dogmática da Igreja sobre o nascimento virginal. Mas, quando Jesus estava pregando: “E tendo vindo para casa, reuniu-se aí tão grande multidão de gente, que eles nem sequer podiam fazer sua refeição. – Sabendo disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o espírito; - Entretanto, tendo vindo sua mãe, e seus irmãos e conservando-se do lado de fora, mandaram chamá-lo. Ora, o povo se assentava em torno dele e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te chamam” (Marcos, 3: 20-21 e 31-35).
Não vamos nos prender à passagem em si, pois Jesus aproveitou a oportunidade para dar uma lição de amor aos presentes. Mas, pelo que se sabem os irmãos de Jesus não o estimavam. E, também, não compreendiam a missão dele: tinham-no por excêntrico, o seu proceder e seus ensinamentos não os tocavam, tanto que nenhum deles o seguiu como discípulo. Jesus era para os seus irmãos um estranho, tanto é que: “Dirigiram-se, pois, a Jesus os seus irmãos, e lhe dis-seram: Deixa este lugar e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes: - Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes estas cousas, manifesta-te ao mundo; - pois, nem mesmo os seus irmãos criam nele” (João, 7: 3-5).
Quanto à sua mãe, Maria, ninguém ousaria contestar a ternura que lhe dedicava. Mas, Maria não fazia ideia muito exata da missão de seu filho, haja vista, nunca ter seguido os ensinos, nem dado testemunho dele. Não há negar, nela pre-dominava o instinto maternal, apenas. E Jesus não a renegou, apenas deu naquela ocasião uma lição. Lição esta que, passados dois mil anos, ainda não foi compreendida pelas mães, tanto que Kalil Gibran (1883-1931) explicita: “Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem”.
A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se acha claramente expressa na narração de Marcos, que diz terem eles o propósito de se apoderarem de Jesus, sob o pretexto de que este perdera o espírito. (Marcos, 3: 20-21). Logo à frente vemos: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs? E escandalizam-se nele” (Marcos, 6: 3).
Mas, voltemos à questão: Jesus teve ou não irmãos?
Mateus (13: 53-58) e Marcos (1-6), dão os nomes dos irmãos de Jesus: Tiago, José, Judas e Simão. E ainda cita que há irmãs. João, por sua vez, fala também de um diálogo havido entre Jesus e seus irmãos (João, 7: 1-9).
Em se aceitar que Jesus não teve irmãos, estaremos concordando com a hipótese mitológica do nascimento virginal endossado pela Igreja Católica, e também, negando todas as evidências dos textos evangélicos. ▲
Autor: Heitor de Campos Silva