terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Não coloqueis a candeia sob o alqueire - Ari



Mesmo nos tempos da eletrônica, não perde a mensagem evangélica o seu vigor, bastando mudar as alusões a uma sociedade rural antiga, para a linguagem atual. Não se acende um foco de luz para escondê-lo mas sim para colocá-lo onde todos possam vê-lo e beneficiar-se da sua claridade.
A utilização das parábolas, quando Jesus ensinava não só aos ilustrados mas também aos camponeses, artesãos e pescadores, era um recurso para gravar no coração e na mente, mesmo dos mais simples, as mensagens que correspondiam à chegada de uma nova era na senda evolutiva da Humanidade. Assim, abrangem as parábolas quase todos os problemas humanos, sob os mais variados ângulos. Cabe a cada geração traduzi-las no contexto da sua época, pois as formas e comparações mudam, mantendo-se a essência espiritual e moral dos ensinamentos adequados ao estágio inaugurado pela descida do Cristo planetário, há dois mil anos, que ainda não se completou.

A revelação da verdade universal é gradual, dependendo do esforço dos homens, ao promoverem o contínuo progresso das ciências, da cultura, da filosofia. A face religiosa do ser humano é, assim, condicionada pelo acréscimo dos conhecimentos, já que a fé não conflita com a razão. Tendo os homens recebido de Deus a inteligência para compreender e para guiar-se nas coisas da Terra e do Céu, eles querem racionalizar a fé.
É então que não se deve ocultar a candeia debaixo do alqueire, porque sem a luz da razão a fé se enfraquece. As religiões tiveram os seus mistérios, procurando reservá-los aos seus sacerdotes e iniciados, que muitas os usaram como instrumento de dominação. Mas a Providência superior revela as verdades à medida que a Humanidade está amadurecida para recebê-las. Em muitos momentos da História estiveram as religiões em descompasso com a inteligência e a ciência, provocando em algumas mentes a descrença e o ateísmo.
Mas o inexorável avanço dos conhecimentos acaba por levantar os véus dos mistérios, conciliando a fé com a razão, a religiosidade com a ciência. Até os mecanismos de comunicação do mundo espiritual com os seres encarnados são ampliados com os avanços da tecnologia. Atualmente, desenvolve-se a psicotrônica, que consiste na utilização de equipamentos eletrônicos na transmissão direta de imagens e vozes dos entes desencarnados.

Devemos considerar, no entanto, que existem conhecimentos doutrinários mais abstratos e complexos, que eram tratados pelo Mestre com os seus discípulos, mais adiantados moral e intelectualmente, daí ter dito que "aos que já têm será dado ainda mais." Em todos os casos, qualquer que seja o grau da revelação do saber, há um padrão incontornável que afere a qualidade desses conhecimentos: eles estarão sempre submetidos à sua utilização para o bem, para o adiantamento moral, revestindo-se da caridade para com o próximo e da humildade.

Nos primórdios da difusão da doutrina do Cristo, disse ele aos apóstolos que buscassem primeiro os judeus, o que correpondia ao contexto histórico escolhido pela Providência, numa época em que
 o paganismo e a barbárie dominavam os demais povos. O passo seguinte foi a pregação aos gentios, ampliando o seu raio de disseminação, dando um caráter geral à mensagem renovadora. Como lembra Kardec, naquele tempo a Casa de Israel era um pequeno povo, os gentios eram os povos circunjacentes.
Hoje, as idéias se universalizam, a nova luz não é privilégio de nenhuma nação, não existindo mais barreiras, tendo ela seu foco em toda parte. No seu tempo, desafiava Jesus aos que colocavam fora do círculo dos que eram aceitos, os pecadores e os que exerciam profissões consideradas como impuras.
Dizia ele que não são os que gozam boa saúde mas os doentes que têm necessidade de médico. Ele se dirigia especialmente aos pobres e aos deserdados, porque são eles que têm maior necessidade de consolações; aos cegos humildes que pediam para ver e não aos orgulhosos que pensam possuir toda luz e não precisar de nada.

Hoje, essas dúvidas também existem na prática do Espiritismo. Discute-se a extensão que a faculdade mediúnica alcança, achando alguns que a mediunidade é concedida a pessoas indignas e capazes de fazer mau uso dela. Esclareça-se, no entanto, que a mediunidade resulta duma disposição orgânica da qual qualquer ser humano pode ser dotado, embora, como qualquer atributo, fica subordinado às leis cármicas. Em todo caso, Deus dá aos homens faculdades, mas deixa-os livres para usá-las, punindo aqueles que abusam delas.
A mediunidade é dada em grande escala, sem distinção, a fim de que os Espíritos possam levar a luz a todas as camadas, a todas as classes sociais, aos pobres como aos ricos. É necessário advertir que a mediunidade não implica necessariamente em relações habituais com os Espíritos superiores, mas é simplesmente uma aptidão para servir de instrumento às entidades em geral. O bom médium não é aquele que se comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e é assistido por eles. É nesse sentido que a excelência das qualidades morais é da maior importância na mediunidade.
O Evangelho fala também da necessária coragem para assumir diante dos homens a sua fé, afirmando que os que tiverem medo de se confessar discípulos da verdade não serão dignos de ser admitidos no reino da verdade. Aqui, como em tudo o mais, o MÉRITO existem em razão das circunstâncias e da importância do resultado.
Isto leva ao entendimento de que, considerando a universalidade das verdades espirituais, as afirmações de fé não podem ser objeto de posições sectárias nem provocar divisionismo nem disputas religiosas. Valem a compreensão e a difusão dos ensinos superiores no contexto das circunstâncias e o esforço da prática de uma elevada moral, pois a melhor predição é a que resulta do exemplo elevado.
Os que sacrificam os bens celestes aos gozos terrenos, já receberam aqui a sua recompensa. Os que suportam corajosamente as tribulações que sua fé lhes provoca, lutando pelo triunfo da verdade, receberão na vida futura o preço da sua coragem, da sua perseverança e da sua abnegação.
Baruch Ben Ari

Um comentário:

  1. Excelente seus comentários, muito bem embasados na Codificação e facilmente apreensíveis. Esta é a "candeia" que se eleva.
    Atenciosamente
    Ana Elizabeth

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