quinta-feira, 31 de março de 2011

Depois da tempestade vem a bonança




Restos de uma embarcação do século I encontrada próxima às margens do Lago de Genesaré.
É possível que seja o tipo de embarcação utilizada por pescadores nos tempos de Jesus.
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas narram uma passagem que ficou conhecida como "A tempestade acalmada". Para mantermos fidelidade à narrativa, transcrevemos o trecho do evangelho segundo Lucas, capítulo 8, versículos 22 a 25:
"Num daqueles dias Ele subiu com os seus discípulos a uma barca. Disse Ele: 'Passemos à outra margem do lago'. E eles partiram. Durante a travessia, Jesus adormeceu. Desabou então uma tempestade de vento sobre o lago. A barca enchia-se de água, e eles se achavam em perigo. Aproximaram-se Dele então e o despertaram com este grito: 'Mestre, Mestre!  nós estamos perecendo!'. Levantou-se Ele e ordenou aos ventos e à fúria das águas que se acalmassem; e se acalmaram e logo veio a bonança. Perguntou-lhes, então: 'Onde está a vossa fé?'. Eles, cheios de respeito e de profunda admiração, diziam uns aos outros: 'Quem é este a quem os ventos e o mar obedecem?'.
Essa passagem, como todas as demais narradas nos evangelhos, embora se refira a um fenômeno de ordem material, apresenta valiosos ensinamentos quando buscamos analisar seu sentido moral e espiritual. É o que faremos a seguir.
Num daqueles dias Ele subiu com os seus discípulos a uma barca. Disse Ele: 'Passemos à outra margem do lago'. E eles partiram.
Jesus sempre preside nossas ações, quando voltadas para a prática do bem. No caso dessa passagem, Ele e os discípulos se dirigiam a outro vilarejo às margens do Lago para que Jesus pudesse levar Seus ensinamentos e Suas bençãos à outras pessoas. Isso nos ensina que sempre poderemos contar com a assistência espiritual superior quando nos propomos a estender o bem ao próximo e que essa oportunidade nos é concedida sempre pelo Alto. Dependerá, portanto, de nós mesmos, aproveitá-la ou não.
Durante a travessia, Jesus adormeceu. Desabou então uma tempestade de vento sobre o lago. A barca enchia-se de água, e eles se achavam em perigo.
Se Jesus realmente adormeceu ou não, é fato irrelevante. O que importa é o sentido oculto desse fato. Jesus adormecer significa que, após ter encaminhado os discípulos para a travessia do Lago e eles terem concordado, o Mestre os deixa por sua própria conta, já que eram eles que comandavam a embarcação. Que sentido maravilhoso! O Mestre nos concede a oportunidade e nos deixa à vontade para conduzirmos nossa existência (no caso, representada, figuradamente, pela barca no mar alto), respeitando nosso livre-arbítrio, deixando-nos à vontade para nossas escolhas e decisões. Ele não nos abandona; o controle material é nosso mas o controle espiritual é Dele. Apenas nos deixa a tarefa que nos cabe, mesmo sabendo que as 'tempestades' virão.
Aproximaram-se Dele então e o despertaram com este grito: 'Mestre, Mestre!  nós estamos perecendo!'
Sem dúvida, só nos lembramos de recorrer à proteção divina quando estamos atravessando momentos de perigo ou de intensas aflições, no caso, representadas pela tempestade e pela forte ventania. Ainda  alimentados pela ilusão do privilégio pessoal, gritamos por Jesus, fazendo "barulho" através de preces desesperadas e descontroladas, esperando, com essas atitudes, que Ele nos ouça. Fazemos questão de destacar que estamos sofrendo intensamente, que nossa dor é a mais importante, para que Ele logo nos atenda...
Levantou-se Ele e ordenou aos ventos e à fúria das águas que se acalmassem; e se acalmaram e logo veio a bonança.
Mesmo sabendo da nossa falta de confiança, Jesus não deixa de nos atender. E somente Ele possui poder para mobilizar todos os recursos necessários, materiais e espirituais, para acalmar nosso sofrimento. Nada acontece sem a permissão divina, assim como nenhum Espírito Benfeitor poderá atuar a nosso favor se não tiver a intercessão e a concessão de Jesus. Esse fato também nos ensina de que não adianta recorrermos às intercessões humanas, já que todos temos nossa tempestade individual a vencer.
Perguntou-lhes, então: 'Onde está a vossa fé?'.
Após a intensidade de nossas aflições se amenizar, é que nos damos conta de que nos faltou confiança. Mais calmos e equilibrados, verificamos que não ficamos sem a assistência divina; envergonhados e admirados, nos conscientizamos de que faltou fé. Não somente fé na providência divina mas também fé em nós mesmos. É o momento de saber se estamos colocando nossa fé mais nos homens do que em Jesus.
Eles, cheios de respeito e de profunda admiração, diziam uns aos outros: 'Quem é este a quem os ventos e o mar obedecem?'.
No tempo em que esse fato aconteceu, Jesus ainda era um grande enigma para os discípulos. Conviviam há pouco tempo com Ele; ainda não sabiam exatamente quem Ele era, qual o seu objetivo, qual a sua evolução espiritual. Infelizmente, isso ainda acontece. Ficamos admirados quando as nuvens de dores passam e a tranquilidade retorna em nossa vida, maravilhados  com o imenso poder divino... Jesus ainda é desconhecido para a Humanidade... Mas Ele nos conhece e sabe o quanto nos falta aprender em matéria de fé e confiança...
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Durante as tempestades e ventanias que sacodem nossa vida, quando achamos que não iremos aguentar, que estamos navegando sem direção, sem saber o que fazer, lembremo-nos dessa pergunta de Jesus - 'Onde está a vossa fé?' . Guardemos a certeza de que, nas tempestades da vida, nossa existência não é "um barquinho remando sem remo e sem luz". Temos e podemos contar sempre com a proteção de Jesus!

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