sábado, 28 de junho de 2014

Justiça das aflições

GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)


Justiça das aflições

“Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão.” – Jesus. (Mt, 26:52.)


Ao ignorar a Lei de Causa e Efeito e as vidas sucessivas, dirá o homem que Deus é injusto. Ou que não existe. E dirá:

“(...) por que sofrem uns mais do que outros? Por que nascem uns na miséria e outros na opulência, sem coisa alguma haverem feito que justifique essas posições? Por que uns nada conseguem, ao passo que a outros tudo parece sorrir?” 1

Mas Ele existe; e nossas dores provêm de transgressões às Suas Leis.

“(...) as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa.” (...) “Por meio dos ensinos de Jesus, Deus pôs os homens na direção dessa causa, e hoje, (...) lhes revela completamente a aludida causa, por meio do Espiritismo (...).” 2 – Grifos do original.

Respondemos por nossos atos e seus efeitos: “(...) o Filho do homem retribuirá a cada um conforme as suas obras”. – Jesus. (Mt, 16:27.)

Léon Denis, filósofo francês, amplia a compreensão do tema:

“Cada um desses atos executa sua evolução e volta com os seus efeitos, bons ou maus, para a fonte que os produziu. O mal, do mesmo modo que o bem, torna ao seu ponto de partida.

(...) as paixões e malefícios do ser humano produzem resultados, sempre idênticos, aos quais ele não pode subtrair-se.

O orgulhoso prepara para si um futuro de humilhações, o egoísta cria o vácuo ou a indiferença, e duras provações esperam os sensuais.

(...) A história da Terra é uma urdidura de homicídios e de iniquidade. Ora, todos esses séculos ensanguentados, todas essas existências de desordens reúnem-se na vida presente como afluentes no leito de um rio.

Os Espíritos que compõem a sociedade atual nada mais são que homens de outrora, que vieram sofrer as consequências de suas vidas anteriores.

Formada de tais elementos, como poderia a humanidade viver feliz?

(...) Isso nos faz sentir a necessidade de melhorar o meio social, esclarecendo os nossos semelhantes sobre a causa dos males comuns (...)”. 3 (Sublinhamos.)

“O Pai não coloca fardos pesados em ombros frágeis.” Os Espíritos aclaram esse conceito: nas vidas sucessivas, somamos experiências que nos amadurecem. Só aí, aptos para suportar provas e aprender as lições delas advindas, submete-nos a agudas expiações, para corrigir-nos. Ao contrário do que se prega, Ele não castiga, mas educa.

Não foram casuais as mortes de João Batista e a dos ‘inocentes’ – crianças de dois anos para baixo, em Belém e arredores, por ordem de Herodes. As ‘vítimas’ sofriam efeitos de ações anteriores, praticadas por elas mesmas.

Revela Bittencourt Sampaio, Espírito4, que João Batista, na fortaleza de Herodes, volve em espírito ao passado. Recorda erros cometidos na personalidade de Moisés; e aqueles em que foi o personagem Elias e mandara trucidar profetas do deus pagão, Baal.

Rende graças a Jesus por resgatar essas faltas; por ser o Precursor e, ainda, por vir à Terra, seguido pelos filhos da tribo de Levi – supostos inocentes – para, como ele, entregarem suas cabeças e se redimirem de seus erros. Eis as origens dessas dores:

I) Êxodo 32-25/29: Moisés manda matar os idólatras (adoradores do bezerro de ouro). Ordem que os filhos de Levi – futuros ‘inocentes’ – executaram;

II) I Reis 18-20:40: Elias manda que se mate os sacerdotes de Baal, ao vencê-los na disputa: incendiaria a lenha em um altar, sem fogo, aquele cujo Deus fosse verdadeiro. 5

Muitos perderam a vida por suas decisões; mas, nas personalidades de Moisés, Elias e João Batista, praticou a caridade. Assim, degolado apenas uma vez, redimiu-se desses erros; comprovando que a Lei apenas educa; que não é vingativa.

Provações pessoais são intransferíveis, mas podem ser suavizadas se praticamos o bem, “(...) porque o amor cobre multidão de pecados”. – (1Pe, 4:8.)

Não há, pois, injustiças nas Leis divinas – tudo tem sua causa –; nem privilégios, eis que, se existissem, João Batista não teria sido degolado: “(...) Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João (...)”. – Jesus. (Lc, 07:28.)

Aflições morais ou físicas são criações nossas. Resultam de nossos pensamentos e obras, quer lesemos terceiros, quer o façamos a nós mesmos, como no suicídio.

Emmanuel, Espírito, responde à indagação “A mente invigilante pode instalar doenças no organismo? (...)”:

“A mente é mais poderosa para instalar doenças e desarmonias do que todas as bactérias e vírus conhecidos (...), desequilíbrios e moléstias surgem também da imprudência e do desmazelo, da revolta e da preguiça. Pessoas que se embriagaram (...); que esquecem a higiene até se tornarem presas de parasitos destruidores; que se encolerizam pelas menores razões (...); ou que passam todas as horas em redes e leitos, poltronas e janelas, sem coragem de vencer a ociosidade e o desânimo (...) geram doenças para si mesmas, nas atitudes de hoje mesmo, sem qualquer ligação com causas anteriores de existências passadas”.  6 (Grifamos).

Não há perdão mágico, gratuito, sem transformação interior e reparação dos erros cometidos, como tradicionalmente apregoado. Nem há demônios fadados à condenação eterna: “Das ovelhas que o Pai me confiou, nenhuma se perderá”. – (Citação de Emmanuel 7).

Jesus (Jo, 8:32) assinala que o conhecimento da Verdade libertar-nos-á de todos os males; entre eles, do egoísmo, da maldade e, certamente, do “inferno eterno”.

Oferece-nos, no Evangelho, diretriz perfeita à conquista da saúde espiritual – que se estenderá aos corpos de futuras encarnações –, ao nos recomendar fazer aos outros aquilo que desejamos para nós e evitar a prática do mal aos semelhantes.



Referências:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 123ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. V, p. 98.

2. Idem, ibidem.

3. DENIS, Léon. Depois da Morte. 11ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978. p. 238 a 241.

4. SILVA JÚNIOR, Frederico Pereira da. Jesus Perante a Cristandade. Pelo Espírito Francisco Leite Bittencourt Sampaio. 5ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975. p. 56-57.

5. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

6. XAVIER, F. Cândido e VIEIRA, Waldo. Leis de Amor. Pelo Espírito Emmanuel. 7ª ed. São Paulo: FEESP, 1975. p. 17-18.

7. XAVIER, F. Cândido. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 4ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978. Cap. 39, p. 163.


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